terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Portugal passa a integrar programa da Estação Espacial Internacional

Foto: NASA
Portugal vai integrar dois novos programas científicos de exploração espacial, incluindo o da Estação Espacial Internacional (ISS), disse hoje à Lusa o ministro da Educação e Ciência, que participou numa reunião da Agência Espacial Europeia, no Luxemburgo.

“Há muito boas novidades para Portugal, que mantém a sua colaboração na Agência Espacial Europeia (ESA) nos programas nos quais já participava e que adere agora a dois novos: o Programa da Estação Espacial Internacional e o Programa de Exploração Lunar”, associado ao primeiro, explicou à agência Lusa Nuno Crato, depois de participar hoje na reunião da ESA.

O ministro da Educação e Ciência sublinhou o país “lucra com a sua participação na ESA a vários níveis”, quer pelo envolvimento de cientistas portugueses no trabalho da agência espacial, “que lhes permite utilizar a tecnologia mais sofisticada”, quer pela possibilidade de desenvolvimento da tecnologia e das empresas portuguesas.

“Estarmos na Estação Espacial Internacional é muito importante para nós e é a primeira vez que estamos. O Programa de Exploração Lunar é um programa novo, em que vamos estar desde o princípio. E, portanto, as nossas empresas de ‘software’, de construção relacionadas com o espaço vão participar neste esforço e vão poder ter encomendas destes programas”, declarou Nuno Crato.

O ministro sublinhou ainda que o Programa de Exploração Lunar “é muito importante para a Europa, porque há uma grande competição nesse domínio”. Apesar de a participação em programas específicos implicar o pagamento de quotas adicionais, para além daquela que já é paga para pertencer à ESA, Nuno Crato garantiu que estas novas participações não aumentam o valor das contribuições pagas anualmente pelo país, uma vez que os valores pagos pela participação em programas mais antigos vão diminuindo à medida que vão sendo executados.

“A nossa colaboração global é sensivelmente a mesma”, disse, ressalvando ainda que é preciso ter em conta o retorno do investimento feito.

O ministro da Educação e Ciência referiu que, por cada milhão de euros investido por Portugal nestes programas, é esperado um retorno pelo menos de igual valor, “mas isso não está garantido”.

As empresas portuguesas competem para atingirem um valor de encomendas pelo menos igual àquele que foi investido, mas, “ao não conseguirem apresentar propostas que atinjam os níveis de exigência tecnológica necessária, não conseguem esses contratos”.

“Isso significa um desafio que é importante para toda a indústria portuguesa, porque não se trata de encomendas rotineiras, mas sim de alto valor de incorporação tecnológica, ou seja, desafios para a indústria portuguesa e que a obrigam a desenvolver-se”, disse. Ainda assim, Nuno Crato afirmou que tem sido possível atingir nos últimos anos “um retorno de 100%” e até mesmo ultrapassá-lo.

Luxemburgo: ESA dá luz verde para construir Ariane 6


Decorreu esta terça-feira, 2 de Dezembro, no Luxemburgo, uma reunião do Conselho Ministerial (C/M14) da Agência Espacial Europeia (ESA), onde foi dado "luz verde" à construção do foguetão Ariane 6, que deverá suceder ao actual Ariane 5, a partir de 2020.

Na reunião de hoje foram discutidas três resoluções:

1) a resolução sobre o acesso da Europa ao espaço, que reconhece para a Europa os valores estratégico e socioeconómico na manutenção do acesso independente, confiável e acessível ao espaço para clientes institucionais e comerciais e realça os novos princípios de governança relacionados com a exploração do próximo lançador europeu Ariane 6 e da evolução do Vega, Vega-C;

2) a resolução sobre a estratégia de exploração espacial da Europa, abordando os três objectivos da ESA (órbita baixa da Terra (LEO), Lua e Marte) e, em particular para o destino LEO, o programa da Estação Espacial Internacional (ISS);

3) e, por fim, a resolução sobre a evolução da ESA.

Ariane 5, um foguetão fiável com mais de 60 lançamentos bem sucedidos 

As actividades espaciais requerem acesso independente ao espaço. Por isso, a decisão sobre a próxima geração de lançadores da Europa tem uma importância fundamental.

O Ariane 5, que teve origem na Reunião Ministerial de 1985, é um caso notável de sucesso europeu: conta já com mais de 60 lançamentos bem sucedidos, assegurou mais de 50% do mercado de serviços de lançamento e gerou benefícios económicos diretos para a Europa superiores a 50 mil milhões de euros.

No entanto, o mercado mundial de serviços de lançamento está a mudar rapidamente, tanto na oferta e como na procura. Do lado da oferta, há agora novos prestadores não-europeus de serviços de lançamento com preços altamente competitivos, criando desafios ao modelo de negócio do Ariane 5. Do lado da procura, os satélites também estão a mudar.

O mercado comercial, que consiste principalmente em satélites de telecomunicações, favorece a introdução da propulsão elétrica, o que poderá acabar com a tendência das últimas décadas de aumento progressivo do volume dos satélites e vai exigir novas estratégias na colocação de satélites em órbita. Ao mesmo tempo, o lançamento de satélites institucionais europeus tem aumentado, em particular com a criação das constelações Galileu e Copérnico, o que gera um mercado bastante estável para lançamentos regulares de satélites de média dimensão.

