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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Segunda fase do projecto Mars One começa em 2014: 200 mil candidatos para ir a Marte, apesar de o bilhete ser só de ida!


Em 2012, a empresa holandesa "Mars One" anunciou que vai organizar um reality-show televisivo, cujo grupo de oito finalistas (quatro homens e quatro mulheres) vão ser enviados para Marte em 2023, numa aventura em que se tornarão os primeiros turistas marcianos. Único senão da aventura, a viagem é só de ida.

As candidaturas estiveram abertas entre Março e Agosto deste ano e em apenas cinco meses a empresa "Mars One" recebeu a candidatura de 202 mil pessoas, de 140 países. Um quarto das candidaturas chegou dos Estados Unidos (24%), seguindo-se depois a Índia (10%), China (6%) e o Brasil (5%).

No seu site, a Mars One explica que nos próximos dois anos, até 2015, vai efectuar uma nova selecção, que passará por mais três fases. A primeira fase era a da candidatura, em que todos eram aceites.

A segunda fase começa em 2014 e implica que todos os candidatos devem sujeitar-se a exames médicos.

A terceira fase é a da selecção "regional", que deverá ser transmitida em formato "reality-show" na televisão e na internet ainda em 2014 ou no início de 2015. Haverá programas diferentes em cada "região" do globo e cada região será representada por 20 a 40 candidatos, que participarão em desafios, nos quais deverão provar que são aptos para serem os primeiros colonos marcianos. Os telespectadores vão escolher um vencedor por região e a empresa Mars One escolherá os restantes.

Para chegar à fase 4, um dos critérios é falar inglês. Os candidatos serão integrados em grupos internacionais e participarão num programa televisivo a difundir para todo o planeta, em que terão de demonstrar que conseguem sobreviver em condições extremas e hostis, e que conseguem colaborar com outros mesmo em condições muito difíceis.

O objectivo é conseguir apurar até ao final de 2015 entre seis e dez equipas de quatro elementos para um treino intensivo que vai durar sete anos.


Em 2023, uma dessas equipas será a primeira a ser enviada para Marte.

"A conquista de Marte é a etapa mais importante da história da Humanidade", considera Bas Lansdorp, engenheiro mecânico de 35 anos que criou a empresa "Mars One", decidido a prosseguir com a sua ideia, apesar do cepticismo dos especialistas.

Uma das particularidades do projecto é que, por enquanto, não há viagem de volta, impossível do ponto de vista técnico, explicou Lansdorp. O empresário avalia o custo da viagem em 6 biliões de dólares, mais de duas vezes os 2,5 biliões que custou a missão do Curiosity, da Nasa, que está em Marte desde Agosto d 2012.

A seleção dos astronautas marcianos, a sua vida diária em Marte e a viagem de sete meses vão ser mostrados durante o programa de televisão, cujas receitas de publicidade se destinam a financiar a aventura.

Lansdorp explica ter tido a ideia do financiamento do projecto ao conversar com o compatriota Paul Römer, um dos criadores do reality show Big Brother, exibido pela primeira vez na Holanda, em 1999.

Alguns cientistas insurgiram-se com este projecto e questionam-se sobre a sua ética, já que Mars One propõe claramente enviar seres humanos para uma morta quase certa, num planeta desconhecido e hostil.

Os cientistas põem em causa até a possibilidade técnica do projecto, denunciam que o empresário quer apenas retirar verbas chorudas da publicidade que o programa vai gerar, para depois dizer no final que a aventura não será possível. No entanto, o projecto já mereceu o apoio de um outro holandês, Gerard't Hoofd, Prémio Nobel de Física em 1999, o que deu credibilidade ao projecto Mars One.

"Sempre houve aventureiros para lançar viagens no desconhecido. Pensemos nos vikings que foram para a América, em Cristóvão Colombo", argumentou Lansdorp, em declarações à AFP.

Lansdorp, que trabalhou com energia eólica, admite que falta concretizar vários aspectos do projecto. Só a metade das missões das grandes agências espaciais lançadas desde 1960 para pousar em Marte teve sucesso.

O dono da "Mars One" prevê criar no planeta uma colónia a partir de 2023.

O presidente americano, Barack Obama, estabeleceu como meta da Nasa enviar homens a Marte antes de 2030.

Bas Lansdorp e a sua equipa, formada por um físico, um designer industrial e um especialista de comunicação empresarial, contam em manter o controlo sobre a "coordenação geral" do projecto, mas a realização técnica ficará a cargo de empresas privadas especializadas.

Calendarização do projecto

A selecção e o treino dos candidatos astronautas começa em 2013 e o envio dos módulos habitacionais, das provisões e dos veículos robotizados está previsto acontecer entre 2016 e 2022.

Em Abril de 2023, está previsto que os primeiros quatro primeiros homens e mulheres da missão "Mars One" pisem o solo de Marte.

Outros astronautas - 21 no total, até 2033 - juntar-se-ão à colónia.

A temperatura média no planeta Marte é de 55 graus abaixo de zero e a atmosfera é composta de 95% de dióxido de carbono (CO2).

Os astronautas da Mars One terão como missão instalar a primeira colónia humana em Marte e levar a cabo pesquisas científicas. O oxigénio deverá ser produzido a partir da água presente sob a forma de gelo no subsolo marciano.

"Penso que restam perguntas que não têm sido examinadas em profundidade", avalia Chris Welch, professor de engenharia espacial da International Space University (ISU), sediada em Estrasburgo (Alsácia, França). "De um ponto de vista técnico, diria que as hipóteses reais de sucesso são 50-50", acrescentou Welch, explicando que a produção de oxigénio a partir do gelo é "possível em teoria", embora extremamente incerta.