quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Europa lança satélite para procurar ondas gravitacionais teorizadas por Einstein

Lisa Pathfinder Imagem: CNES
A Europa lança hoje a partir da Guiana francesa um satélite destinado a preparar caminho a um futuro observatório espacial para detectar as famosas ondas gravitacionais teorizadas por Albert Einstein.

As ondas gravitacionais são ondulações no espaço e no tempo previstas pela Teoria da Relatividade desenvolvida pelo físico Albert Einstein.

Actualmente, observatórios instalados em países como os EUA ou a Itália procuram encontrar provas concretas da existência destas ondas gravitacionais que se propagam à velocidade da luz.

“Ter um observatório no espaço vai permitir ver grandes deslocações de massa no universo, acontecimentos muito violentos como uma colisão de galáxias e a fusão de dois buracos negros”, explicou, citado pela AFP, o físico francês Pierre Binétruy, da Universidade de Paris – Diderot.

O físico adiantou que se espera alcançar uma “reconstrução histórica do Universo” e regressar a “eventos muito importantes” que se seguiram ao Big Bang - a teoria dominante do desenvolvimento inicial do universo.

Baptizado como LISA, o observatório pode vir a ser uma realidade em 2030 se o satélite LISA Pathfinder (batedor ou desbravador) conseguir desempenhar o papel que se espera.

sábado, 14 de novembro de 2015

Exoplaneta rochoso com atmosfera detectado a 39 anos-luz

A proximidade à sua estrela faz de GJ 1132b um planeta semelhante a Vénus
Uma equipa internacional, da qual faz parte o astrofísico português Nuno Cardoso Santos, investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), publicou na revista Nature,  a descoberta do exoplaneta GJ 1132b, que os investigadores julgam ser semelhante a Vénus, a apenas 39,14 anos-luz de distância da Terra.

O planeta GJ 1132b recebe 19 vezes mais radiação da sua estrela que a Terra recebe do Sol, mas a estrela GJ 1132 é uma anã vermelha (também designadas anãs M), com 20% do tamanho do Sol, e por isso calcula-se que a temperatura do planeta estará apenas entre 135º C e 305 º C.

Esta temperatura é muito mais baixa que a de qualquer outro exoplaneta rochoso conhecido. Apesar de a temperatura ser demasiado elevada para que exista água líquida no planeta, permite ainda a presença de uma atmosfera.

Dada à sua proximidade, se existir uma atmosfera, será possível para telescópios actuais e da próxima geração (como o telescópio espacial James Webb, ou o E-ELT do ESO), observarem e caracterizarem a atmosfera deste planeta.

Assim, será possível saber a influência que as forças de maré e a intensa actividade estelar das anãs vermelhas têm sobre a evolução de atmosferas do tipo terrestre, algo que terá impacto a longo prazo na procura de vida em planetas que orbitam este tipo de estrelas.

O GJ 1132b foi descoberto através do método dos trânsitos (consiste na medição da diminuição da luz de uma estrela, provocada pela passagem de um exoplaneta à frente dessa estrela, algo semelhante a um micro-eclipse), com observações do observatório MEarth-South. 

Para determinar a massa do planeta, que em conjunto com o diâmetro permite calcular a densidade e com isso determinar a sua composição rochosa, a equipa aplicou o método das velocidades radiais (deteta exoplanetas medindo pequenas variações na velocidade radial da estrela, devidas ao movimento que a órbita desses planetas imprime na estrela) a observações efetuadas com o espectrógrafo HARPS.

“Esta descoberta mostra a importância de ter a capacidade para complementar observações de trânsitos com medidas de velocidades radiais, uma complementaridade que será fundamental para o sucesso de missões futuras como o PLATO2.0, da ESA”, diz Nuno Santos (IA e Universidade do Porto):.

Todas estas observações permitiram determinar que o planeta tem 1,6 vezes a massa e 1,2 vezes o diâmetro da Terra, e orbita a sua estrela em apenas 1,6 dias, a uma distância de 2,25 milhões de quilómetros (por comparação, Mercúrio orbita o Sol a cerca de 55 milhões de quilómetros).

Dada a sua proximidade, “este planeta será um alvo favorito dos astrónomos durante anos”, acrescenta o primeiro autor do artigo, Zachory Berta-Thompson do MIT.

Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço
Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Xenonit, um passo de gigante na procura de matéria escura


A colaboração internacional XENON, de que faz parte uma equipa de cientistas da Universidade de Coimbra (UC), acaba de inaugurar o XENON1T, um instrumento com sensibilidade sem precedentes para a detecção de matéria escura.

A colaboração internacional XENON é constituída por 20 grupos de investigação dos EUA, Alemanha, Portugal, Suíça, França, Holanda, Suécia, Israel e Abu Dhabi.

A inauguração teve lugar no Laboratório Nacional de Gran Sasso (LNGS), um dos maiores laboratórios subterrâneos a nível mundial, situado em Assergi, Itália. A instalação consiste num tanque de água com 10 m de diâmetro e 10 m de altura, onde está instalado o XENON1T, e no edifício de serviços, em vidro e com três andares, de apoio ao funcionamento do sistema.

A matéria escura "é um dos ingredientes principais do Universo, cerca de 100 mil destas partículas passam a cada segundo pela cabeça de um dos nossos dedos, mas apesar da sua abundância, ainda não foram observadas por qualquer das dezenas de experiências que se têm feito por todo o mundo nas últimas décadas, o que significa que são necessários instrumentos com maior sensibilidade para registar este tipo de matéria", explica José Matias Lopes, coordenador da equipa portuguesa.

O XENON1T utiliza o "gás raro xénon como material para detecção da matéria escura, arrefecido a –95°C para se tornar líquido, num total de 3,5 toneladas".

"Para se poder identificar os raríssimos sinais esperados, os cientistas da colaboração criaram o ambiente com a menor radioactividade que já alguma vez existiu no planeta Terra", sublinha o investigador da UC.

Quando estiver a funcionar a 100% da sua capacidade, o XENON1T será o instrumento mais sensível para a detecção de matéria escura, o que se espera que aconteça no início de 2016.

Projecta-se que este aparelho atinja os objetivos traçados no prazo de dois anos, nomeadamente a descoberta da matéria escura.

Portugal é parceiro desta colaboração desde 2005, através da equipa da UC, composta por cinco cientistas e dois engenheiros do LIBPhys do Departamento de Física.

Cristina Pinto (Universidade de Coimbra)
Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva

sábado, 7 de novembro de 2015

VISTA descobre disco de estrelas jovens no bojo central da Via Láctea

Imagem: ESO
Com o auxílio do telescópio VISTA instalado no Observatório do Paranal do ESO, os astrónomos descobriram uma componente anteriormente desconhecida da Via Láctea.

Ao mapear a localização de uma classe de estrelas que variam em brilho chamadas Cefeides, foi descoberto um disco de estrelas jovens enterradas por detrás de espessas nuvens de poeira no bojo central.

O rastreio público do 'ESO VISTA Variables in the Vía Láctea' (VVV) usa o telescópio VISTA instalado no Observatório do Paranal para obter imagens múltiplas em épocas diferentes das regiões centrais da nossa galáxia nos comprimentos de onda do infravermelho.

O rastreio está a descobrir uma enorme quantidade de novos objectos, incluindo estrelas variáveis, enxames e estrelas em explosão (eso1101, eso1128, eso1141). Uma equipa de astrónomos, liderada por Istvan Dékány, da Pontificia Universidad Católica de Chile, utilizou dados deste rastreio, obtidos entre 2010 e 2014, para fazer uma descoberta notável — uma componente anteriormente desconhecida da Via Láctea.

 “Pensa-se que o bojo central da Via Láctea é constituído por imensas estrelas velhas. No entanto, os dados VISTA revelaram algo novo — e muito jovem em termos astronómicos!” diz Istvan Dékány, autor principal deste novo estudo.

Ao analisar os dados do rastreio, os astrónomos descobriram 655 candidatos a estrelas variáveis do tipo a que chamamos Cefeides. Estas estrelas expandem-se e contraem-se periodicamente, levando entre alguns dias a meses a completar um ciclo e apresentando variações significativas de brilho durante o ciclo.

O tempo que uma Cefeide leva a tornar-se muito brilhante e depois a desvanecer outra vez é maior para as estrelas que são mais brilhantes e menor para as que são mais ténues. Esta relação precisa notável, descoberta em 1908 pela astrónoma americana Henrietta Swan Leavitt, faz do estudo das Cefeides um dos meios mais eficazes de medir distâncias e mapear as posições de objectos distantes na Via Láctea e para além dela.

Centro da Via Láctea tem vivido reabastecimento de novas estrelas

No entanto, há um senão — as Cefeides não são todas iguais — pertencem a duas classes diferentes, uma muito mais jovem que a outra. Da amostra de 655 objectos observados, a equipa identificou 35 estrelas pertencentes ao sub-grupo das Cefeides clássicas — estrelas brilhantes e jovens, muito diferentes das mais velhas normalmente residentes no bojo central da Via Láctea.

A equipa recolheu informação sobre o brilho e período de pulsação destes objetos e deduziu as distâncias a estas 35 Cefeides clássicas. Os períodos de pulsação, que estão intimamente ligadas à idade, revelaram a juventude surpreendente destas Cefeides.

