sexta-feira, 28 de março de 2014

Os asteróides também podem ter anéis

Imagem: ESO
Observações obtidas em diversos locais da América do Sul, incluindo o Observatório de La Silla do ESO (Observatório Europeu do SUL), levaram à descoberta surpreendente de que o asteróide distante Chariklo se encontra rodeado por dois anéis densos e estreitos.

Este é o menor objecto já descoberto com anéis, e apenas o quinto corpo no sistema solar - depois dos planetas gigantes Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno - com esta caraterística.

A origem dos anéis permanece um mistério, no entanto pensa-se que podem ser o resultado de uma colisão que criou um disco de detritos. Os novos resultados serão publicados online na revista Nature.

Além dos anéis de Saturno, que são um dos mais bonitos espectáculos no céu, outros anéis, menos proeminentes, também foram encontrados em torno dos outros planetas gigantes. Apesar de buscas cuidadosas, nunca se encontraram anéis em volta de outros objectos menores do sistema solar. Agora, observações do longínquo asteroide Chariklo, feitas quando este passava em frente a uma estrela, mostraram que este também se encontra rodeado por dois anéis estreitos.

“Não estávamos à procura de anéis, nem pensávamos que pequenos corpos como o Chariklo os poderiam ter, por isso esta descoberta - e a quantidade extraordinária de detalhes que obtivemos do sistema - foi para nós uma grande surpresa!”, diz Felipe Braga-Ribas (Observatório Nacional/MCTI, Rio de Janeiro, Brasil), que preparou a campanha de observações e é o autor principal do novo artigo científico que descreve estes resultados.

Chariklo é o maior membro de uma classe de asteróides conhecidos por Centauros, que orbitam o Sol entre Saturno e Urano, no sistema solar externo. Previsões da sua órbita mostraram que passaria em frente da estrela UCAC4 248-108672 no dia 3 de junho de 2013, quando observado a partir da América do Sul.

Assim, com o auxílio de telescópios em sete sítios diferentes, incluindo o telescópio dinamarquês de 1,54 metros e o telescópio TRAPPIST, ambos situados no Observatório de La Silla do ESO, no Chile, os astrónomos puderam observar a estrela desaparecer durante alguns segundos, momento em que a sua luz foi bloqueada pelo Chariklo - num fenómeno conhecido por ocultação. No entanto, acabariam por descobrir muito mais do que esperavam.

Alguns segundos antes, e também alguns segundos depois, da ocultação principal ainda houve duas quedas de luz, ligeiras e muito curtas, no brilho aparente da estrela. Algo em torno de Chariklo estava a bloquear a luz! Ao comparar as observações feitas nos diversos locais, a equipa pôde reconstruir não apenas a forma e o tamanho do objecto propriamente dito, mas também a espessura, orientação, forma e outras propriedades dos anéis recém-descobertos.

A equipa descobriu que o sistema de anéis é composto por dois anéis bastante confinados, com apenas sete e três quilómetros de largura, respectivamente, separados entre si por um espaço vazio de nove quilômetros - e tudo isto em torno de um pequeno objecto com 250 quilómetros de diâmetro que orbita além da órbita de Saturno. “Acho extraordinário pensar que fomos capazes de detectar, não apenas o sistema de anéis, mas também precisar que este sistema é constituído por dois anéis claramente distintos”, acrescenta Uffe Gråe Jorgensen (Instituto Niels Bohr, Universidade de Copenhaga, Dinamarca), que também pertence à equipa. “Tento imaginar como será estar na superfície deste corpo gelado - tão pequeno que um carro desportivo veloz poderia atingir uma velocidade suficientemente para se lançar no espaço - e olhar para cima para um sistema de anéis com 20 quilómetros de largura e situado mil vezes mais próximo do que a Lua está da Terra”.

Embora muitas questões permaneçam ainda sem resposta, os astrónomos pensam que este tipo de anel deve ter-se formado a partir dos restos deixados depois de uma colisão. Os restos teriam ficado confinados como dois estreitos anéis devido à presença de pequenos satélites, que supostamente existirão. “Por isso, além dos anéis, é provável que Chariklo tenha também, pelo menos, um pequeno satélite à espera de ser descoberto”, acrescenta Felipe Braga Ribas.

Os anéis poderão mais tarde dar origem à formação de um pequeno satélite. Tal sequência de eventos, a uma escala muito maior, pode explicar a formação da nossa própria Lua nos primeiros tempos do sistema solar, assim como a origem de muitos outros satélites em órbita de planetas e asteróides. Os líderes do projecto deram aos anéis os nomes informais de Oiapoque e Chuí, dois rios que se encontram próximos dos extremos norte e sul do Brasil, respectivamente.

Fonte: ESO 

(Este artigo também foi publicado no site CONTACTO.lu)