segunda-feira, 31 de março de 2014

Como conhecer o céu da Primavera

Mapa: Guilherme de Almeida
As belas noites primaveris, caracterizadas habitualmente por uma atmosfera tépida e perfumada, são propícias à observação do céu. A descoberta das constelações pode servir-nos como fonte de fascínio ou recurso de orientação. E para melhor referenciar no céu as posições dos planetas e de outros objectos interessantes. Veja como.

Consideram-se estrelas da Primavera as que são visíveis (das nossas latitudes), aproximadamente entre as 22 h e as 24 h, numa qualquer noite a meio desta estação florida.

Devido à rotação da Terra, todos os dias desfilam heróis, mitologias e aventuras sobre as nossas cabeças, fruto da imaginação dos nossos antepassados para melhor recordar e conhecer o céu. Hoje tais histórias têm apenas o sabor da tradição, mas podem ser ainda usadas como orientação.

À medida que a noite avança, mais estrelas se elevam a nascente enquanto outras se escondem a poente.

Olhando para o céu muito mais tarde, digamos às 4h, estaremos já a ver as estrelas que anunciam o Verão, e que poderemos observar a horas mais cómodas na estação quente. Logo que a escuridão se instala veremos a Ursa Maior por cima da estrela Polar (primeira Figura), com a cauda a desenhar-se para a nossa direita.

Cassiopeia encontra-se muito baixa, orientada como um "W", quase a roçar o horizonte norte desimpedido, não sendo por isso de fácil localização nesta época do ano.

Logo ao cair da noite descobrem-se, a oeste, as constelações de Inverno a despedirem-se do observador, algumas quase a mergulhar no horizonte ocidental, como o Orionte, o Cão Maior, o Cão Menor e o Touro (segunda Figura).

Bem acima do horizonte sul, destaca-se a magnífica constelação do Leão, a mais característica da Primavera. Régulo é a sua estrela mais notável. O leitor localizará facilmente o Leão, utilizando as Guardas da Ursa Maior, mas prolongando o seu alinhamento no sentido oposto àquele que nos leva à estrela Polar.

Voltando à Ursa Maior, prolonguemos a sua cauda, seguindo a curvatura em arco que ela evidencia: encontraremos uma estrela muito brilhante e alaranjada (Arcturo), a mais notável da constelação do Boieiro.

Continuando a seguir esse arco imaginário, depois de passar por Arcturo chegaremos a Espiga, a estrela mais brilhante na constelação da Virgem, de brilho branco-azulado.

A partir da Espiga encontram-se facilmente outras referências no céu que nos permitirão localizar as outras constelações da Primavera: o Corvo, a Sul da Virgem. A Coroa Boreal, a este do Boieiro. E a Balança, na faixa do Zodíaco, a este da Espiga.

Se o entusiasmo nos levar a prolongar a noite começaremos a ver surgir as constelações do Verão, como o Escorpião, a Lira e o Cisne.

Outras constelações são menos evidentes, mas existem técnicas simples e práticas para localizar facilmente todas as constelações e identificar imensas estrelas.

E os planetas? Eles mudam de posição em relação às constelações, mas as suas posições podem ser obtidas em http://www.platanoeditora.pt/?q=C/BOOKSSHOW/7595.

Guilherme de Almeida
© 2014 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva 

domingo, 30 de março de 2014

DD - Documentários ao Domingo: O que nos falta para viajar até outras estrelas?

Viajar até outros sistemas estelares é um dos sonhos de alguns homens desde as primeiras histórias que evocavam outros mundos, textos escritos por clarividentes autores gregos e romanos, quando a maior parte da Humanidade ainda nem suspeitava da existência de outros planetas.

Do sonho à realidade

Esse sonho foi alimentado pela literatura de ficção e posteriomente a de ficção-científica. A palavra foi inventada nos anos 1920 pelo americano de origem luxemburguesa Hugo Gernsback, editor da revista Amazing Stories, e que na sua publicação deu a sua primeira oportunidade a jovens autores como H. P Lovecraft, Arthur C. Clarke, Isaac Asimov, Robert A. Heinlein, entre muitos outros.

Mas em 1961, depois do russo Yuri Gagarine se ter tornado o primeiro ser humano a viajar no espaço e de a corrida espacial ter realmente começado como um despique entre Estados Unidos e URSS, esse sonho transformou-se num objectivo.

