terça-feira, 23 de dezembro de 2014

As estrelas quentes azuis de Messier 47

Foto:ESO

Esta imagem espectacular do enxame estelar Messier 47 foi obtida com a câmara Wide Field Imager, instalada no telescópio MPG/ESO de 2,2 metros no Observatório de La Silla do ESO, no Chile.

Apesar deste jovem enxame aberto ser dominado por estrelas azuis brilhantes, contém também algumas estrelas gigantes vermelhas contrastantes.

O enxame estelar Messier 47 situa-se a aproximadamente 1.600 anos-luz de distância da Terra, na constelação da Popa (a ré do navio mitológico Argo). Foi observado pela primeira vez alguns anos antes de 1664 pelo astrónomo italiano Giovanni Battista Hodierna e descoberto mais tarde de forma independente por Charles Messier que, aparentemente, não tinha conhecimento da observação feita anteriormente por Hodierna.

Embora seja brilhante e fácil de observar, o Messier 47 é um dos enxames abertos com menos população. São apenas visíveis cerca de 50 estrelas neste enxame, distribuídas numa região com uma dimensão de 12 anos-luz, isto comparado com objectos similares que podem conter milhares de estrelas.

Messier 47 nem sempre foi fácil de identificar. De facto, durante anos foi dado como desaparecido, já que Messier anotou as suas coordenadas de forma errada. O enxame foi posteriormente redescoberto, tendo-lhe sido atribuída outra designação de catálogo - NGC 2422.

A certeza do erro de Messier e a conclusão firme de que Messier 47 e NGC 2422 eram de facto o mesmo objecto apenas foi estabelecida em 1959 pelo astrónomo canadiano T. F. Morris. As cores azuis-esbranquiçadas brilhantes destas estrelas são indicativas da sua temperatura, com estrelas mais quentes apresentando a cor azul e as mais frias a vermelha. Esta relação entre cor, brilho e temperatura pode ser visualizada através da curva de Planck.

No entanto, um estudo mais detalhado das cores das estrelas usando espectroscopia dá muita informação aos astrónomos - incluindo a sua velocidade de rotação e composição química.

Vemos também na imagem algumas estrelas vermelhas brilhantes - tratam-se de estrelas gigantes vermelhas que se encontram numa fase mais avançada das suas curtas vidas do que as estrelas azuis menos massivas. Estas últimas duram portanto mais tempo.

Por mero acaso, o Messier 47 parece estar próximo no céu de outro enxame estelar contrastante - o Messier 46. O Messier 47 encontra-se relativamente perto de nós, a cerca de 1.500 anos-luz, enquanto o Messier 46 se situa a cerca de 5.500 anos-luz de distância e contém muito mais estrelas, pelo menos 500.

Apesar de conter mais estrelas, este enxame apresenta-se significativamente mais ténue devido à maior distância a que se encontra da Terra.

Messier 46 poderia ser considerado o irmão mais velho de Messier 47, com aproximadamente 300 milhões de anos comparado com os 78 milhões de anos de Messier 47. Consequentemente, muitas das estrelas mais massivas e brilhantes de Messier 46 viveram já as suas curtas vidas, não sendo visíveis, e por isso a maioria das estrelas que vivem no seio deste enxame mais velho são mais vermelhas e frias.

Esta imagem de Messier 47 foi criada no âmbito do programa Jóias Cósmicas do ESO, uma iniciativa que visa obter imagens de objectos interessantes, intrigantes ou visualmente atractivos, utilizando os telescópios do ESO, para efeitos de educação e divulgação científica. O programa utiliza pouco tempo de observação, combinado com tempo de telescópio inutilizado, de modo a minimizar o impacto nas observações científicas. Todos os dados são também postos à disposição dos astrónomos através do arquivo científico do ESO.

Fonte: ESO