quinta-feira, 18 de junho de 2015

Cientistas portugueses baptizam nova galáxia CR7, inspirados em Cristiano Ronaldo

Foto: ESO
Com o auxílio do Very Large Telescope (VLT) do ESO os astrónomos descobriram a galáxia mais brilhante observada até hoje no Universo primordial e encontraram provas fortes de que este objecto contém estrelas da primeira geração.

Estas estrelas massivas e brilhantes, puramente teóricas até agora, foram as criadoras dos primeiros elementos pesados na história — os elementos necessários à formação das estrelas que nos rodeiam actualmente, os planetas que as orbitam e a vida tal como a conhecemos.

A galáxia recentemente descoberta chamada CR7 (COSMOS Redshift 7) é três vezes mais brilhante do que a galáxia distante mais brilhante que era conhecida até agora. O nome foi inspirado no jogador de futebol português, Cristiano Ronaldo, que é conhecido por CR7.

Os astrónomos desenvolveram há muito a teoria da existência de uma primeira geração de estrelas - conhecidas por estrelas de População III — que teriam nascido do material primordial do Big Bang. Todos os elementos químicos mais pesados — como o oxigénio, azoto, carbono e ferro, que são essenciais à vida — formaram-se no interior das estrelas, o que significa que as primeiras estrelas se devem ter formado dos únicos elementos que existiam antes delas: hidrogénio, hélio e traços mínimos de lítio.

Estas estrelas de População III seriam enormes — várias centenas ou mesmo milhares de vezes mais massivas do que o Sol — extremamente quentes e transientes — e explodiriam sob a forma de supernovas após cerca de apenas dois milhões de anos. No entanto, e até agora, a busca de provas físicas da sua existência tinha-se revelado infrutífera.

Uma equipa liderada por David Sobral, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, Universidade de Lisboa, e do Observatório de Leiden, Holanda, utilizou o VLT para observar o Universo primordial, no período conhecido por época da reionização, que ocorreu cerca de 800 milhões de anos após o Big Bang. Em vez de fazer um estudo profundo e direccionado a uma pequena área do céu, a equipa alargou o seu foco de estudo e produziu o maior rastreio de galáxias muito distantes alguma vez obtido.

Com a descoberta da CR7 e outras galáxias brilhantes, o estudo era já um sucesso, no entanto a investigação posterior produziu mais resultados ainda melhores. Com o auxílio dos instrumentos X-shooter e SINFONI montados no VLT, a equipa encontrou uma forte emissão de hélio ionizado na CR7 mas — crucial e surpreendentemente — nenhum traço de elementos mais pesados no seio da galáxia brilhante, o que constitui uma forte evidência da existência de enxames de estrelas de População III com gás ionizado, no seio de uma galáxia do Universo primordial.

“A descoberta superou, desde o início, todas as nossas expectativas,” disse David Sobral, “uma vez que não esperávamos encontrar uma galáxia tão brilhante. Seguidamente ao desvendarmos pouco a pouco a natureza da CR7, percebemos que não só tínhamos descoberto a galáxia distante mais brilhante conhecida até agora, como também que este objecto tinha todas as características que se esperam de estrelas de População III. Estas estrelas são as que formaram os primeiros átomos pesados que, em última análise, são os que nos permitem aqui estar. Este estudo revelou-se extremamente interessante.”

Jorry Matthee, segundo autor do artigo científico que descreve estes resultados, conclui: “Sempre me perguntei de onde é que nós vimos. Mesmo quando era pequeno queria saber donde vinham os elementos químicos: o cálcio dos meus ossos, o carbono dos meus músculos, o ferro do meu sangue. Descobri que estes elementos foram formados inicialmente no início do Universo, pela primeira geração de estrelas. Com esta descoberta estamos a ver, de facto, tais objectos pela primeira vez.” 


sábado, 6 de junho de 2015

Sonda euro-japonesa BepiColombo que vai estudar Mercúrio em 2024 tem tecnologia portuguesa


A sonda BepiColombo, cujo lançamento está previsto para Janeiro de 2017 e que tem como objectivo estudar Mercúrio, numa missão euro-nipónica, tem tecnologia portuguesa, da empresa Active Space Technologies.

A empresa lusa concebeu a mecânica e o isolamento térmico de um dos instrumentos. A Active Space Technologies, multinacional portuguesa especialista em tecnologia aeroespacial, esteve envolvida na concepção da estrutura do espectrómetro (instrumento óptico para medir as propriedades da luz numa determinada faixa do espectro electromagnético) que permitirá fazer a análise dos níveis de sódio da atmosfera do planeta.

O gestor de projectos da empresa, João Ricardo, explicou que foram usados materiais como alumínio e titânio para que o instrumento seja, ao mesmo tempo, leve e resistente, "sobreviva ao período de lançamento" e a "ciclos térmicos muito abruptos".

A sonda BepiColombo é um projecto das agências espaciais europeia ESA e japonesa JAXA e é composta por dois módulos, o Orbitador Planetário de Mercúrio, de desenho europeu, e o Orbitador Magnetosférico de Mercúrio, de concepção nipónica.

O espectrómetro em cuja construção a Active Space Technologies, com sede em Coimbra, participa é um dos cinco instrumentos que compõem o Orbitador Magnetosférico de Mercúrio. Enquanto o Orbitador Planetário de Mercúrio, que vai estar mais próximo do planeta, vai examinar a sua superfície, o Orbitador Magnetosférico de Mercúrio, numa órbita mais excêntrica, vai estudar a magnetosfera.

A missão BepiColombo, assim designada em homenagem ao cientista italiano Giuseppe (Bepi) Colombo (1920-1984), que desenvolveu estudos sobre Mercúrio, é a primeira missão europeia ao planeta mais pequeno e mais próximo do Sol.

A nova data de lançamento foi apontada para 27 de Janeiro de 2017. O custo da missão está estimado em 1.200 milhões de euros. A agência espacial europeia, da qual Portugal é um dos países-membros, espera que a sonda chegue a Mercúrio em Janeiro de 2024 e explore o planeta durante pelo menos um ano terrestre (o equivalente a quatro anos mercurianos), enfrentando temperaturas que podem exceder os 350ºC.

A agência espacial norte-americana NASA teve a sonda Messenger na órbita de Mercúrio durante quatro anos, mas esta chegou ao fim da sua vida no final de Abril de 2015. Ler mais aqui