terça-feira, 4 de junho de 2013

O império do Sol


A fonte de toda a vida na Terra pode também ser o seu maior perigo. Os teóricos do apocalipse prevêem para 21 de Dezembro de 2012 uma erupção solar que deflagrará sobre a Terra, o que se não a reduzir a cinzas, provocará o caos.

O Sol entra em intensa actividade de 11 em 11 anos, momento em que regista mais erupções solares, três a quatro erupções diárias, cada uma equivalentes à explosão de 10 milhões de bombas de hidrogénio.

Mas, segundo a Nasa, o Sol só vai entrar numa nova fase intensa em 2013, mas esta será uma actividade intensa média e não uma das mais fortes.

Perturbações provocadas por erupções solares já foram registadas na História recente. Uma das mais fortes deu-se em 1859, quando uma ejecção de matéria coronal solar danificou os telégrafos eléctricos do mundo.

Entre 1920 e 1960 há vários registos de tempestades solares que afectaram os sinais rádio no planeta. Em 1989, uma tempestade solar avariou uma central hidroeléctrica no Canadá, em 2003 fortes ventos solares provocaram uma avaria eléctrica na Suécia e obrigaram a navegação aérea internacional a alterar as rotas.

Uma das últimas erupções solares deu-se em Outubro deste ano e não afectou a Terra. Uma erupção solar tão forte como a de 1859 só acontece, segundo os cientistas, duas vezes em cada milénio.

Seria necessário uma erupção solar colossal para que a ejecção de matéria coronal da nossa estrela em direcção à Terra danificasse os circuitos electrónicos dos satélites (construídos para resistir às radiações solares), quebrasse a rede de telecomunicações e os sistemas da navegação aérea. A acontecer, o pior mesmo é que perturbaria o campo magnético terrestre (magnetosfera), que nos protege das partículas carregadas (radiações) que chegam do Sol.

Quando estas partículas são desviadas pela magnetosfera, criam as auroras boreais.

Mas se devido a um actividade solar fora do normal contornassem a magnetosfera, as radiações perturbariam centrais e redes eléctricas. Ou seja, o mundo mergulharia num "black out" electrónico e eléctrico, dois dos sistemas em que assenta a nossa vida moderna.

Por quanto tempo voltaríamos a viver como no século XIX não se sabe, poderia levar anos, ou mesmo uma ou duas décadas, até restabelecermos esses sistemas a nível mundial.

Os cientistas não conseguem prever as erupções solares, apenas observá-las, após o que os ventos solares demoram entre 24 a 48 horas a chegar à Terra, o que é muito pouco tempo para poder fazer algo.

Alarmismos à parte, nada indica que a fase actual de actividade do Sol é perigosa para a Terra. Os astrofísicos dizem que conhecem bem as fases da vida de uma estrela e que quando o nosso Sol se transformar em gigante vermelha, dentro de sensivelmente 5,5 mil milhões de anos, este vai dilatar até engolir a Terra.

Mas nessa altura, já nos teremos mudado há bastante tempo para outro planeta. Pelo menos, espera-se que sim.

(artigo publicado em 21/12/2012 no jornal CONTACTO, no Dossier "Quem tem medo do fim do Mundo?")

Portugal participa na construção do maior espectrógrafo do mundo, que pemitirá a partir de 2016 detectar exoplanetas semelhantes à Terra

O "Espresso", o maior espectrógrafo do mundo, a ser colocado no Deserto de Atacama (Chile) em 2016, vai permitir confirmar a existência de milhões de exoplanetas semelhantes à Terra. 



Imagem: Representação artística de um exoplaneta
Com o espectrógrafo Espresso "esperamos confirmar que só na nossa galáxia existirão qualquer coisa como 50 ou 100 mil milhões de planetas com condições semelhantes às da Terra”, conta Nuno Santos, investigador do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP) e coordenador da colaboração portuguesa num projecto conjunto de um consórcio de instituições científicas e académicas de Portugal, Itália, Suíça e Espanha.

Um espectrógrafo é um instrumento que permite decompor a radiação eletromagnética (em sentido lato, a “luz”) emitida por um objecto, formando um espectro de frequências.

O Espresso (Echelle SPectrogaph for Rocky Exoplanet and Stable Spectroscopic Observations) vai custar mais de 10 milhões de euros, disse à Lusa Filipe Pires, Filipe Pires, coordenador do Núcleo de Divulgação do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto, acrescentando que Portugal vai participar com “cerca de um milhão de euros”, um valor que chega através da Fundação para a Ciência e Tecnologia.

“O Espresso será o primeiro instrumento a conseguir localizar e detectar planetas pequeninos [como a Terra], e onde temos esperança de encontrar vida”, explicou Filipe Pires. Segundo o coordenador da colaboração portuguesa, o Espresso é um avanço em relação aos instrumentos que existem actualmente.

"Já conhecemos mais de 1000 planetas" 

“Já conhecemos mais de mil planetas que andam à volta de outras estrelas, mas temos um problema com os instrumentos actuais em que é muito difícil detetar planetas pequenos como a Terra e que estejam suficientemente longe onde, por exemplo, seja possível haver água”, refere Nuno Santos.

Este inovador espectrógrafo será o primeiro com capacidade de detectar de forma sistemática um grande número de novos planetas rochosos e potencialmente habitáveis em torno de outras estrelas.

O Espresso vai estar em funcionamento em 2016, no Deserto do Atacama (Chile) e com aquele instrumento vai conseguir-se detectar variações de velocidade inferiores a 10 centímetros por segundo, que é fundamental para conseguir detectar as pequenas variações na velocidade radial das estrelas causadas pela presença de planetas semelhantes à Terra em seu redor.

A colaboração portuguesa consistirá na construção do Coudé Train, um conjunto de lentes e prismas, e respectivos sistemas de alinhamento, responsável por levar a luz recolhida por vários telescópios até ao laboratório onde aquela luz será combinada e analisada.

 Segundo Alexandre Cabral, responsável pelo desenvolvimento da componente tecnológica que está a ser desenvolvida em Portugal, o país vai “finalmente passar da teoria à prática" e servirá também como uma oportunidade para "a indústria portuguesa receber um retorno pela participação de Portugal em grandes projectos de instrumentação.

O Espresso vai também trazer benefícios a várias outras áreas da astronomia, com destaque para a análise da composição química de estrelas e do gás intergaláctico.