Onde já chegámos 

Hoje, mais de 50 anos depois, apenas um círculo restrito de 600 seres humanos viajaram até ao espaço.

A nível internacional poucos países investem em agências espaciais nacionais, e destas apenas quatro puseram homens no espaço: a agência norte-americana Nasa, a agência russa Roskosmos, a agência europeia ESA e a chinesa CNSA.

O lugar mais longíquo até onde o Homem chegou foi a Lua, o nosso próprio satélite.

Onde queremos chegar 

O planeta mais próximo do nosso, Vénus, é um destino que não está, para já, no nosso itinerário de viagens tripuladas por ser um mundo mergulhado em chamas perpétuas e por isso inóspito ao Homem.

Marte, o segundo mais próximo, parece mais acolhedor. Com uma atmosfera 150 vezes menos densa que a da Terra, para aí viver o Homem terá que criar habitats próprios.

O que falta

Mas o que nos falta técnica, tecnologica e financeiramente para tornarmos as viagens interestelares uma realidade?

Melhor do que dissertar sobre a falta de interesse de potenciais investidores, dos limites das tecnologias actualmente existentes ou das que estão neste momento a ser inventadas e que nos permitiriam alcançar esse objectivo num futuro próximo, pensámos que apresentar-vos um documentário do canal National Geographic seria mais interessante e esclarecedor.

Partindo de uma premissa fictícia - que a Terra tem que ser evacuada dentro de 75 anos, ameaçada por um pulsar - a equipa do canal National Geographic entrevista físicos, astrónomos e engenheiros espaciais e explora as possibilidades reais, a curto e médio prazo, de viajarmos para fora do nosso planeta se realmente o tivéssemos que fazer.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Os asteróides também podem ter anéis

Imagem: ESO
Observações obtidas em diversos locais da América do Sul, incluindo o Observatório de La Silla do ESO (Observatório Europeu do SUL), levaram à descoberta surpreendente de que o asteróide distante Chariklo se encontra rodeado por dois anéis densos e estreitos.

Este é o menor objecto já descoberto com anéis, e apenas o quinto corpo no sistema solar - depois dos planetas gigantes Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno - com esta caraterística.

A origem dos anéis permanece um mistério, no entanto pensa-se que podem ser o resultado de uma colisão que criou um disco de detritos. Os novos resultados serão publicados online na revista Nature.

Além dos anéis de Saturno, que são um dos mais bonitos espectáculos no céu, outros anéis, menos proeminentes, também foram encontrados em torno dos outros planetas gigantes. Apesar de buscas cuidadosas, nunca se encontraram anéis em volta de outros objectos menores do sistema solar. Agora, observações do longínquo asteroide Chariklo, feitas quando este passava em frente a uma estrela, mostraram que este também se encontra rodeado por dois anéis estreitos.

“Não estávamos à procura de anéis, nem pensávamos que pequenos corpos como o Chariklo os poderiam ter, por isso esta descoberta - e a quantidade extraordinária de detalhes que obtivemos do sistema - foi para nós uma grande surpresa!”, diz Felipe Braga-Ribas (Observatório Nacional/MCTI, Rio de Janeiro, Brasil), que preparou a campanha de observações e é o autor principal do novo artigo científico que descreve estes resultados.

Chariklo é o maior membro de uma classe de asteróides conhecidos por Centauros, que orbitam o Sol entre Saturno e Urano, no sistema solar externo. Previsões da sua órbita mostraram que passaria em frente da estrela UCAC4 248-108672 no dia 3 de junho de 2013, quando observado a partir da América do Sul.

Assim, com o auxílio de telescópios em sete sítios diferentes, incluindo o telescópio dinamarquês de 1,54 metros e o telescópio TRAPPIST, ambos situados no Observatório de La Silla do ESO, no Chile, os astrónomos puderam observar a estrela desaparecer durante alguns segundos, momento em que a sua luz foi bloqueada pelo Chariklo - num fenómeno conhecido por ocultação. No entanto, acabariam por descobrir muito mais do que esperavam.

