sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Anatomia de um asteróide

Foto: ESO
Com o auxílio do New Technology Telescope (NTT) do ESO descobriu-se a primeira evidência de que os asteróides têm uma estrutura interna extremamente variada.

Ao fazer medições muito precisas, astrónomos descobriram que partes diferentes do asteróide Itokawa têm densidades diferentes. Descobrir o que se encontra no interior dos asteróides, além de revelar segredos sobre a sua formação, pode também informar-nos sobre o que acontece quando corpos celestes colidem no Sistema Solar e dar-nos pistas sobre como se formam os planetas.

Com o auxílio de observações muito precisas obtidas a partir do solo, Stephen Lowry (Universidade de Kent, RU) e colegas mediram a velocidade à qual o asteróide próximo da Terra (25143) Itokawa gira e como é que esta taxa de rotação varia com o tempo, combinando seguidamente estas observações com trabalho teórico inovador sobre como é que os asteróides irradiam calor.

Este pequeno asteróide é bastante intrigante uma vez que apresenta a estranha forma de um amendoim, como foi revelado pela sonda japonesa Hayabusa em 2005.

Para investigar a sua estrutura interna, a equipe de Lowry utilizou, entre outras, imagens recolhidas entre 2001 e 2013 pelo New Technology Telescope (NTT) do ESO, instalado no Observatório de La Silla, no Chile, para medir a variação do brilho do objecto à medida que este gira.

Estes dados foram depois usados para deduzir o período de rotação do asteróide de modo muito preciso e determinar como é que este período varia com o tempo. Esta informação, quando combinada com a forma do asteróide, permitiu explorar o seu interior - revelando pela primeira vez a complexidade que se encontra no seu núcleo.

“Esta é a primeira vez que conseguimos determinar como é o interior de um asteróide”, explica Lowry.

“Podemos ver que Itokawa tem uma estrutura extremamente variada - esta descoberta é um importante passo em frente na nossa compreensão dos corpos rochosos do Sistema Solar”.

A rotação de um asteróide e de outros pequenos corpos no espaço pode ser afectada pela luz solar. Este fenómeno, conhecido por efeito Yarkovsky-O’Keefe-Radzievskii-Paddack (YORP), ocorre quando a radiação solar absorvida pelo objecto é re-emitida pela sua superfície sob a forma de calor.

Quando a forma do asteróide é muito irregular, o calor não é irradiado de modo homogéneo, o que cria no corpo um torque, pequeno mas contínuo, que muda a sua taxa de rotação. A equipe de Lowry determinou que a taxa à qual o asteróide gira está lentamente a acelerar devido ao efeito YORP. A variação na velocidade de rotação é minúscula - uns meros 0,045 segundos por ano, no entanto este resultado é muito diferente do esperado e apenas pode ser explicado se as duas partes do objecto em forma de amendoim tiverem densidades diferentes.

Esta é a primeira vez que os astrónomos encontram provas da estrutura interna dos asteróides extremamente variada. Até agora, as propriedades do interior dos asteróides apenas podiam ser inferidas através de medições globais aproximadas da densidade.

Este resultado levou a muita especulação relativamente à formação de Itokawa. Uma possibilidade é que o asteróide se tenha formado a partir de duas componentes de um asteróide duplo depois de ter havido colisão e fusão dos dois objectos.

Lowry acrescenta, “descobrir que os asteróides não têm interiores homogéneos tem implicações importantes, particularmente para os modelos de formação de asteróides binários. Este resultado poderá igualmente ser aplicado em trabalhos que visam diminuir as colisões de asteróides com a Terra ou em planos para futuras viagens a estes corpos rochosos”.

Esta nova capacidade de sondar o interior de um asteróide é um importante passo em frente e pode ajudar-nos a desvendar muitos dos segredos destes objectos misteriosos.

Este trabalho foi descrito no artigo científico intitulado “The Internal Structure of Asteroid (25143) Itokawa as Revealed by Detection of YORP Spin-up”, de Lowry et al. , e publicado na revista especializada Astronomy & Astrophysics. 

Fonte: ESO