Ao pisar pela primeira vez o solo lunar na missão Apollo 11, Neil Armstrong tornou-se a 20 de Julho de 1969 o primeiro homem a pisar a Lua, mas razões de ordem económica levaram o então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, a suspender três anos depois o programa de exploração lunar e dar prioridade à construção do vaivém espacial.
Na decisão pesaram os elevados custos orçamentais associados à segurança dos astronautas, mas também a necessidade de um veículo espacial que pudesse ser lançado e regressar à Terra.
"Em vez de se enviarem homens para a Lua, pensou-se que seria mais vantajoso do ponto de vista económico lançar homens para órbitas muito mais próximas da Terra, e agora estamos a colher alguns frutos desse investimento, como a Estação Espacial Internacional (ISS) e todos os telescópios espaciais, como é o caso do Hubble", considerou, numa entrevista à Lusa, em 2009, o cientista espacial português Pedro Russo.
Por outro lado, "a construção do vaivém significou uma revolução tecnológica muito grande porque aproximou os voos espaciais das viagens de avião normais", acrescentava o cientista, que trabalha na Alemanha para a Agência Espacial Europeia (ESA).
Como exemplo, citava o facto do telescópio Hubble ter sido enviado para o espaço por um vaivém e das suas missões de reparação só terem sido possíveis graças à existência dessa aeronave.
Sobre os resultados das missões Apollo, Pedro Russo afirmava ter sido "uma enorme surpresa" o que se encontrou na Lua, comprovando algumas teorias sobre a sua formação e as relações com a Terra.
Ficaram, no entanto, muitas questões em aberto, nomeadamente em relação à existência de água e ao teor em hélio-3. Referia, a propósito, que alguns estudos apontavam na década de 1990 para a presença de zonas com bastante água no subsolo lunar, tanto em estado sólido como líquido, mas a sonda Clementine da NASA comprovou depois que não havia tanta água como se esperava.
Sobre o hélio-3, que supostamente permite fazer fusão nuclear muito mais limpa, também se desconhece com rigor qual a abundância desse gás na parte superior da primeira camada da Lua, o que permitiria lançar uma exploração quase geológica desse material.
A ESA tem um projecto de missão lunar associado ao programa Aurora, que tem como principal objectivo a exploração de Marte. Esse projecto visa trabalhar com os parceiros internacionais, nomeadamente com as agências espaciais dos EUA, Japão, China e Índia, para que haja uma missão tripulada conjunta à Lua no início de 2020 e em 2030, pela primeira vez, uma base lunar.
"Nas próximas duas décadas vamos certamente voltar à Lua com humanos para construir bases e continuar a exploração científica, tanto no domínio da geofísica, como do desenvolvimento de medicamentos ou de plantas na Lua", adiantava na altura Pedro Russo.
Isso será muito importante para futuras missões em Marte, mas também para incrementar o futuro turismo espacial, que tem vindo a crescer nos últimos anos, tanto para voos orbitais terrestres como para viagens à Estação Espacial Internacional, acrescentava.
Além de trabalhar para a equipa científica de um dos instrumentos da missão Vénus Express da ESA, desenvolvido pelo Instituto Max Planck, concretamente uma câmara que observa a evolução da atmosfera do planeta, Pedro Russo foi em 2009 o coordenador global das actividades do Ano Internacional da Astronomia, promovido conjuntamente pela União Astronómica Internacional e a UNESCO.
Este artigo foi também publicado no site www.wort.lu/pt www.wort.lu/pt