“As 35 Cefeides clássicas descobertas têm menos de 100 milhões de anos de idade. As Cefeides mais jovens podem mesmo ter apenas cerca de 25 milhões de anos, embora não possamos excluir a presença de Cefeides ainda mais jovens e brilhantes,” explica o segundo autor do estudo Dante Minniti, da Universidad Andres Bello, Santiago, Chile.

As idades destas Cefeides clássicas fornecem evidências sólidas de que tem havido um reabastecimento contínuo, não confirmado anteriormente, de estrelas recém-formadas na região central da Via Láctea nos últimos 100 milhões de anos. 

Esta não foi, no entanto, a única descoberta notável feita a partir desta base de dados do rastreio.

Disco de estrelas jovens descoberto ao logo do bojo galáctico

Ao mapear as Cefeides descobertas, a equipa traçou uma estrutura completamente nova na Via Láctea — um disco fino de estrelas jovens que se estende ao longo do bojo galáctico.

Esta nova componente da nossa galáxia tinha permanecido desconhecida e invisível em rastreios anteriores, uma vez que está enterrada por trás de espessas nuvens de poeira. A sua descoberta demonstra o poder único do VISTA, que foi precisamente concebido para estudar as estruturas profundas da Via Láctea através de imagens de grande angular de alta resolução nos comprimentos de onda do infravermelho.

“Este estudo é uma demonstração poderosa das capacidades inigualáveis do telescópio VISTA para investigar as regiões galácticas extremamente obscuras que não podem ser observadas por nenhuns outros rastreios atuais ou planeados.” comenta Dékány.

“Esta parte da galáxia era completamente desconhecida até o rastreio VVV a ter encontrado!” acrescenta Minniti.

Investigação subsequente é agora necessária para determinar se estas Cefeides nasceram próximo do local onde se encontram actualmente ou se tiveram origem noutro local. Compreender as suas propriedades fundamentais, interacções e evolução é crucial para compreender a evolução da Via Láctea e os processos da evolução galáctica como um todo.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

ESO revela novas imagens da Nebulosa do Saco de Carvão

Manchas escuras bloqueiam quase completamente um rico campo estelar numa nova imagem obtida pelo instrumento Wide Field Camera, instalado no telescópio MPG/ESO de 2,2 metros no Observatório de La Silla, no Chile.

As áreas escuras são pequenas partes de uma enorme nebulosa escura chamada Saco de Carvão, um dos objectos mais proeminentes do seu tipo, visível a olho nu.

Daqui a milhões de anos, bocados deste Saco de Carvão irão entrar em combustão, um pouco como o combustível fóssil com o mesmo nome, com o brilho de muitas estrelas jovens.

A Nebulosa do Saco de Carvão situa-se a cerca de 600 anos-luz de distância na constelação do Cruzeiro do Sul. Este enorme objecto poeirento forma uma silhueta conspícua sobre a banda estrelada brilhante da Via Láctea e é por isso que esta nebulosa é conhecida dos povos do hemisfério sul desde que a humanidade caminha sobre a Terra.

"Nuvem de Magalhães Preta"

O explorador espanhol Vicente Yáñez Pinzón foi o primeiro a assinalar aos europeus a presença da Nebulosa do Saco de Carvão em 1499. A Nebulosa do Saco de Carvão tomou seguidamente a alcunha de Nuvem de Magalhães Preta, devido à sua aparência escura quando comparada com o brilho intenso das duas Nuvens de Magalhães, que são na realidade galáxias satélite da Via Láctea.

Estas duas galáxias brilhantes são claramente visíveis no céu austral, tendo chamado a atenção dos europeus durante as explorações de Fernão de Magalhães no século XVI.

No entanto, a Nebulosa do Saco de Carvão não é uma galáxia. Como outras nebulosas escuras, trata-se de uma nuvem interestelar de poeira tão espessa que não permite que a maioria da radiação emitida pelas estrelas de fundo chegue até aos observadores.

Um número significativo de partículas de poeira nas nebulosas escuras estão cobertas de gelo de água, azoto, monóxido de carbono e outras moléculas orgânicas simples. Estes grãos impedem que a radiação visível passe através da nuvem cósmica.

Para se ter uma ideia de quão escura é a Saco de Carvão, nos anos 1970 o astrónomo finlandês Kalevi Mattila publicou um estudo que estimava que a Nebulosa do Saco de Carvão possuía apenas cerca de 10% do brilho da Via Láctea, que a envolve. Uma pequena parte da radiação estelar de fundo consegue no entanto passar através da nebulosa, como mostra esta nova imagem do ESO e outras observações obtidas por telescópios modernos. Esta pequena quantidade de radiação que passa através da nebulosa não sai do outro lado sem ter sido modificada.

A radiação que vemos nesta imagem parece mais vermelha do que seria normalmente. Este efeito deve-se ao facto da poeira nas nebulosas escuras absorver e dispersar mais a radiação azul das estrelas do que a radiação vermelha, “pintando” as estrelas de vários tons mais avermelhados do que seriam de outro modo.

Daqui a milhões de anos os dias negros da Saco de Carvão chegarão ao fim. Nuvens interestelares espessas como a Saco de Carvão contêm muito gás e poeira — o combustível de novas estrelas. À medida que o material disperso na nebulosa coalesce sob o efeito da gravidade, as estrelas formam-se e começam a brilhar, fazendo com que os “nodos” de carvão “incendeiem”, quase como se tivessem sido tocados por uma chama.

Texto e foto: ESO

sábado, 31 de outubro de 2015

Asteróide gigante vai roçar a Terra neste sáabdo, dia 31 de Outubro


Um asteróide de grande dimensões, descoberto há menos de um mês, dirige-se rapidamente em direcção à Terra, devendo roçar o nosso planeta este sábado, 31 de Outubro, mas os astrónomos da NASA asseguram que não haverá perigo de colisão.

Segundo a agência espacial norte-americana NASA, o asteróide 2015 TB145 é aproximadamente do tamanho de um estádio de futebol e move-se a uma velocidade "anormalmente elevada" de 78 mil milhas por hora (126 mil quilómetros por hora).

De acordo com as primeiras estimativas da "Earth and Sky", a página internet especializada em questões de astronomia, a rocha espacial terá cerca de 470 metros de diâmetro.

A NASA prevê que este asteróide possa ser o maior corpo cósmico conhecido a aproximar-se do planeta Terra até ao ano de 2027.

"Se o tamanho estiver correcto, o novo asteróide encontrado é 28 vezes maior que o meteoro Chelyabinsk, que entrou na atmosfera terrestre, sobre a Rússia, em Fevereiro de 2013", lê-se na 'Earth and Sky'.

O corpo cósmico deverá passar a uma distância de aproximadamente 500 mil quilómetros, o equivalente a 1,3 vez a distância entre a Terra e a Lua, segundo cálculos dos astrónomos. Os especialistas afirmam que a observação apenas será possível com o auxílio de telescópios.

Prevê-se que a passagem mais próxima da Terra ocorra às 15h14 GMT (+ 1 h no Luxemburgo) do dia 31 de Outubro, Halloween ou Dia das Bruxas.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

ESA: Detectado pela primeira vez oxigénio num cometa - "Churi"


Moléculas de oxigénio foram detectadas pela primeira vez num cometa, o 67P/Churyumov-Gerasimenko, uma descoberta que surpreendeu os cientistas e pode rever os modelos sobre a formação do Sistema Solar, divulgou esta semana a agência espacial europeia ESA.

 "Não estávamos propriamente à espera de encontrar oxigénio no cometa - e em tamanha abundância - porque o oxigénio é tão quimicamente reactivo. Logo, foi totalmente uma surpresa", afirmou, citada num comunicado da ESA, a investigadora Kathrin Altwegg, da Universidade de Berna, na Suíça, que está envolvida na missão da sonda europeia Rosetta, que estuda o cometa 67P.

Segundo a cientista, a descoberta sugere que as moléculas de oxigénio podem ter sido incorporadas no cometa, durante a sua formação, o que "não é facilmente explicado pelos actuais modelos de formação do Sistema Solar".

Os resultados da investigação foram publicados na revista Nature e revelam que o oxigénio molecular encontrado na atmosfera (coma ou cabeleira) do cometa poderá ser mais antigo do que o Sistema Solar, que data de há mais de quatro mil milhões de anos.

Em declarações à agência AFP, o co-autor do estudo André Bieler, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, admitiu que será talvez necessário "mudar os modelos atuais sobre a formação do Sistema Solar", uma vez que "não prevêem a presença de oxigénio molecular num cometa".

Trata-se da primeira vez que é detectado oxigénio molecular num cometa. A presença deste gás já tinha sido confirmada noutros corpos celestes gelados, como as luas de Júpiter e de Saturno.

O espectrómetro Rosina, um dos instrumentos-chave da sonda Rosetta, fez medições do gás entre Setembro de 2014 e Março de 2015, quando o cometa 67P se aproximava do Sol. Rosina encontrou cerca de 4% de oxigénio molecular (em relação ao vapor de água) no coma do cometa, com a taxa a manter-se estável ao fim de meses. O oxigénio é o quarto gás mais significativo no 67P, depois do vapor de água, do monóxido de carbono e do dióxido de carbono.

