quinta-feira, 19 de maio de 2016

“O Luxemburgo soube transformar uma ameaça em oportunidade”, diz Jean-Jacques Dourdain, ex-director da ESA

O ministro da economia do Luxemburgo, Etienne Schneider, e
Jean-Jacques Dourdain, ex-director da ESA
Foto: ESA
“Com o projecto de extrair minério em asteróides, o Luxemburgo soube transformar uma ameaça em oportunidade”, considera Jean-Jacques Dordain, ex-director da Agência Espacial Europeia (ESA) e actual consultor do Governo luxemburguês para as questões espaciais. 

A afirmação do francês, engenheiro de formação e que dirigiu a ESA entre 2003 e 2015, foi feita durante o Fórum ICT Spring, encontro sobre novas tecnologias que decorreu na semana passada, em Kirchberg.

Este ano, o fórum foi dedicado ao Espaço, como forma de responder à agenda científica e económica traçada recentemente pelo ministro da Economia luxemburguês, Etienne Schneider. Em Fevereiro o ministro anunciou que o Governo do Luxemburgo quer adoptar um quadro legal que permita às empresas privadas que decidam instalar-se no país para explorarem minério espacial de terem assegurados os “seus direitos” aos recursos extraídos dos asteróides.

“O Luxemburgo é o lugar certo para lançar este projecto de explorar asteróides. É um país com tradição no espaço, com a SES, que é a segunda operadora mundial de satélites [baseada em Betzdorf] e na extracção de minério, graças ao seu passado siderúrgico. E como praça financeira é também o local certo para encontrar investimento para este novo sector”, acrescentou Dordain, na conferência dedicada a este tema, integrada no Fórum ICT.

“Fiquei muito surpreendido e contente quando o Estado luxemburguês me contactou”, confiou Dordain, para quem esta decisão do Grão-Ducado é “inteligente”.

 “A Terra é finita e a penúria de minérios vai aumentar nos próximos anos. É preciso olhar mais além. Ao investir na exploração de minérios do espaço, que tem recursos minerais ilimitados, não só vamos poupar o nosso planeta à extracção intensiva como pode revelar-se uma formidável nova fonte de rendimentos, que podem ser substanciais”, disse o consultor.

No público, alguém lembrou que o chefe-astrónomo do Observatório de Nova Iorque, Neal deGrasse Tyson, já dissera em 2013 que “o primeiro trilionário do mundo será alguém que souber extrair os recursos naturais dos asteróides, que são raros na Terra, mas abundantes no espaço, como a água, a platina, o ouro e o irídio”.

“Apesar de ser uma indústria ainda pequena à escala global, em 2014 o sector espacial cresceu 9% em relação ao ano anterior e atingiu os 330 mil milhões de dólares anuais. Cerca de 76% da economia espacial mundial está ligada aos voos comerciais, o resto são investimentos governamentais” das nações ditas espaciais – EUA, Rússia, Canadá, UE, Japão e China – lembrou, por seu lado, Daniel Faber, da Deep Space Industries (DSI), com a qual o Governo luxemburguês assinou um contrato para a exploração de asteróides.

Para o australiano da DSI, “os asteróides são as “baratas do espaço”. Silêncio na sala. “Eu explico”, continua Faber, “para mim, os asteróides são como as baratas porque podemos usá-los e esmagá-los antes que mordam”. Gargalhada geral. Sem o objectivo de ser um “designío nacional”, como o lançado por John F. Kennedy, que queria que os EUA fossem a primeira nação a chegar à Lua nos anos 60, o Governo do Luxemburgo vê este projecto como algo transversal a toda a sociedade e economia do país.

 “O Governo luxemburguês está empenhado em atrair o maior número de sectores da economia nacional para o seu projecto de exploração e extracção de minérios em asteróides, da educação à saúde, passando pelas telecomunicações, novas tecnologias, indústria e outros”, garantiu Mathias Link, que é também um dos consultores de Etienne Schneider para o espaço.

