sábado, 26 de outubro de 2013
"Gravity", de Alfonso Cuarón
À primeira vista, um filme sobre astronautas a trabalhar na ISS na órbita da Terra podia deixar pensar que nos iríamos aborrecer. É o que costuma acontecer a quem assiste aos diferidos das missões da Nasa, quando difundidas na televisão no Science ou no Discovery Channel.
Mas o filme é um bom compromisso entre realismo e entretenimento, graças ao talento do realizador Alfonso Cuarón e de actores como George Clonney e Sandra Bullock. Temos o astronauta veterano (Clooney), com as suas piadas que tentam aligeirar o perigo constante que é trabalhar no espaço, e temos a "rookie" (Bullock), que está a fazer o seu baptismo no vazio. Mas o realizador não parece interessado em explorar em profundidade as personagens, como se fossem meros actores secundários.
Uma das coisas que mais me impressionou foram os silêncios. Porque no espaço não havendo ar, não há som. Por vezes, o único ruído que o astronauta ouve é a sua própria respiração. Respirar também é uma palavra-chave neste filme. Nunca um "huit clos" claustrofóbico se desenrolou num espaço tão vasto e tão aberto. A sensação de podermos sufocar a cada segundo é permanente.
Ficamos também de respiração cortada quando o filme nos enche os olhos de imagens fantásticas, lindíssimas do nosso planeta, do contorno dos continentes nos oceanos, das montanhas que vistas de cima parecem baixos relevos, das nuvens brancas e imensas derivando, das cores intensas de que a nossa Terra é feita quando comparadas com o pano de fundo escuro, negro, sem luz e sem cor do espaço que a rodeia e de quão pequenos somos ao lado da imensidade da criação e do Universo.
Outro dos pontos positivos deste filme é que nos mostra que apesar de a corrida ao espaço ter começado há 60 anos, apesar de já termos construído uma estação internacional a orbitar em volta da Terra e de colocarmos diariamente em órbita satélites, ainda estamos muito longe de dominarmos completamente o voo espacial, somos ainda pioneiros de uma bela história por escrever, somos Vascos da Gama e Bartolomeus Dias que mal deixaram a praia, e as viagens intergalácticas, que nos parecem óbvias e fáceis porque assim nos habituou a ficção-científica, não o são e, muito pelo contrário, qualquer gesto em falso no vazio pode ser-nos fatal.
Uma das outras personagens importantes do filme é a que dá título à obra, a gravidade, que nos acompanha das "margens do oceano cósmico", como gostava de lhe chamar Carl Sagan, até às águas do lago na cena final do filme. No derradeiro instante, a personagem principal cede o grande plano à areia, à t(T)erra, à gravidade, que é afinal a verdadeira protagonista deste filme.
JLCorreia
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