Para os cientistas, tal não significa que há vida no cometa. Porém, acreditam que os cometas transportaram elementos essenciais à vida para a Terra, durante a sua formação. Apesar de o oxigénio ser o terceiro elemento mais abundante no Universo, a sua versão molecular é difícil de detectar, mesmo nas nuvens de gás e poeira onde nascem as estrelas, pois o oxigénio é bastante reactivo, "parte-se" para se unir a outros átomos e moléculas (ao combinar-se com átomos de hidrogénio, forma a água, por exemplo).

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Brilho anormal de estrela KIC 8462852 pode ser objecto extraterrestre

Captada pela sonda Kepler, da Nasa, a luz da estrela KIC 8462852, situada a cerca de 1.500 anos-luz da Terra, está a emitir um brilho anormal, o que está a causar alvoroço na comunidade científica
Imagem: Nasa
A forma estranha como a luz de uma estrela está a ser emitida levou astrónomos a especular que pode tratar-se de um objecto extraterrestre.

A notícia já foi divulgada por órgãos como o The Guardian, BBC, CNN ou agências de notícias como a AFP.

A estrela KIC 8462852, a cerca de 1.480 anos-luz da Terra (no nosso céu, na Constelação do Cisne), emite um brilho anormal, o que está a causar alvoroço na comunidade científica internacional, na imprensa e nas redes sociais.

O dados foram captados durante quatro anos (2009-2013) pela sonda Kepler, da Nasa. Tudo começou com a interpretação do fenómeno por um astrónomo americano, Jason Wright, da Penn State University.

Incapaz de dar uma explicação natural ao fenómeno, Wright aventou a hipótese de que as flutuações irregulares no brilho da estrela poderiam ser “mega-estruturas” a orbitar em torno do astro, e que, a ser artificiais, só poderiam ser “de origem extraterrestre”. Wright também relativiza: “A hipótese de o objecto ser de origem extraterrestre deve ser a última a ser avançada, mas não deve ser ignorada”.Isto bastou para que a notícia corresse mundo.

O que as observações da sonda Kepler mostram é que algo provoca perturbações irregulares na luz da estrela KIC 8462852 de forma periódica. O que afasta a hipótese de se tratar de um planeta, diz Wright.

Outros cientistas dizem que se pode tratar de um fenómeno natural, como fragmentos de planetas que colidiram ou detritos de cometas. Em termos comparativos, é preciso explicar que se o objecto em questão fosse do tamanho de Júpiter (o maior planeta do nosso Sistema Solar, dez vezes maior que a Terra), obstruiria a luz da estrela KIC 8462852 em cerca de 1%. Mas o objecto em torno daquele astro obstrói a estrela em cerca de 15%. O que deixa os astrónomos sem explicação.

Uma das hipóteses avançadas para o brilho estranho da estrela KIC 8462852 é a luz está a ser perturbada por fragmentos de cometas Imagem: Nasa


O artigo de Jason Wright “é muito consistente”, disse à AFP Jean Schneider, do Observatório de Paris. “Os autores são muito sérios e reconhecidos nesta área” e “a sua hipótese é coerente”. Já Steve Howell, cientista-chefe da missão Kepler, mostrou-se mais céptico. “Dizer imediatamente que se trata de extraterrestres é muito precipitado”, escreveu num email à AFP.

Desde então, a especulação cresceu para evocar uma nave espacial, uma construção ou uma frota alienígena. “Fenómenos estranhos, na astronomia, existem desde sempre”, recorda Schneider. “Nos cientistas, há uma reflexão sobre os extraterrestres que é relevante, que não tem nada de ilógico ou delirante”, considera o astrónomo.

Por seu lado, Wright considera que as perturbações no brilho da estrela podem dever-se à presença de uma Esfera de Dyson. A Esfera de Dyson é uma hipótese descrita pelo físico Freeman Dyson em 1960. Em busca de um meio para localizar civilizações extraterrestres muito avançadas, Dyson especulou que estas seriam capazes de construir uma esfera que envolvesse a estrela para se alimentar em energia a partir do astro. “[A Esfera de Dyson] é algo plausível”, afirma Schneider.

Entretanto, o Instituto SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence, em inglês) – que há 50 anos tenta captar através de rádio-telescópios sinais de rádio de baixa frequência no espaço, à procura de vida inteligente extraterrestre – obteve autorização para apontar os seus aparelhos na direcção do astro. Esperam-se assim novas observações em Janeiro e Maio de 2016, que possam levar a alguma conclusão.

FENÓMENOS INEXPLICADOS ALIMENTAM A IMAGINAÇÃO 

Em 1877, Giovanni Schiaparelli e Percival Lowell, dois reputados astrónomos na época, observaram linhas escuras na superfície de Marte e pensaram que uma civilização avançada tinha ali construído um vasto sistema de irrigação. Foi o que fez nascer o mito dos canais de Marte e dos marcianos. Em 1909, um novo telescópio captou imagens mais nítidas de Marte. Foi o fim do sonho: nenhum vestígio de canais, a origem das linhas era natural.

Em 1967, os rádio-astrónomos Jocelyn Bell e Antony Hewish detectaram um sinal desconhecido: a sua extrema regularidade e periodicidade também sugeria extraterrestres. O sinal foi chamado, durante um tempo, LGM-1, para ’Little Green Men-1’ (homenzinhos verdes). Mas ao ser analisado, descobriu-se que o sinal era causado por um pulsar.

O único fenómeno captado do espaço que continua até hoje sem explicação é o “sinal Wow” (o astrónomo que captou o sinal anotou “Wow” junto ao registo, para assinalar o seu espanto). ’Wow’ foi um sinal rádio muito potente, emitido em banda estreita (10 khz), captado em 15 de Agosto de 1977 pelo rádio-telescópio The Big Ear, da Universidade do Ohio. Pensa-se que a sua origem estivesse na estrela Chi1 Sagitarii, na Constelação do Sagitário. Durou 72 segundos e nunca mais foi ouvido.

A procura de vida extraterrestre continua

Em Julho deste ano, um projecto de procura de vida extraterrestre, chamado "Breakthrough Listen", foi lançado pela seríssima Royal Society Science Academy de Londres. Um projecto científico orçado em 100 milhões de dólares.

Regularmente, "é preciso fazer uma reflexão sobre a existência de outras civilizações, é algo lógico", acredita Jean Schneider, "não há nada a partir de um ponto de vista científico que permita descartar a sua existência".

JLC / com agências 
in CONTACTO, 28/10/2015

domingo, 25 de outubro de 2015

ESO / VLT: O beijo fatal de duas estrelas

Com o auxílio do Very Large Telescope do ESO, uma equipa internacional de astrónomos descobriu a estrela dupla mais quente e mais massiva, com as duas componentes tão próximas que tocam uma na outra.

As duas estrelas no sistema extremo VFTS 352 podem estar a dirigir-se para um final dramático, no qual fusionam para formar uma única estrela gigante ou então dão origem um buraco negro binário.

O sistema de estrela dupla VFTS 352 situa-se a cerca de 160 mil anos-luz de distância na Nebulosa da Tarântula. Esta região extraordinária é a maternidade de estrelas jovens mais activa no Universo próximo.

Novas observações do VLT do ESO revelaram que este par de estrelas jovens se encontra entre os mais extremos e estranhos alguma vez descoberto. O VFTS 352 é composto por duas estrelas muito quentes, brilhantes e massivas que orbitam uma em torno da outra com um período pouco maior que um dia. Os centros das estrelas estão separados de apenas 12 milhões de quilómetros.

As estrelas estão tão próximas que as suas superfícies se sobrepõem, tendo-se formado uma ponte entre elas. O VFTS 352 não é apenas o binário mais massivo conhecido desta pequena classe de “binários em contacto” — tem uma massa combinada de cerca de 57 vezes a massa solar — mas também contém as componentes mais quentes — com temperaturas efetivas de cerca de 40 mil graus Celsius.

As estrelas extremas como as duas componentes do VFTS 352 desempenham um papel fundamental na evolução das galáxias e pensa-se que serão as principais produtoras de elementos como o oxigénio. Tais estrelas duplas estão também associadas ao comportamento exótico de “estrelas vampiras”, onde uma estrela companheira mais pequena “chupa” matéria da superfície da sua vizinha maior.

No entanto, e no caso do VFTS 352, as duas estrelas do sistema têm quase o mesmo tamanho. A matéria não é por isso chupada de uma para a outra, mas sim partilhada. Estima-se que as estrelas do VFTS 352 estejam a partilhar cerca de 30% da sua matéria.

Este tipo de sistemas é muito raro, já que esta fase da vida das estrelas é muito curta e por isso é difícil encontrá-las nesta altura das suas vidas. Como as estrelas estão tão próximo uma da outra, os astrónomos pensam que as fortes forças de maré fazem com que haja uma maior mistura de material nos seus interiores.

“O VFTS 352 é o melhor caso descoberto até à data de uma estrela dupla quente e massiva que pode ter este tipo de mistura interna,” explica o autor principal do trabalho Leonardo A. Almeida, da Universidade de São Paulo, Brasil. “Como tal, esta é uma descoberta importante e fascinante.”