Alguns segundos antes, e também alguns segundos depois, da ocultação principal ainda houve duas quedas de luz, ligeiras e muito curtas, no brilho aparente da estrela. Algo em torno de Chariklo estava a bloquear a luz! Ao comparar as observações feitas nos diversos locais, a equipa pôde reconstruir não apenas a forma e o tamanho do objecto propriamente dito, mas também a espessura, orientação, forma e outras propriedades dos anéis recém-descobertos.

A equipa descobriu que o sistema de anéis é composto por dois anéis bastante confinados, com apenas sete e três quilómetros de largura, respectivamente, separados entre si por um espaço vazio de nove quilômetros - e tudo isto em torno de um pequeno objecto com 250 quilómetros de diâmetro que orbita além da órbita de Saturno. “Acho extraordinário pensar que fomos capazes de detectar, não apenas o sistema de anéis, mas também precisar que este sistema é constituído por dois anéis claramente distintos”, acrescenta Uffe Gråe Jorgensen (Instituto Niels Bohr, Universidade de Copenhaga, Dinamarca), que também pertence à equipa. “Tento imaginar como será estar na superfície deste corpo gelado - tão pequeno que um carro desportivo veloz poderia atingir uma velocidade suficientemente para se lançar no espaço - e olhar para cima para um sistema de anéis com 20 quilómetros de largura e situado mil vezes mais próximo do que a Lua está da Terra”.

Embora muitas questões permaneçam ainda sem resposta, os astrónomos pensam que este tipo de anel deve ter-se formado a partir dos restos deixados depois de uma colisão. Os restos teriam ficado confinados como dois estreitos anéis devido à presença de pequenos satélites, que supostamente existirão. “Por isso, além dos anéis, é provável que Chariklo tenha também, pelo menos, um pequeno satélite à espera de ser descoberto”, acrescenta Felipe Braga Ribas.

Os anéis poderão mais tarde dar origem à formação de um pequeno satélite. Tal sequência de eventos, a uma escala muito maior, pode explicar a formação da nossa própria Lua nos primeiros tempos do sistema solar, assim como a origem de muitos outros satélites em órbita de planetas e asteróides. Os líderes do projecto deram aos anéis os nomes informais de Oiapoque e Chuí, dois rios que se encontram próximos dos extremos norte e sul do Brasil, respectivamente.

Fonte: ESO 

(Este artigo também foi publicado no site CONTACTO.lu)

quarta-feira, 26 de março de 2014

Missão Kepler descobriu mais de 700 novos exoplanetas

Imagem: Nasa/Kepler
A NASA anunciou em Fevereiro uma série de novos exoplanetas descobertos pelo telescópio espacial Kepler.

Um novo método de verificação de potenciais planetas levou à descoberta de 715 novos mundos exteriores ao sistema solar, que orbitam 305 estrelas diferentes. O objectivo da missão Kepler é detectar planetas semelhantes à Terra.

"Praticamente duplicámos o número de planetas conhecidos", explicou Jack Lissauer, cientista da agência.

O índice do exoplanetas descobertos chegou agora aos 1.700.

Não existem muitas informações sobre esses planetas, principalmente se realmente têm condições necessárias para o aparecimento da vida - água, superfície rochosa e uma distância de suas estrelas que os mantenha na temperatura ideal.

Cinco destes exoplanetas estão na zona habitável de suas estrelas e têm um tamanho semelhante ao da Terra, informou a NASA.

A maioria das novas descobertas encontra-se num "sistema multi-planetário parecido com o nosso", e 95% tem um tamanho entre o da Terra e o de Neptuno, que é quatro vezes maior do que o nosso planeta.

O novo método de detecção de exoplanetas consiste numa ferramenta que permite analisar diversos planetas ao mesmo tempo. Anteriormente, a descoberta de um exoplaneta era confirmada de forma individual, dependendo do número de vezes que orbitasse em frente à sua estrela. Três órbitas são agora suficientes para a confirmação.

O telescópio espacial Kepler, lançado em 2009, observa 150 mil estrelas, entre as quais 3.600 são possíveis planetas. Até agora, 961 desses candidatos foram confirmados.