Ariane 6, a partir de 2020

Em resposta a estas rápidas mudanças, o Executivo da ESA e a indústria de lançadores europeus definiram um lançador Ariane 6 modular com duas configurações para servir os segmentos de lançamento médio e pesado a partir de 2020, e um sistema de lançamento Vega atualizado (o Vega C) para servir o segmento do pequeno lançamento.

O Ariane 6 vai beneficiar da reutilização optimizada dos resultados intercalares (Midterm Evolution) do Ariane 5, de investimentos e da utilização de um motor de foguetão com propulsor sólido (P120C) comum à primeira fase do Vega C e ao propulsor do Ariane 6.

No Luxemburgo, foi pedido aos ministros que decidissem sobre o desenvolvimento do Ariane 6 e do Vega C os quais, por causa das suas características modulares e de flexibilidade, poderão satisfazer as exigências do mercado institucional europeu e competir no mercado mundial.

Estas decisões estão associadas a uma nova governança para o sector europeu de lançadores, criando responsabilidades acrescidas para a indústria e para os Estados participantes, que decidiram sobre a continuação do Ariane 6 em 2016 em função de um conjunto de critérios técnicos e financeiros, incluindo os compromissos respectivos na fase de exploração comercial.

O orçamento necessário dos Estados-Membros para a conclusão do Ariane 6 e do programa de desenvolvimento Vega C é de 3,8 mil milhões de euros.

Exploração espacial e a ISS 

Para o sucesso dos três objectivos de exploração da ESA (LEO, Lua, Marte), a Estação Espacial Internacional (ISS) é um elemento fundamental.

Além das actividades de investigação de valor inestimável que são realizadas a bordo da ISS, a Estação proporciona experiências muito ricas para a ESA e os para os seus parceiros internacionais que serão essenciais para planear as próximas etapas da exploração espacial.

As decisões dos ministros destinam-se a apoiar as actividades de exploração da ISS pela ESA para os próximos três anos (até 2017), com o custo de 820 milhões de euros, e a apoiar as actividades de investigação (Programa ELIPS), com financiamento adicional.

Para contribuir para os custos de operação comum da ISS e aproveitando a experiência adquirida com o ATV, a ESA está a desenvolver o novo veículo de tripulação multifunções (Multi-Purpose Crew Vehicle Service Module, MPCV-ESM) da NASA.

O financiamento para o desenvolvimento do MPCV-ESM está incluído nos 820 milhões de euros a serem financiados pelo C/M14.

Destino Lua

Em relação ao "destino Lua", a ESA propõe uma discussão preparatória sobre as contribuições para as missões da Rússia Luna-Resource Lander (lançamento previsto para 2019) e Lunar Polar Sample Return (com lançamento previsto no início dos anos 2020).

Programa ExoMars 

A decisão definitiva sobre estas contribuições será tomada na Reunião Ministerial de 2016. Em relação ao "destino Marte", o ambicioso programa ExoMars da ESA, envolvendo missões a Marte em 2016 e 2018, também está em cima da mesa para ser assinado, de modo a garantir a execução do programa ExoMars.

Além disso, o programa de preparação de exploração robótica de Marte (Mars Exploration Robotic Preparation Programme, MREP-2) é proposto para novas subscrições, para permitir a preparação adequada das futuras atividades de exploração, conduzindo a uma ampla participação na missão Mars Sample Return em que a Europa deve estar envolvida como um parceiro de pleno direito.

O futuro da ESA 

O terceiro tema na agenda dos ministros no Luxemburgo, a evolução da ESA, centrou-se no objectivo de criar condições para que a ESA mantenha o seu papel de líder mundial entre as instituições dedicadas ao espaço, e abordou as relações-chave da ESA com os seus parceiros e respectiva eficiência.

Os principais parceiros da ESA são: os seus Estados-Membros, a comunidade científica, a indústria, a União Europeia, outros Estados europeus não-membros e Estados não europeus.

Estas relações estão intrinsecamente interligadas e são impulsionadas pelo objectivo comum de criar um sector espacial europeu competitivo e assegurar o máximo retorno sobre o investimento público no espaço.

O Conselho Ministerial anterior, em 2012, decidiu criar um Fórum de Alto Nível que envolvesse a indústria, os Estados.Membros e o executivo da ESA. O Fórum reuniu-se duas vezes e fez uma série de recomendações ao diretor geral da ESA.

A mais importante foi a de pedir que seja dada maior responsabilidade à indústria nos programas de I&D da ESA, com maior partilha de riscos e de retornos. O Fórum também propôs que a ESA aumentasse a sua presença no desenvolvimento de serviços espaciais e se preparasse para ser um agente económico no sector espacial de envio de dados.

Desde 2012, foram tomadas medidas para fortalecer os relacionamentos da ESA com os seus Estados-Membros, procurando melhorar a coordenação e a cooperação nos programas espaciais na Europa, através da partilha de informações sobre os programas espaciais nacionais.

A relação da ESA com a UE, tanto na definição dos programas como no contexto em que o sector espacial europeu actua é de importância vital para a Europa. O C/M12 mandatou o director geral da ESA a elaborar e avaliar cenários conjuntos com a Comissão Europeia para responder a uma série de objectivos de desenvolvimento desse relacionamento.

Depois de intensas discussões entre as delegações dos Estados-Membros, os ministros foram convidados a confirmar a preferência dos Estados-Membros pela relação entre a ESA e a UE que mantém a ESA como uma organização do espaço intergovernamental independente de classe mundial e faz da ESA o parceiro de longo prazo escolhido pela UE para a definição e implementação da Política Espacial Europeia, juntamente com os respectivos Estados-Membros.