Os astrónomos prevêem que o VFTS 352 sofrerá um fim cataclísmico, fim esse com duas possibilidades diferentes. A primeira possibilidade será a fusão das duas estrelas, que muito provavelmente dará origem a uma rotação rápida, e possivelmente a uma única estrela magnética gigante [magnétar].

“Se o objecto continuar a rodar rapidamente, poderá terminar a sua vida numa das explosões mais energéticas do Universo, uma explosão de raios gama de longa duração,” diz o cientista principal do projecto Hugues Sana, da Universidade de Louvain-la-Neuve, Bélgica.

A segunda possibilidade é explicada pela astrofísica teórica da equipa, Selma de Mink da Universidade de Amesterdão, Holanda: “Se as estrelas estiverem bem misturadas entre si, ambas permanecerão objectos compactos e o sistema VFTS 352 poderá evitar a fusão. Este efeito levará os objectos a outro caminho de evolução completamente diferente das predições da evolução estelar clássica. No caso do VFTS 352, as componentes acabarão as suas vidas em explosões de supernova, formando um sistema binário de buracos negros próximos. Um tal objecto seria uma intensa fonte de ondas gravitacionais.”

Comprovar a existência deste segundo caminho evolucionário seria um grande avanço observacional no campo da astrofísica estelar. No entanto, independentemente do fim do VFTS 352, este sistema já deu aos astrónomos importantes pistas sobre os processos de evolução pouco conhecidos de sistemas binários com estrelas massivas em contacto.

Texto e foto: ESO

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Entrevista com o astrofísico português Nuno Cardoso Santos

A estrela mu Arae e os planetas que orbitam à sua volta podem vir a ser rebaptizados com nomes portugueses numa votação online que termina às 23h59 de 31 de Outubro. O Jornal CONTACTO falou com Nuno Cardoso Santos, astrofísico português que ajudou a descobrir dois desses exoplanetas. 

Pode ler a reportagem completa, clicando aqui

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Galáxia Anã do Escultor, uma vizinha tímida


A Galáxia Anã do Escultor, que pode ser vista nesta imagem obtida pela câmara Wide Field Imager, instalada no telescópio MPG/ESO de 2,2 metros no Observatório de La Silla do ESO, é uma vizinha da nossa Galáxia, a Via Láctea.

Apesar da sua proximidade, ambas as galáxias têm histórias muito diferentes. Esta galáxia é muito mais pequena e velha do que a Via Láctea, o que a torna um objecto valioso para estudar tanto a formação estelar como a formação galáctica no Universo primordial.

No entanto, devido ao seu brilho fraco, este estudo não se revela nada fácil. A Galáxia Anã do Escultor — também conhecida por Galáxia Anã Elíptica do Escultor ou Galáxia Anã Esferoidal do Escultor — é, como o nome indica, uma galáxia anã esferoidal e uma das 14 galáxias satélite que se sabe orbitarem a Via Láctea.

Estes objectos galácticos situam-se próximo do halo extenso da Via Láctea, uma região esférica que se estende muito para além dos braços em espiral da nossa galáxia. Como o seu nome indica, esta galáxia situa-se na constelação austral do Escultor, a cerca de 280 mil anos-luz de distância da Terra.

Apesar da sua "proximidade", a galáxia do Escultor foi apenas descoberta em 1937, uma vez que as estrelas são ténues e se encontram muito espalhadas pelo céu. Embora seja difícil de encontrar, a Galáxia Anã do Escultor estava entre as primeiras galáxias anãs que se descobriram em órbita da Via Láctea.

A forma minúscula da galáxia intrigou os astrónomos na altura da sua descoberta, mas actualmente as galáxias anãs esferoidais desempenham um papel importante ao permitirem que os astrónomos investiguem mais profundamente o passado do Universo.

Pensa-se que a Via Láctea, como todas as galáxias grandes, se formou no Universo primordial a partir de outras galáxias mais pequenas. Se algumas destas pequenas galáxias existem ainda hoje, então deverão conter muitas estrelas extremamente velhas.

A Galáxia Anã do Escultor corresponde a uma galáxia primordial, já que possui um enorme número de estrelas velhas, estrelas estas que podem ser vistas na imagem. Os astrónomos conseguem determinar a idade das estrelas na galáxia, porque a radiação emitida transporta as assinaturas de apenas uma pequena quantidade de elementos químicos pesados. Estes elementos pesados acumulam-se nas galáxias com o passar de sucessivas gerações de estrelas. Um nível baixo de elementos pesados indica por isso que a idade média das estrelas na Galáxia Anã do Escultor é elevada. Esta quantidade de estrelas velhas faz com que a Galáxia Anã do Escultor seja um bom alvo de estudo dos períodos iniciais da formação estelar.

Num estudo recente os astrónomos combinaram todos os dados disponíveis desta galáxia e criaram a história de formação estelar mais precisa determinada até à data para uma galáxia anã esferoidal. Esta análise revelou dois grupos distintos de estrelas na galáxia.

O primeiro grupo predominante corresponde a população velha, com falta de elementos pesados. O segundo grupo mais pequeno é, em contraste, rico em elementos pesados. Tal como os jovens se concentram no centro das grandes cidades, também esta população estelar jovem está concentrada na direcção do núcleo da galáxia. As estrelas no seio das galáxias anãs, como a Galáxia Anã do Escultor, podem ter histórias de formação estelar complexas. No entanto, como a maioria das estrelas nestas galáxias se encontram isoladas umas das outras e não interagem durante milhares de milhões de anos, cada grupo de estrelas segue o seu próprio percurso de evolução estelar.

O estudo das semelhanças das histórias das galáxias anãs e dos seus desvios ocasionais, contribui para compreendermos a evolução de todas as galáxias, desde as mais tímidas anãs às maiores espirais. É por isso que os astrónomos têm muito a aprender com as vizinhas da Via Láctea.

Texto e foto: ESO

domingo, 18 de outubro de 2015

Descobertas ondas misteriosas num disco de formação de um proto-planeta


Com o auxílio de imagens do Very Large Telescope do ESO e do Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA, os astrónomos descobriram estruturas únicas e totalmente inesperadas no seio do disco de poeira que rodeia a estrela AU Microscopii.

Este episódio do ESOcast mostra estas estruturas do tipo de ondas que se deslocam rapidamente, as quais não se parecem com nada que tenha sido observado, ou mesmo previsto, até à data.




Fonte: ESO (texto, fotos e vídeo)

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Um livro para os mais pequenos descobrirem o Big Bang



Há 50 anos, em 1965, os norte-americanos Arno Penzias e Robert Wilson descobriram a chamada radiação cósmica de fundo, uma radiação de micro-ondas, a luz mais antiga que conhecemos do cosmos, “luz fóssil” de quando o Universo tinha cerca de 380 mil anos.

A efeméride desta descoberta é, entre outras, uma das que assinala 2015-Ano Internacional da Luz que este ano se celebra.

Para assinalar e perceber melhor aquela descoberta, a editora Gradiva publicou em Julho último o livro de banda desenhada intitulado “Cosmicomix: a descoberta do Big Bang”. Nesta obra, os textos são da autoria do astrofísico Amedeo Balbi e os desenhos de Rossano Piccioni, ambos italianos. Publicada originalmente em 2013, a edição portuguesa tem tradução de Florbela Marques, revisão científica do professor Carlos Fiolhais e teve o apoio da Sociedade Portuguesa de Física.

Esta é uma edição que se saúda não só por ser muito oportuna neste Ano Internacional da Luz, que assinala na contracapa, mas por ser um bom exemplo de como a banda desenhada pode ser muito eficaz na divulgação científica.

Ao longo de 150 páginas, o leitor revive a aventura das descobertas científicas ao longo da primeira metade do século XX, que mudaram a compreensão da evolução do universo em que existimos. O leitor descobre as personagens e os cientistas que estiveram envolvidos nessa compreensão, através das suas teorias e observações experimentais.

Meio século de interacção científica que leva a uma primeira confirmação da teoria do Big Bang, a mais bem sucedida que ainda temos actualmente para descrever a evolução do Universo desde há 13,8 mil milhões de anos.

O livro, que apresenta uma linguagem muito acessível sem perder o rigor científico, familiariza o leitor, por exemplo, com o físico Albert Einstein, o matemático Alexander Friedman, o astrónomo Edwin Hubble ou o físico George Gamow, assim como com as teorias que produziram.

Todas as personagens que surgem nesta banda desenhada são figuras de destaque da história da ciência e que estiveram de alguma maneira envolvidas no esforço científico para compreender a origem e evolução do universo.

Os autores recorreram a documentação diversa para reconstituírem as cenas retratadas. São reconstituídos vários momentos marcantes em que os cientistas se encontram, discutem as suas teorias e apresentam os resultados experimentais que as suportam ou que exigem novas teorias.

A evolução da narrativa neste livro permite, de uma forma agradável, que o leitor apreenda a história da evolução do conhecimento sobre o universo ocorrida no século XX, até à descoberta da radiação cósmica de fundo pelos radioastrónomos Arno Penzias e Robert Wilson (galardoados em 1978, por isso, com o Prémio Nobel da Física). A obra permite que compreendamos bem a importância desta descoberta para confirmar a teoria do Big Bang primeiramente sugerida pelo padre e físico belga Georges Lemaître em 1927. Aliás, o livro reconstitui uma conversa entre Lemaître e Einstein em Bruxelas, em 1927, no qual o primeiro expõe a sua teoria do “átomo primordial” ao pai da teoria da relatividade (ver imagem).