Depois de o Presidente Obama ter promulgado o ’Space Act’ nos EUA, legislação que autoriza a exploração comercial das riquezas encontradas em asteróides e na Lua, “o Luxemburgo foi o primeiro país do mundo a reagir e apenas dois meses depois (em Fevereiro deste ano) lançou este projecto”, recordou Mathias Link.

“Actualmente há cada vez mais empresas privadas a apostar neste sector, que vêem o espaço como uma grande oportunidade económica, e apraz-nos afirmar que o Luxemburgo está no pelotão da frente”, acrescentou Link.

“O sector espacial está a mudar e a democratizar-se muito rapidamente. Hoje o acesso ao espaço é cada vez mais barato”, disse Dordain.

“ÁGUA VAI SER O RECURSO NATURAL DO SÉC. XXI” 

Um dos elementos essenciais que estas novas empresas contam encontrar nos asteróides é água, que existe também em cometas, muitos planetas e até na Lua. “A água vai ser o recurso natural do século XXI, como o petróleo foi o do século XX”, disse por seu lado Chris Lewicki, que trabalhou dez anos como engenheiro na NASA e agora dirige a sua própria empresa, a Planetary Resources, que também planeia explorar asteróides.

“Vamos precisar de água nas futuras estações espaciais, a ISS [a Estação Espacial Internacional] só deverá funcionar até 2024, e nas viagens interplanetárias”, disse Lewicki. Ao que alguém no público lembrou que da água pode também ser extraído o oxigénio para os sistemas de vida das naves. “Para quê levar água da Terra se ela existe no espaço?”, perguntou o patrão da Planetary Resources, que também está em negociações com o Governo luxemburguês.

 Para Lewicki, “a Humanidade tem que ir além da Lua e da órbita baixa da Terra”, onde orbita a ISS. “Está na altura de expandirmos a esfera económica humana no Sistema Solar”. Jean-Jacques Dordain concorda: “Explorar os recursos do espaço vai tornar o voo espacial mais fácil e isso vai ajudar-nos a chegar a Marte e a explorar o resto do Sistema Solar”.

NAVE SERÁ CONSTRUÍDA NO LUXEMBURGO 

Daniel Faber aproveitou para revelar o que envolve o contrato da DSI com o Estado luxemburguês. A primeira fase passa pela concepção da nave Prospector-X, protótipo para voos-teste, e que deverá ser construída no Grão-Ducado. As naves seguintes serão a Prospector-1, que vai deixar a órbita terrestre e pousar num asteróide, a Harvester-X, que testará a extracção de minério num asteróide, e a Harvester-1, pensada já para a extracção em grande escala. Para já, a empresa californiana tem apenas um escritório no boulevard Royal, na capital luxemburguesa, e não adiantou mais pormenores sobre em que unidade fabril, existente ou futura, será construída a ou as naves.

Durante esta palestra, a empresa japonesa Ispace e a alemã PT-Scientists, apresentaram os seus robots-rovers lunares, ambos candidatos ao “Google Lunar Xprize”, concurso internacional que vai atribuir 30 milhões de dólares ao projecto mais promissor para explorar o nosso satélite natural. Os donos da DSI e da Planetary Resources quiseram saber se os rovers podiam circular em asteróides e outros corpos celestes, mas admitem que o facto de haver água e prata na Lua não é suficiente para suscitar o seu interesse.

“A Lua não é interessante, os asteróides são mais ricos em recursos”, disseram. O debate com os especialistas abordou ainda o futuro da propulsão de naves, os vaivéns ’low-cost’ com decolagem e aterragem vertical, os sistemas de vida das naves, as comunicações espaciais, as plataformas orbitais e o futuro incerto da ISS, os lançadores de foguetões e a viagem para Marte, assuntos que saíram em poucos anos da ficção científica para fazer parte da ciência e das notícias do dia-a-dia.

