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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Brilho anormal de estrela KIC 8462852 pode ser objecto extraterrestre

Captada pela sonda Kepler, da Nasa, a luz da estrela KIC 8462852, situada a cerca de 1.500 anos-luz da Terra, está a emitir um brilho anormal, o que está a causar alvoroço na comunidade científica
Imagem: Nasa
A forma estranha como a luz de uma estrela está a ser emitida levou astrónomos a especular que pode tratar-se de um objecto extraterrestre.

A notícia já foi divulgada por órgãos como o The Guardian, BBC, CNN ou agências de notícias como a AFP.

A estrela KIC 8462852, a cerca de 1.480 anos-luz da Terra (no nosso céu, na Constelação do Cisne), emite um brilho anormal, o que está a causar alvoroço na comunidade científica internacional, na imprensa e nas redes sociais.

O dados foram captados durante quatro anos (2009-2013) pela sonda Kepler, da Nasa. Tudo começou com a interpretação do fenómeno por um astrónomo americano, Jason Wright, da Penn State University.

Incapaz de dar uma explicação natural ao fenómeno, Wright aventou a hipótese de que as flutuações irregulares no brilho da estrela poderiam ser “mega-estruturas” a orbitar em torno do astro, e que, a ser artificiais, só poderiam ser “de origem extraterrestre”. Wright também relativiza: “A hipótese de o objecto ser de origem extraterrestre deve ser a última a ser avançada, mas não deve ser ignorada”.Isto bastou para que a notícia corresse mundo.

O que as observações da sonda Kepler mostram é que algo provoca perturbações irregulares na luz da estrela KIC 8462852 de forma periódica. O que afasta a hipótese de se tratar de um planeta, diz Wright.

Outros cientistas dizem que se pode tratar de um fenómeno natural, como fragmentos de planetas que colidiram ou detritos de cometas. Em termos comparativos, é preciso explicar que se o objecto em questão fosse do tamanho de Júpiter (o maior planeta do nosso Sistema Solar, dez vezes maior que a Terra), obstruiria a luz da estrela KIC 8462852 em cerca de 1%. Mas o objecto em torno daquele astro obstrói a estrela em cerca de 15%. O que deixa os astrónomos sem explicação.

Uma das hipóteses avançadas para o brilho estranho da estrela KIC 8462852 é a luz está a ser perturbada por fragmentos de cometas Imagem: Nasa


O artigo de Jason Wright “é muito consistente”, disse à AFP Jean Schneider, do Observatório de Paris. “Os autores são muito sérios e reconhecidos nesta área” e “a sua hipótese é coerente”. Já Steve Howell, cientista-chefe da missão Kepler, mostrou-se mais céptico. “Dizer imediatamente que se trata de extraterrestres é muito precipitado”, escreveu num email à AFP.

Desde então, a especulação cresceu para evocar uma nave espacial, uma construção ou uma frota alienígena. “Fenómenos estranhos, na astronomia, existem desde sempre”, recorda Schneider. “Nos cientistas, há uma reflexão sobre os extraterrestres que é relevante, que não tem nada de ilógico ou delirante”, considera o astrónomo.

Por seu lado, Wright considera que as perturbações no brilho da estrela podem dever-se à presença de uma Esfera de Dyson. A Esfera de Dyson é uma hipótese descrita pelo físico Freeman Dyson em 1960. Em busca de um meio para localizar civilizações extraterrestres muito avançadas, Dyson especulou que estas seriam capazes de construir uma esfera que envolvesse a estrela para se alimentar em energia a partir do astro. “[A Esfera de Dyson] é algo plausível”, afirma Schneider.

Entretanto, o Instituto SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence, em inglês) – que há 50 anos tenta captar através de rádio-telescópios sinais de rádio de baixa frequência no espaço, à procura de vida inteligente extraterrestre – obteve autorização para apontar os seus aparelhos na direcção do astro. Esperam-se assim novas observações em Janeiro e Maio de 2016, que possam levar a alguma conclusão.

FENÓMENOS INEXPLICADOS ALIMENTAM A IMAGINAÇÃO 

Em 1877, Giovanni Schiaparelli e Percival Lowell, dois reputados astrónomos na época, observaram linhas escuras na superfície de Marte e pensaram que uma civilização avançada tinha ali construído um vasto sistema de irrigação. Foi o que fez nascer o mito dos canais de Marte e dos marcianos. Em 1909, um novo telescópio captou imagens mais nítidas de Marte. Foi o fim do sonho: nenhum vestígio de canais, a origem das linhas era natural.

Em 1967, os rádio-astrónomos Jocelyn Bell e Antony Hewish detectaram um sinal desconhecido: a sua extrema regularidade e periodicidade também sugeria extraterrestres. O sinal foi chamado, durante um tempo, LGM-1, para ’Little Green Men-1’ (homenzinhos verdes). Mas ao ser analisado, descobriu-se que o sinal era causado por um pulsar.

O único fenómeno captado do espaço que continua até hoje sem explicação é o “sinal Wow” (o astrónomo que captou o sinal anotou “Wow” junto ao registo, para assinalar o seu espanto). ’Wow’ foi um sinal rádio muito potente, emitido em banda estreita (10 khz), captado em 15 de Agosto de 1977 pelo rádio-telescópio The Big Ear, da Universidade do Ohio. Pensa-se que a sua origem estivesse na estrela Chi1 Sagitarii, na Constelação do Sagitário. Durou 72 segundos e nunca mais foi ouvido.

A procura de vida extraterrestre continua

Em Julho deste ano, um projecto de procura de vida extraterrestre, chamado "Breakthrough Listen", foi lançado pela seríssima Royal Society Science Academy de Londres. Um projecto científico orçado em 100 milhões de dólares.

Regularmente, "é preciso fazer uma reflexão sobre a existência de outras civilizações, é algo lógico", acredita Jean Schneider, "não há nada a partir de um ponto de vista científico que permita descartar a sua existência".

JLC / com agências 
in CONTACTO, 28/10/2015