É de sublinhar, nesta banda desenhada o cuidado em explicar como a ciência se faz e evolui, e a importância da observação e resultados experimentais que confirmam, ou não, uma dada teoria. O livro apresenta, no seu final, biografias breves de todos os cientistas envolvidos, que são úteis para despertar a curiosidade em saber mais sobre eles.

Também são descritos, nas últimas páginas, alguns exemplos de como a banda desenhada foi feita. No epílogo, o autor, Amedeo Balbi, descreve resumidamente os avanços e descobertas ocorridas desde a descoberta da radiação cósmica de fundo até aos dias de hoje, mostrando que ainda há muito para conhecer: “As perguntas não acabaram e continuamos à procura das respostas”.
Imagens: Gradiva
É, em suma, um livro de que apresenta de uma forma muito acessível conceitos e teorias sobre a evolução do universo e que se recomenda a todos.

António Piedade (adaptado)
Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva
Imagens: Gradiva


terça-feira, 13 de outubro de 2015

Vote e ajude a baptizar com nome portugues o sistema planetário mu Arae

Situado a cerca de 50 anos-luz da Terra, o sistema planetário mu Arae tem quatro exoplanetas conhecidos, em órbita da estrela, visível a olho nu na constelação do Altar. 

Pela primeira vez, a União Astronómica Internacional (IAU) abriu uma votação pública para baptizar 20 sistemas planetários. Nesse lote está o sistema mu Arae, no qual um dos exoplanetas foi descoberto por uma equipa internacional, liderada pelo investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) Nuno Cardoso Santos.

Para Nuno Cardoso Santos (IA e Universidade do Porto), “um sistema planetário com nomes lusitanos faria justiça ao trabalho nesta área desenvolvido em Portugal, que é reconhecido internacionalmente".

"Talvez mais importante, ajudaria a reforçar a percepção positiva sobre a qualidade e o impacto da ciência que se faz no nosso país, em particular na área das ciências do espaço."

Como homenagem, o Planetário do Porto – Centro Ciência Viva submeteu nomes da cultura portuguesa para o concurso da IAU NameExoWorlds, que tem como objectivo celebrar o vigésimo aniversário da descoberta do primeiro exoplaneta em 1995.

O IA junta-se à homenagem, promovendo uma campanha internacional de apelo ao voto nos nomes portugueses. Se for a candidatura mais votada, a estrela Mu Arae passará a chamar-se Lusitânia, e os seus planetas, Adamastor, Esperança, Caravela e Saudade.

José Afonso (IA e Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa) comenta: “Esta é uma oportunidade única de afirmar a cultura portuguesa para além do nosso planeta, baptizando pela primeira vez, ‘em português’, um dos novos sistemas planetários - uma homenagem a um povo e a uma cultura que é ainda mais adequada quando consideramos a contribuição portuguesa para a descoberta e caracterização deste sistema. E, quem sabe, talvez num futuro não muito distante os nossos descendentes assistam ao desembarque de colonizadores humanos nas ‘costas’ do planeta Esperança e se recordem da origem do seu nome”.

Situado a cerca de 50 anos-luz da Terra, o sistema planetário mu Arae tem quatro exoplanetas conhecidos, em órbita da estrela, visível a olho nu na constelação do Altar.

A votação decorre até às 23h59 do dia 31 de Outubro de 2015.

Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço 
Ciência na Imprensa Regional

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quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O céu de Outubro

O céu virado a Este, às 7h da manhã de 9 de Outubro 2015 
Neste mês, os planetas estarão (quase) todos visíveis ao amanhecer, com Vénus (a “híper estrela”), Marte, Júpiter (a “super estrela”), e até por tempo limitado Mercúrio, visíveis antes de o Sol se levantar.

Ao longo do mês será ainda possível observar uma autêntica “dança” dos planetas, com Júpiter a afastar-se do Sol, passando primeiro por Marte e depois por Vénus, planeta que entretanto já parou de se afastar do Sol, começando novamente a aproximar-se do astro-rei.

O céu de Outubro começa por nos reservar uma Lua em Quarto Minguante, no dia 4, com o nosso satélite a passar a apenas 1 grau de Vénus na madrugada do dia 8.

No amanhecer do dia seguinte serão quatro os objectos do Sistema Solar “empacotados” na constelação de Leão. Júpiter, Marte, a Lua e Vénus estarão dispostos quase em linha recta, com os dois das pontas (Júpiter e Vénus) separados por pouco mais de 12 graus (aproximadamente um punho fechado, à distância de um braço esticado).

O amanhecer do dia 9 é também a altura do máximo da chuva de estrelas das Dracónidas, mas sendo uma chuva pouco intensa (embora tenha alguns surtos de maior intensidade), provavelmente não valerá a pena ficarem acordados de propósito para vislumbrar apenas um ou outro meteoro.

Dia 10, a Lua passará a 3 graus de Júpiter, e dia 11 a apenas 1 grau de Mercúrio. A Lua Nova ocorrerá no dia 13.

Dia 16, virados a Sudoeste ao anoitecer e separados por 3 graus, encontrarão a Lua e o único dos planetas visíveis a olho nu que não está visível de madrugada – Saturno.

Dia 17 ocorrerá o primeiro encontro cósmico do mês, com a conjunção (ponto de maior aproximação) entre Marte e Júpiter, com os dois separados por apenas meio grau.

Dia 20 a Lua estará em crescente, e dia 23, Júpiter estará mesmo a meio entre Marte e Vénus, com estes dois últimos separados por apenas 5 graus.

No dia 25 muda da hora, altura em que saímos do horário de Verão e voltamos ao verdadeiro horário solar. Por isso, não se esqueçam de, às 3h da manhã (hora do Luxemburgo), atrasar os relógios uma hora.

O segundo encontro cósmico do mês será entre o segundo e terceiro objectos mais brilhantes do céu nocturno. A conjunção de Júpiter e Vénus ocorrerá no dia 26, altura em que os dois planetas passarão a apenas 1 grau um do outro.

Finalmente, quase a terminar outubro, a Lua Cheia, redonda “como um queijo” ocorrerá no dia 27.


Ricardo Cardoso Reis (texto adaptado)
Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Atmosfera das estrelas permite prever composição de exoplanetas rochosos

Em dois artigos publicados recentemente, os investigadores do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) mostram que a abundância relativa de alguns elementos pesados na estrela, como Magnésio (Mg), Silício (Si) e Ferro (Fe), influencia de forma crucial a composição dos exoplanetas rochosos.

O exoplaneta Corot-7b Imagem: Concepção de artista
Em vários artigos publicados anteriormente, sugere-se que a abundância relativa de Fe, Mg e Si medida no Sol é semelhante à presente na Terra, Vénus, Marte e ainda de alguns meteoritos. Assim, no Sistema Solar, a abundância relativa desses elementos na fotosfera do Sol pode ser usada para inferir a composição e estrutura dos planetas rochosos.

A equipa do IA usou espectros de alta resolução, obtidos usando diferentes telescópios, para determinar os parâmetros estelares e as abundâncias de vários elementos, em tres estrelas onde se conhecem exoplanetas rochosos – CoRoT-7, Kepler-10, e Kepler-93.

Os resultados mostraram que, nos exoplanetas analisados e nas suas estrelas-mãe, encontramos o mesmo tipo de relação que foi medida para as composições químicas dos astros do Sistema Solar. 

Para Nuno Cardoso Santos (IA e Universidade do Porto), “os resultados mostram que uma análise detalhada à composição químicas das estrelas com planetas é importante, não só para determinar a arquitectura do sistema planetário, mas também para inferir a estrutura interna, composição e até potencial de habitabilidade de planetas individuais”.

O resultado estabelece que a abundância relativa Mg/Si pode desempenhar um papel importante na estrutura e composição interna de exoplanetas do tipo terrestre. Esta fração é por isso a chave para medir características de exoplanetas, como a massa ou o raio. Como estes elementos são formados no interior de estrelas massivas ou em explosões de supernovas, Vardan Adibekyan (IA e Universidade do Porto) comenta que “a sua abundância relativa depende de quando e onde se formaram na nossa galáxia.”

“É interessante que a maior parte das estrelas com planetas de pequena massa que observámos têm uma abundância relativa Mg/Si maior que a observada na fotosfera do Sol. Mais interessante é este rácio aumentar com o tempo, o que nos leva a concluir que as estrelas-mãe de planetas antigos teriam uma composição diferente da do Sol, e que essas diferenças se devem reflectir na composição e estrutura dos seus planetas rochosos", acrescenta Adibekyan.

A equipa produziu ainda mais um artigo, que já foi submetido para publicação na revista Origins of Life and Evolution of Biospheres, sobre a habitabilidade dos exoplanetas. Este artigo resultou das discussões entre investigadores de diferentes áreas, durante a conferência "Habitability in the Universe: From the Early Earth to Exoplanets", organizada no Porto pelo IA, em Maio deste ano.