No Fórum ICT Spring Luxembourg 2016 estiveram especialistas de 72 países e nos diferentes debates foram abordados temas como a conectividade global, o sector da e-Saúde e a “era da abundância”, termo inspirado na série Star Trek sobre uma hipotética economia anti-capitalista futurista, e que neste caso concreto debateu a forma como a tecnologia está (ou não) a fomentar o bem-estar da Humanidade.

Neste fórum foi também debatido como as novas tecnologias estão a mudar a forma de as empresas contratarem pessoal e até um novo desporto (tekball) que nasceu no Luxemburgo.

José Luís Correia 
in Contacto, 18/05/2016

sábado, 7 de maio de 2016

Governo luxemburguês assina acordo com empresa americana para exploração de minério em asteróides


O Governo luxemburguês assinou esta quinta-feira um memorando de entendimento com a empresa norte-americana especializada na exploração em voos espaciais, Deep Space Industries (DSI), e com o banco Société Nationale de Crédit et d'Investissement para a "exploração, uso e comercialização de recursos extraídos em asteróides", refere o Ministério da Economia em comunicado.

O acordo envolve uma cooperação entre o Governo e a Deep Space Industries para desenvolver e lançar a primeira nave, Prospector-X, que vai explorar recursos minerais em asteróides. "Esta promissora cooperação com a DSI, no âmbito da iniciativa spaceresources.lu, demonstra claramente o forte empenho do Governo luxemburguês em apoiar a exploração e uso futuro dos recursos espaciais.

As negociações para formalizar a nossa relação com outras empresas que operam neste domínio estão em andamento. O nosso objectivo é atrair actividades de investigação espacial e capacidades tecnológicas para o Luxemburgo, que alberga um sector espacial cada vez mais importante como parte dos nossos contínuos esforços para diversificar a economia nacional", disse o ministro da Economia, Etienne Schneider.

O primeiro passo para a exploração do espaço foi dado em Fevereiro, quando o Luxemburgo tornou-se no primeiro país a criar um quadro regulamentar e jurídico favorável às empresas que queiram explorar comercialmente o espaço. Essa iniciativa luxemburguesa teve lugar dois meses depois de Barack Obama ter promulgado o "Space Act", que autoriza a exploração comercial das riquezas encontradas nos asteróides e na Lua.

O "Space Act" estabelece que todos os recursos encontrados por um cidadão ou empresa norte-americana no satélite natural da Terra ou em corpos celestes passarão a pertencer a quem os descobriu. Um dos primeiros objectivos da Deep Space Industries é conseguir encontrar água no interior dos asteróides, que poderá servir como meio de propulsão da nave (em vez de outros combustíveis) e depois passar à exploração de metais preciosos como o outro ou a platina.

in Contacto.lu, 06/05/2016

terça-feira, 3 de maio de 2016

Descobertos três exoplanetas que podem abrigar vida, a 40 anos-luz da Terra

Impressão artística da estrela anã muito fria TRAPPIST-1 e dos seus três planetas Imagem: ESO
Qual o melhor local para procurar sinais de vida no Universo? Novos resultados obtidos por uma equipa internacional de astrónomos sugerem que devemos observar perto de estrelas anãs muito frias.

Estas estrelas são muito ténues, muito mais frias e vermelhas que o Sol e em termos de tamanho não são muito maiores que Júpiter. No entanto, são muito comuns, constituindo cerca de 15% das estrelas existentes na vizinhança do Sol.

A estrela 2MASS J23062928-0502285, também conhecida por TRAPPIST-1, é uma anã muito fria situada na constelação do Aquário.

Encontra-se a apenas 40 anos-luz da Terra, por isso apesar de ser muito ténue, os astrónomos conseguiram obter medições muito precisas com o telescópio TRAPPIST, instalado no Observatório de La Silla do ESO, no Chile.

Em órbita da estrela giram três planetas do tamanho da Terra, que podem ter regiões passíveis de sustentar vida. Estes são os primeiros planetas deste tipo que se descobriram em torno de uma anã muito fria e são o melhor alvo para telescópios futuros procurarem sinais de vida noutros locais do Universo.