Estas descobertas foram divulgadas em 10 de Março na publicação científica americana "The Astrophysical Journal".

terça-feira, 18 de março de 2014

Cientistas detectam ecos directos do Big Bang

A
A descoberta foi feita graças ao telescópio BICEP2, no Pólo Sul
Foto: Reuters
Cientistas americanos revelaram na segunda-feira, 17 de Março, a detecção pela primeira vez de ecos do Big Bang, ocorrido há 14 bilhões de anos, uma importante descoberta para entender as origens do universo. A teoria do Big Bang pode deixar assim de ser uma teoria e passar a ser um facto científico. Ao mesmo tempo, esta descoberta pode unificar a mecânica quântica e a mecânica celeste, num só, algo que os cientistas procuravam há décadas.

A detecção da existência destas ondulações de espaço-tempo, primeiro eco do Big Bang, previstas na teoria da relatividade de Albert Einstein, confirma a expansão extremamente rápida e violenta do universo na primeira fração de segundo de sua existência, uma fase conhecida como inflação cósmica. Esta teoria foi levantada pela primeira vez em 1979 pelo físico americano Alan Guth.

Verdadeiro avanço científico, esta descoberta é fruto de observações da radiação cósmica de fundo - uma baixa radiação remanescente do Big Bang - conseguidas graças a um telescópio BICEP2 no pólo Sul. "É o local na Terra mais próximo do espaço, onde o céu é mais seco, mais claro e mais estável", explicam os autores do estudo.

"É o ambiente ideal para observar as microondas difusas provenientes do Big Bang". "A detecção destas ondulações é um dos objectivos mais importantes da cosmologia na actualidade e resultado de um enorme trabalho realizado por uma grande quantidade de cientistas", destacou John Kovac, professor de Astronomia e de Física no CfA e chefe da equipa de investigação BICEP2 (Background Imaging of Cosmic Extragalactic Polarization), que fez a descoberta.

"Era como encontrar uma agulha num palheiro, mas no seu lugar encontrámos uma barra de metal", disse o físico Clem Pryke, da Universidade de Minnesota, chefe adjunto da equipa. Para o físico teórico Avi Loeb, da Universidade de Harvard, o avanço "representa um novo esclarecimento sobre algumas das questões mais fundamentais para saber porque existimos e como o universo começou". Esta descoberta unifica a mecânica quântica e a mecânica celeste "Esses resultados não são apenas a prova irrefutável da inflação cósmica, mas nos informam sobre o momento exacto desta expansão rápida do universo e da potência deste fenómeno", explicou.

Os dados recolhidos "confirmam também a relação profunda entre a mecânica quântica e a teoria da relatividade geral", ressaltaram esses astrofísicos. A física quântica descreve esses fenómenos numa escala atómica, o que a relatividade geral não pode explicar. Ao se movimentarem, as ondas gravitacionais comprimem o espaço, o que produz uma assinatura muito distinta na radiação cósmica de fundo. Como as ondas luminosas, estas são polarizadas, uma propriedade que descreve a orientação das suas oscilações.

"A nossa equipa procurou um tipo particular de polarização... própria da luz antiga", na pista de ondas gravitacionais cósmicas, indicou Jamie Bock, do California Institute of Technology da Califórnia, um dos co-autores desses trabalhos.

"Esta característica de uma polarização em vortex é a assinatura única das ondas gravitacionais... e é a primeira imagem directa dessas ondas através do céu primordial", sublinha Chao-Lin Kuo, um físico de Stanford, membro da equipa de investigadores. Para Tom LeCompte, um físico especialista em altas energias no CERN (Centro de Pesquisa Nuclear Europeu) e no Laboratório Nacional de Argone, perto de Chicago, que não participou nestes trabalhos, essa descoberta "é o maior anúncio na física há anos".

"Esta descoberta pode potencialmente valer o Prémio Nobel" aos seus autores, declarou à AFP, comparando esta descoberta ao do Boson de Higgs em 2012, a pedra angular da teoria do Modelo padrão, a partícula elementar que dá a sua massa a inúmeras outras partículas. Esta detecção directa de ondas gravitacionais é "notável e entusiasmante" na medida em que permite ver o que aconteceu "no primeiro instante após o Big Bang", explicou.

"Isto vai além do que estamos a tentar fazer com o Large Hadron Collider (o acelerador de partículas, situado entre a França e a Suíça) para ver como se comportava o universo em sua infância (...). Isto vai permitir olhar ainda mais para trás no tempo".

(Este artigo foi também publicado no site contacto.luwww.contacto.lu)