“O Universo está cheio de surpresas, e certamente que não há falta de questões interessantes. Mas eu acho que os exoplanetologistas se estão a aproximar cada vez mais da resposta a algumas das questões mais antigas e pertinentes da humanidade: estamos sós no Universo, e qual é o nosso lugar nele?”, sublinha Adibekyan.

Estes estudos terão um impacto significativo na análise dos exoplanetas que serão descobertos por futuras missões, em especial aquelas em que o IA é um dos parceiros, como a CHEOPS e a PLATO-2.0 (ESA).

Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço 
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A Nebulosa do Camarão (Gum 56) e como funciona a reciclagem cósmica

Nebulosa gigante GUM 56 Foto: ESO
Parte da nebulosa gigante Gum 56 domina esta imagem, iluminada por estrelas jovens quentes e brilhantes que nasceram no seu interior. Durante milhões de anos formaram-se estrelas a partir do gás desta nebulosa, material que é posteriormente devolvido à maternidade estelar quando as estrelas envelhecidas expelem a sua matéria lentamente para o espaço ou mais dramaticamente sob a forma de explosões de supernovas.

Esta imagem foi obtida pelo telescópio MPG/ESO de 2,2 metros no Observatório de La Silla no Chile, no âmbito do programa Jóias Cósmicas do ESO.

Profundamente embebidos nesta maternidade estelar gigante encontram-se três enxames de estrelas jovens quentes — com apenas alguns milhões de anos de idade — que brilham intensamente no ultravioleta. É a luz destas estrelas que faz com que as nuvens de gás da nebulosa resplandeçam.

A radiação arranca os electrões aos átomos — num processo chamado ionização — e quando estes se recombinam libertam energia sob a forma de luz. Cada elemento químico emite luz em determinada cor e as enormes nuvens de hidrogénio na nebulosa são a causa deste intenso brilho avermelhado.

A Gum 56 — também conhecida por IC 4628 ou Nebulosa do Camarão — retira o seu nome do astrónomo australiano Colin Stanley Gum que, em 1955, publicou um catálogo de regiões H II.

As regiões H II, tal como a Gum 56, são enormes nuvens de densidade baixa, que contêm uma grande quantidade de hidrogénio ionizado. Uma grande parte da ionização na Gum 56 é feita por duas estrelas do tipo O, que são estrelas quentes azuis-esbranquiçadas, também conhecidas por gigantes azuis devido à sua cor.

Este tipo de estrelas é raro no Universo, uma vez que a enorme massa destas gigantes azuis significa que não podem viver durante muito tempo. Após cerca de um milhão de anos apenas, as estrelas colapsam sobre si mesmas e terminam as suas vidas como supernovas, tal como muitas das outras estrelas massivas que se encontram no interior da nebulosa.

Para além de muitas estrelas recém nascidas aninhadas no interior da nebulosa, a região está ainda cheia de gás e poeira suficientes para criar uma geração ainda mais nova de estrelas. As regiões da nebulosa que estão a formar novas estrelas são visíveis na imagem como nuvens densas.

O material que forma estas novas estrelas inclui os restos das estrelas mais massivas da geração anterior, que já terminaram as suas vidas e ejectaram o seu material para o meio circundante sob a forma de explosões de supernovas. Assim, o ciclo de vida e morte das estrelas continua.

Dadas as duas gigantes azuis muito invulgares e a proeminência da nebulosa nos comprimentos de onda do infravermelho e do rádio, é talvez surpreendente que esta região tenha sido até agora comparativamente pouco estudada por astrónomos profissionais.

A Gum 56 tem um diâmetro de cerca de 250 anos-luz, mas apesar do seu enorme tamanho tem sido descurada por observadores visuais devido ao seu fraco brilho e porque a maioria da radiação que emite se situa em comprimentos de onda invisíveis ao olho humano.

A nebulosa está a uma distância de cerca de 6 mil anos-luz de distância da Terra e pode ser encontrada no céu na constelação do Escorpião, onde tem um tamanho projectado de quatro vezes o da Lua Cheia.

Texto e fotos: ESO 

O Observatório do ESO em La Silla, no Chile

terça-feira, 1 de setembro de 2015

O céu de Setembro

Dia 4 - O início do mês de Setembro será a altura mais adequada para a observação de Mercúrio, uma vez que o planeta atinge o seu maior afastamento para leste relativamente ao Sol no dia 4 (distando 27 graus do nosso astro-rei), permitindo-nos vislumbrá-lo ao anoitecer.

Dia 5 - Na madrugada de dia 5, a Lua irá passar a menos de um grau da estrela Aldebarã, o "olho" da constelação do Touro.

Dia 5 - Neste mesmo dia dar-se-á o quarto minguante. Pelas 6 horas da madrugada de dia 10 será possível ver a Lua na vizinhança de Vénus e Marte. Igualmente Júpiter ocupa esta parte do céu, nascendo pelas 7h20. Este planeta só começará a ser bem visível na segunda metade do mês.

Dia 13 - A Lua Nova terá lugar no dia 13. Como esta ocorre muito perto do plano da órbita terrestre (plano da eclíptica), do alinhamento Sol-Lua-Terra resultará um eclipse solar. Mas ao contrário do que sucedeu em Março, este eclipse apenas será parcial e unicamente visível no sul de África e parte da Antárctida.

Dia 15 - No espaço de uma semana podemos apreciar facilmente o movimento da Lua no céu: no dia 15, a Lua situar-se-á a poucos graus de Mercúrio e da Espiga, a estrela mais brilhante da constelação da Virgem.

Dia 18 - Na noite de dia 18, a Lua situar-se-á perto de Saturno, que por esta altura estará perto da constelação da Balança.

Dia 21 - Para finalizar, aquando do quarto crescente de dia 21, o nosso satélite natural já estará junto à constelação do Sagitário.

Céu a sudoeste pelas 21h40 de dia 4. Igualmente é visível a posição da Lua nas noites de dias 15 18 e 21.
 
Dia 23 - Em consequência da rotação da Terra em torno do Sol, pelas 10h21 do dia 23 o eixo de rotação terrestre estará perpendicular à direção Sol-Terra. Esta é uma das duas únicas alturas do ano em que os hemisférios Norte e Sul se encontram igualmente iluminados.

Em Portugal, este momento é chamado de equinócio de Outono pois, a partir deste instante, passamos a ver o Sol abaixo do equador celeste (a projecção nos céus do equador terrestre), o que marca o início do Outono.

Dia 24 - Por volta de dia 24 iremos encontrar Marte perto de Régulo, a estrela mais brilhante da constelação do Leão.

Dia 28- Pelas 4h47 da madrugada de dia 28 terá lugar a Lua Cheia. Como esta ocorre perto do perigeu (altura da maior aproximação da Lua à Terra, que corresponde a cerca de 93% da distância média entre eles) o nosso satélite natural irá parecer ligeiramente maior do que é habitual. Trata-se da penúltima e maior super-Lua deste ano. Tal como terá sucedido aquando da Lua Nova anterior, esta fase da Lua terá lugar muito perto do plano da eclíptica, dando assim origem a um eclipse lunar. Este eclipse será total pois a Lua vai atravessar a região de maior escuridão da sombra da Terra (a umbra). Este eclipse ocorre entre as 2h12 e as 7h22. De notar que o mesmo fenómeno de dispersão de luz na atmosfera responsável pelo nosso céu ser azul, faz com que num eclipse lunar total a Lua receba parte da radiação solar vermelha desviada pela nossa atmosfera, conferindo-lhe assim aquele tom vermelho característico.

Céu a sudeste pelas 7h da madrugada de dia 24. Também é indicada a posição da Lua, Vénus, Marte e Júpiter na madrugada de dia 10.
 
Boas observações!

Fernando J.G. Pinheiro 
 (CITEUC- Centro de Investigação da Terra e do Espaço da Universidade de Coimbra)
in Ciência Viva na Imprensa Regional

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Empresa de Coimbra entrega dois equipamentos para a nave Orion

Foto: Active Space Technologies
A empresa portuguesa Active Space Technologies, sediada em Coimbra, anunciou na sexta-feira a entrega de dois equipamentos para a futura nave Orion, da Nasa.

“A Active Space Technologies terminou o fabrico e montagem dos protótipos de teste do Thermal Control Unit do Orion Multi Purpose Crew Vehicle – European Service Module (MPCV-ESM) da futura nave Orion da Nasa”, pode ler-se num comunicado que a empresa especialista em tecnologia aeroespacial divulgou.

Orion prepara-se para orbitar a Lua em 2017

A primeira missão da Orion será “um voo não tripulado à volta da Lua em 2017 e vai reentrar na atmosfera terrestre a 11 km/segundo, que será a velocidade de reentrada mais elevada de sempre”, revela a empresa de Coimbra.


“A nave Orion vai suceder ao Space Shuttle na missão de transporte dos astronautas” e “irá servir como veículo de exploração, transporte da tripulação e veículo de emergência, operando sobretudo em missões de suporte à Estação Espacial Internacional (ISS)”, anuncia ainda a empresa, explicando que “transportará os astronautas para órbitas terrestres, permitindo futuras missões à Lua e asteróides e, eventualmente, a Marte”.

O comunicado diz igualmente que o módulo de propulsão da Orion, designado European Service Module, “é baseado no Automated Transfer Vehicle desenvolvido pela Agência Espacial Europeia (ESA)”, esclarecendo que este “consiste num módulo que inclui quatro painéis solares e fornece propulsão, energia, controlo térmico, água e ar ao módulo habitável do Orion”.

O administrador da Active Space Technologies, Ricardo Patrício, afirma que a participação “num dos projectos mais críticos do actual programa espacial mundial, que tem por objectivo substituir o programa Space Shuttle”, reforça o reconhecimento da empresa portuguesa no panorama europeu, após participações noutras missões.

A empresa portuguesa fabricou "dois equipamentos iguais, semelhantes a uma caixa, feitos em alumínio e que serão depois incorporados na nave para testes", explicou por seu lado Liliana Baptista, gestora do projecto.

“São equipamentos para o controlo estrutural de toda a nave, nesta fase ainda de testes, mas que depois serão substituídos por outros. O modelo que vai ser usado na realidade vai ser muito mais complexo, com muitos componentes eletrónicos, térmicos e sensores”, acrescentou.

Liliana Baptista observou que “para fazer os testes da nave não é necessário o equipamento ser tão complexo”, sendo que estes agora produzidos pela empresa têm “as mesmas características dimensionais, mecânicas e estruturais dos futuros equipamentos”.

sábado, 22 de agosto de 2015

Como as estrelas nascem e se desenvolvem nos enxames estelares

Foto: ESO
Os enxames estelares abertos como o que se vê nesta imagem não são apenas perfeitos para tirar bonitas fotografias. A maioria das estrelas forma-se no seu interior e estes enxames podem servir aos astrónomos como laboratórios para estudar como é que as estrelas evoluem e morrem.

Esta imagem, que foi obtida pelo instrumento Wide Field Imager (WFI) no Observatório de La Silla, mostra o enxame IC 4651 e as estrelas que nasceram no seu interior apresentam actualmente uma grande variedade de características.

O salpicado de estrelas que podemos ver nesta nova imagem do ESO é o enxame estelar aberto IC 4651, situado na Via Láctea na constelação do Altar, a cerca de 3.000 anos-luz de distância.

O enxame tem cerca de 1,7 mil milhões de anos — o que corresponde a uma idade média em termos de enxames.

Conhecem-se na Via Láctea mais de um milhar destes enxames abertos, no entanto pensa-se que existam muitos mais. Muitos destes objectos foram já estudados com grande detalhe. Observações de enxames estelares como este fizeram avançar o nosso conhecimento sobre a formação e evolução da Via Láctea e das estrelas individuais no seu interior. Permitem igualmente aos astrónomos testar modelos de evolução estelar.

As estrelas no IC 4651 formaram-se todas ao mesmo tempo a partir da mesma nuvem de gás. Estas estrelas irmãs estão apenas ligadas de forma ligeira pela atracção entre si e pelo gás entre elas. À medida que as estrelas no seio do enxame interagem com outros enxames e com nuvens de gás na galáxia e, à medida que o gás entre as estrelas é utilizado para formar mais estrelas ou é lançado para fora do enxame, a estrutura do enxame começa a modificar-se. Eventualmente, a massa restante no enxame torna-se suficientemente pequena para que as estrelas possam escapar.

Observações recentes do IC 4651 mostraram que o enxame contém uma massa de 630 vezes a massa solar e pensa-se que inicialmente teria pelo menos 8.300 estrelas, num total de 5.300 vezes a massa do Sol.

O nosso Sol poderá ter feito parte de um enxame estelar 

Como este enxame é relativamente velho, uma parte desta massa perdida é devida às estrelas mais massivas do enxame terem já atingido o final das suas vidas e terem explodido sob a forma de supernovas.

No entanto, a maioria das estrelas que se perderam não morreram mas apenas se deslocaram. Terão sido arrancadas ao enxame ao passar por uma nuvem gigante de gás ou após um encontro próximo com um enxame vizinho, ou simplesmente afastaram-se.

Uma fracção destas estrelas perdidas pode estar ainda gravitacionalmente ligada ao enxame, encontrando-se a rodeá-lo a grande distância.

As restantes estrelas perdidas terão migrado para longe do enxame e juntado-se a outros ou ter-se-ão instalado noutro local qualquer da Via Láctea.


Provavelmente, o Sol fez outrora parte de um enxame como o IC 4651 até que, tanto a nossa estrela como as suas irmãs, se separaram e gradualmente se espalharam pela Via Láctea.

Fonte: ESO
Vídeo: http://www.eso.org/public/portugal/videos/eso1534a/

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Nasa desmente rumores que asteróide vai colidir com a Terra em Setembro


A Nasa veio desmentir oficialmente na quarta-feira os rumores que circulam na internet e nas redes sociais que anunciam que Porto Rico e o Golfo do México vão receber o impacto de um poderoso asteróide entre 15 e 28 de Setembro, o que provocará a destruição dos Estados Unidos, América Central e do Sul.

"Não há nenhuma base científica - nem nenhuma prova - que um asteróide ou qualquer outro objecto celeste vai colidir com a Terra nessas datas", garante peremptório Paul Chodas, o chefe do Jet Propulsion Laboratory (Laboratório de Propulsão) no site do JPL da agência espacial norte-americana.

"Não há perigo com asteróides conhecidos nos próximos 100 anos" Depois de a Nasa já ter esclarecido em diversas ocasiões nos últimos meses, a última das quais em Junho, que este rumor não tem fundamento, desta feita foi Paul Chodas que vem desmentir os anúncios que circulam em blogues e redes sociais.

"Todos os asteróides conhecidos potencialmente perigosos têm uma probablidade de menos de 0,01% de colidir com a Terra nos próximos 100 anos".

O cientista explica que "se houvesse algum objecto numa trajectória com a Terra, com uma colisão prevista para Setembro e de um tamanho suficiente para destruir o continente americano, a Nasa já o teria avistado há meses". Este ano, apenas os asteróides 2004 BL86 e 2014 YB35 passaram na vizinhança da Terra, mas "a sua passagem em Janeiro e Março era conhecida" e "nunca foi considerada perigosa" para o nosso planeta, acrescenta ainda Chodas.

Rumores persistentes, desmentidos regulares

A Nasa faz regularmente face a este tipo de rumores sem fundamento, que depressa empolam na internet e nas redes sociais.

Rumores de impacto de um asteróide com a Terra circularam já muitas vezes. Uma delas em 1999, depois várias vezes durante a primeira década do século XXI, e novamente em 2011. Paul Chodas recorda também, por exemplo, a psicose em torno da data de 21 de Dezembro de 2012, dia em que muitos internautas anunciavam o fim do mundo por um asteróide.

Desta vez, a Nasa achou que o assunto era sério o suficiente para esclarecer e tranquilizar o público no seu site. Paul Chodas diz que não é a primeira vez que a Nasa vem restabelecer a verdade científica dos factos neste tipo de rumores e admite que não seja a última.

Apocalipse, o regresso 

O asteróide Apophis passará perto da Terra em 2036
Foto: CNES
 
Anote na sua agenda o próximo "fim do mundo" por um asteróide: 13 de Abril de 2036. É o dia em que o asteróide Apophis passa perto da Terra.

Os astrónomos acreditam que há uma hipótese sobre 250 mil (o que é incrivelmente baixo à escala do Cosmos) de este asteróide colidir com o nosso planeta.

Outra data é a de 2126, quando o cometa Swift-Tuttle, que passou perto de nós em 1992, regressa e se arrisca dessa vez a colidir connosco.

Porque não se fala nestas datas? Porque as seitas apocalípticas e os pseudo-científicos (ainda) andam entretidos com datas e cometas mais próximos de nós. Depois de a colisão de Setembro não acontecer (como as anteriores não aconteceram), essas aves de mau augúrio irão depressa acaparar-se dos novos medos, das novas datas, dos novos fins.

JLC/com agência
esta notícia também foi publicada no site do CONTACTO

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Cientistas japoneses demonstram em laboratório que cometas podem estar na origem da vida na Terra

O cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko (ou simplesmente  'Churi') Foto: ESA
O impacto dos cometas que atingiram a Terra há 4 mil milhões de anos pode ter tido um papel no surgimento da vida na Terra, afirma um grupo de cientistas japoneses, que tentou reproduzir esta "fórmula" em laboratório.

Os cientistas, que apresentam esta quarta-feira os resultados da sua pesquisa durante a conferência de geoquímica Goldschmidt2015, em Praga, compilaram uma lista de substâncias para reproduzir a reacção em laboratório.

Os cientistas misturaram aminoácidos, gelo e substâncias silicatadas a temperaturas de 196 Celsius negativos, uma mistura presente nos cometas, como constataram as últimas missões espaciais.

Depois, os cientistas adicionaram um gás propulsor para simular o efeito de uma colisão do cometa com a Terra, o que fez com que alguns dos aminoácidos se transformassem em peptídeos de cadeia curta, moléculas complexas frequentemente consideradas fundamentais para o desenvolvimento da vida.

"As nossas experiências mostraram que o frio existente nos cometas teve um impacto decisivo nesta síntese", destaca, em comunicado, Haruna Sugahara, da Agência Japonesa para a Ciência.

"A produção de peptídeos de cadeia curta é uma das etapas decisivas na evolução química das moléculas. Uma vez iniciado o processo, vai ser necessário muito menos energia para formar as cadeias de peptídeos mais longas seja num ambiente terrestre ou aquático", pode ainda ler-se no comunicado.

Sugahara destaca aind que os impactos dos cometas, que costumam estar associados a eventos de extinção em massa, provavelmente também deram um 'empurrãozinho' na formação da vida. Um processo similar pode ter-se produzido noutros locais do Universo.

Os resultados da investigação de Haruna Sugahara e Koichi Mimura, da Universidade de Nagoia, ainda não foram publicados, mas segundo Mark Burchell, da Universidade de Kent, "constituem um passo em frente importante no estudo sobre a origem das moléculas complexas no Universo".

A missão da sonda europeia Rosetta, que acompanhou o cometa 67P/Churiumov-Guerasimenko, confirmou que o corpo celeste era rico em matéria orgânica.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Constelação do Altar: Uma estrela e quatro planetas podem vir a ter nomes portugueses

Representação artística do exoplaneta Mu Arae b

Há um sistema planetário a cerca de 50 anos-luz da Terra cuja estrela e planetas podem vir a ter nomes portugueses como Lusitânia, Caravela, Adamastor, Esperança e Saudade.

A decisão vai ser tomada depois de uma votação na internet, na qual o público pode participar até 31 de Outubro.

A União Astronómica Internacional (IAU, na sigla em inglês), único grupo de astrónomos profissionais reconhecido pela comunidade científica, anunciou a 11 de Agosto que está aberto o concurso público para dar nomes a 15 estrelas e 32 exoplanetas (ou planetas extra-solares, ou seja, que se situam fora do nosso Sistema Solar). O concurso decorre no site NameExoWorlds (http://nameexoworlds.iau.org/exoworldsvote) e nesse portal cada internauta tem o direito de votar nos nomes que prefere para atribuir a esses 47 astros e corpos celestes de 20 sistemas planetários diferentes.

Foto de família do sistema planetário Mu Arae 


A estrela Mu Arae com os seus quatro planetas 
Imagem: Sephirohq/CreativeCommons
Actualmente, o nome deste sistema planetário é Mu Arae ou HD 160691, mas a partir de Novembro pode passar a ficar conhecido por um nome bem português: o sistema planetário Lusitânia. Os quatro planetas que a orbitam receberiam os nomes de Caravela, Adamastor, Esperança e Saudade.

Lusitânia - a estrela Mu Arae é visível a olho nu no céu nocturno do hesmifério sul, na constelação de Ara (Altar, em latim). É uma estrela anã amarela semelhante ao nosso Sol, mas duas vezes mais luminosa. É cerca de 32% maior do que o nosso Sol e com cerca de 108% da massa da nossa estrela. Terá cerca de 6,4 mil milhões de anos, sendo assim mais velha que o nosso Sol (4,5 mil milhões de anos). Tem quatro planetas em sua órbita, três dos quais com massa semelhante à de Júpiter.

Caravela - Mu Arae b (ou HD 160691 b) é um exoplaneta com cerca de 1,676 vezes a massa de Júpiter. Tem uma órbita de 643,25 dias (1,76 anos) e situa-se na zona habitável da sua estrela, a uma distância de 1,97 UA (unidade astronómica: 1 UA equivale à distância Terra-Sol). É provavelmente um gigante gasoso. Se tiver satélites, podem conter água líquida. Foi o primeiro planeta deste sistema a ser descoberto, em 12/12/2000.

Adamastor - Mu Arae c (HD 160691 c) pode ser considerado a "Vénus" do sistema Mu Arae, já que se situa entre 0,07529 e 0,10659 UA, com uma órbita de 9,6 dias. Tem uma massa de cerca de 14 vezes a da Terra, com fortes probabilidades de ser um planeta rochoso como a Terra. Descoberto a 26/08/2004 por uma equipa internacional, em que participou o astrofísico português Nuno Cardoso Santos. Foi o primeiro exoplaneta de tipo 'Neptuno quente' a ser descoberto.

Esperança - Mu Arae d (HD 160691 d) tem cerca de metade da massa de Júpiter, uma órbita de 310 dias, e está a uma distância de 0.921 UA. É provável que seja um gigante gasoso. Descoberto a 5/08/2006. 

Saudade - Mu Arae e (HD 160691 e). É um gigante gasoso com a massa de 1,8 vezes a de Júpiter, mas de dimensão mais pequena. O planeta orbita a sua estrela em 11 anos, a uma distância de 5,235 UA, o equivalente à distância que separa o Sol de Júpiter. Foi descoberto em 13/06/2002.

Os nomes oficialmente escolhidos serão anunciados em Novembro pela IAU.

Prefere os nomes portugueses ou estes?

Em competição com os nomes portugueses há ainda seis outras propostas.

Uma equipa espanhola propõe os nomes Cervantes, Quijote, Dulcineia, Rocinante e Sancho.

Uma equipa japonesa propôs Daikokuten, Ebis, Bishimonte, Benzaiten e Fukurokuju. 

Um grupo colombo-panamiano sugeriu Humantahú, Tutruica, Armucura, Dabeiba e Karagabi. 

Há também uma proposta "floral": Camellia, Hibiscus, Helianthus, Lotus e Riza.

Uma outra proposta, mais anglófona, deixa em competição os nomes: Minerals, Another Gaia, Hotsprings, Mysteria e Reitoh. 

Finalmente, há um grupo que propôs nomes inspirados no universo de ficção científica criado pelo autor americano Robert Heinlein: RobertHeinlein, Podkayne, Pixel, LazarusLong e NoisyRhysling.

Cristiano Ronaldo e Fernão de Magalhães já homenageados

Já existem no céu nocturno dois nomes de portugueses famosos.

A galáxia CR7 (COSMOS Redshift 7), descoberta em Junho deste ano pelo astrónomo português David Sobral, foi baptizada em homenagem a Cristiano Ronaldo, que também é conhecido por CR7.

As "Nuvens de Magalhães" são duas galáxias anãs satélites da Via Láctea (a nossa galáxia). Ambas são visíveis a olho nu, mas apenas no hemisfério sul. Fernão de Magalhães, na sua circum-navegação ao globo em 1519-1522, foi o primeiro europeu a ter observado as 'nuvens', o que levou à sua denominação actual. Na verdade, o astrónomo persa Al-Soufi já recenseara estas galáxias seis séculos antes, no ano de 924.

Há também "regiões" com nomes portugueses ou lusófonos em, pelo menos, mais tres corpos celestes do nosso sistema solar.

Em Marte, vales e crateras com nomes portugueses ou lusófonos: os vales Tagus, Munda e Durius, no hemisfério sul marciano, referem-se aos rios Tejo, Mondego e Douro. As crateras Aveiro, Funchal e Lisboa situam-se no hemisfério norte marciano, enquanto que a cratera Fernão de Magalhães fica no hemisfério sul de Marte. Há ainda as crateras em homenagem às caravelas São Pantaleão e São Cristóvão (que faziam parte da frota de Bartolomeu Dias quando dobrou o Cabo da Boa Esperança em 1488), bem como às da frota de Vasco da Gama para a India, São Gabriel, São Rafael e Bérrio. Há também crateras com nomes brasileiros (Campos, Caxias, Gandu, Labria, Lagarto, Lins, Mafra, Peixe, Viana, Xui), moçambicanos (Chefu, Nune, Santaca) ou angolanos (Longa).

Na Lua, existem as crateras Vasco da Gama, Pedro Nunes (matemático portugues), Fernão de Magalhães e Santos Dumont (aviador e inventor brasileiro).

Em 2013, a IAU atribuiu também o nome da artista plástica portuguesa Maria Helena Vieira da Silva a uma cratera em Mercúrio. Em Mercúrio é tradição baptizar as crateras com nomes de artistas mortos.

2000 exoplanetas descobertos desde 1995 

Desde 1995, data de descoberta do primeiro planeta exterior ao nosso Sistema Solar, já foram descobertos cerca de 2 mil exoplanetas. Os planetas extra-solares que vão sendo descobertos são 'baptizados' com um nome relacionado com o telescópio pelo qual foram descobertos (por exemplo o exoplaneta Kepler 22b, que foi descoberto pela missão Kepler em 2010), ou por um código de letras e números - por exemplo HD 189733 b, em que a primeira sequência (HD189733) designa a estrela e a letra em minúscula designa o planeta.

200 mil milhões de estrelas

Haverá oportunidade para "baptizar" muitos outros planetas e estrelas, já que a IAU prevê lançar novas consultas públicas nos próximos tempos para encontrar nomes para 305 exoplanetas de 260 sistemas planetários descobertos entre 1995 e 2008. Como os cientistas calculam que possam existir cerca de 200 mil milhões de estrelas só na nossa galáxia, e que em torno da maioria orbitam planetas, haverá forma de agradar "a gregos e troianos" nos próximos anos e mesmo décadas. A não ser que seja descoberta vida inteligente nesses sistemas e que os indígenas protestem contra o nome dado etnocentricamente e de forma abusiva por nós, terráqueos.

José Luís Correia