segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Observatório ibérico confirma detecção de exoplaneta controverso Kepler-91b

Representação artística da estrela gigante vermelha Kepler-91 e do planeta Kepler-91b, quando este está a atravessar o disco da estrela. (Crédito: D. Cabezas)

Uma equipa de investigadores ibéricos, da qual fazem parte os portugueses Nuno Cardoso Santos e Pedro Figueira (IA/CAUP), estima que o Kepler-91b seja o exoplaneta mais próximo de uma estrela gigante alguma vez detectado.

Ao analisar a curva de luz da estrela KIC 8219268, a equipa do satélite Kepler (NASA) usou o método dos trânsitos para detectar um objecto em órbita desta estrela, com um período de apenas 6,25 dias e a uma distância de apenas 2,32 vezes o raio da estrela.

Quase em simultâneo, uma outra equipa analisou os dados do Kepler, e propôs que este objecto estaria a emitir luz, sendo por isso uma estrela companheira. Deste modo, foi posto em causa se o objecto seria um planeta.

Pedro Figueira, investigador do IA/CAUP, diz que "este resultado ilustra o quão difícil é detectar pequenos planetas e como a comunidade está empenhada em encontrar novas maneiras, cada vez mais precisas, de o fazer."

Recorrendo ao método das velocidades radiais, com dados obtidos pelo espectrógrafo CAFE (Calar Alto Fiber-fed Echelle), no Observatório de Calar Alto (Grenada, Andaluzia), a equipa ibérica conseguiu medir a massa em 1,09 vezes a massa de Júpiter.

Com técnicas de astero-sismologia, foi ainda possível determinar que o diâmetro do objecto seria de 1,38 vezes o diâmetro de Júpiter, confirmando assim que o Kepler-91b se tratava, de facto, de um planeta.

Por orbitar tão próximo (o semi-eixo maior da órbita é de apenas 0,073 unidades astronómicas, ou seja, 5,3 vezes mais perto da estrela que Mercúrio está do Sol), a estrela KIC 8219268 chega a ocupar até 10% de todo o céu do Kepler-91b.

O Kepler-91b é ainda o primeiro exoplaneta confirmado recorrendo a dados do Observatório de Calar Alto.

Esta investigação foi publicada no último número de Julho da revista Astronomy & Astrophysics.

Ricardo Cardoso Reis
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terça-feira, 23 de dezembro de 2014

As estrelas quentes azuis de Messier 47

Foto:ESO

Esta imagem espectacular do enxame estelar Messier 47 foi obtida com a câmara Wide Field Imager, instalada no telescópio MPG/ESO de 2,2 metros no Observatório de La Silla do ESO, no Chile.

Apesar deste jovem enxame aberto ser dominado por estrelas azuis brilhantes, contém também algumas estrelas gigantes vermelhas contrastantes.

O enxame estelar Messier 47 situa-se a aproximadamente 1.600 anos-luz de distância da Terra, na constelação da Popa (a ré do navio mitológico Argo). Foi observado pela primeira vez alguns anos antes de 1664 pelo astrónomo italiano Giovanni Battista Hodierna e descoberto mais tarde de forma independente por Charles Messier que, aparentemente, não tinha conhecimento da observação feita anteriormente por Hodierna.

Embora seja brilhante e fácil de observar, o Messier 47 é um dos enxames abertos com menos população. São apenas visíveis cerca de 50 estrelas neste enxame, distribuídas numa região com uma dimensão de 12 anos-luz, isto comparado com objectos similares que podem conter milhares de estrelas.

Messier 47 nem sempre foi fácil de identificar. De facto, durante anos foi dado como desaparecido, já que Messier anotou as suas coordenadas de forma errada. O enxame foi posteriormente redescoberto, tendo-lhe sido atribuída outra designação de catálogo - NGC 2422.

A certeza do erro de Messier e a conclusão firme de que Messier 47 e NGC 2422 eram de facto o mesmo objecto apenas foi estabelecida em 1959 pelo astrónomo canadiano T. F. Morris. As cores azuis-esbranquiçadas brilhantes destas estrelas são indicativas da sua temperatura, com estrelas mais quentes apresentando a cor azul e as mais frias a vermelha. Esta relação entre cor, brilho e temperatura pode ser visualizada através da curva de Planck.

No entanto, um estudo mais detalhado das cores das estrelas usando espectroscopia dá muita informação aos astrónomos - incluindo a sua velocidade de rotação e composição química.

Vemos também na imagem algumas estrelas vermelhas brilhantes - tratam-se de estrelas gigantes vermelhas que se encontram numa fase mais avançada das suas curtas vidas do que as estrelas azuis menos massivas. Estas últimas duram portanto mais tempo.

Por mero acaso, o Messier 47 parece estar próximo no céu de outro enxame estelar contrastante - o Messier 46. O Messier 47 encontra-se relativamente perto de nós, a cerca de 1.500 anos-luz, enquanto o Messier 46 se situa a cerca de 5.500 anos-luz de distância e contém muito mais estrelas, pelo menos 500.

Apesar de conter mais estrelas, este enxame apresenta-se significativamente mais ténue devido à maior distância a que se encontra da Terra.

Messier 46 poderia ser considerado o irmão mais velho de Messier 47, com aproximadamente 300 milhões de anos comparado com os 78 milhões de anos de Messier 47. Consequentemente, muitas das estrelas mais massivas e brilhantes de Messier 46 viveram já as suas curtas vidas, não sendo visíveis, e por isso a maioria das estrelas que vivem no seio deste enxame mais velho são mais vermelhas e frias.

Esta imagem de Messier 47 foi criada no âmbito do programa Jóias Cósmicas do ESO, uma iniciativa que visa obter imagens de objectos interessantes, intrigantes ou visualmente atractivos, utilizando os telescópios do ESO, para efeitos de educação e divulgação científica. O programa utiliza pouco tempo de observação, combinado com tempo de telescópio inutilizado, de modo a minimizar o impacto nas observações científicas. Todos os dados são também postos à disposição dos astrónomos através do arquivo científico do ESO.

Fonte: ESO

sábado, 20 de dezembro de 2014

Missão Kepler renasce e descobre uma nova "super Terra"

Imagem artística da super terra HIP 116454 b - Crédito Harvard-Smithsonian CfA 

Depois de ter terminado a sua missão principal, devido a uma avaria em Maio de 2013, a missão espacial Kepler (NASA) ganha agora uma nova vida. A extensão da missão, denominada K2, acabou de provar a sua importância ao detetar o planeta HIP 116454 b, com cerca de 2,5 vezes o tamanho da Terra, através do método dos trânsitos. Os resultados foram aceites para publicação na revista The Astrophysical Journal.

Para garantir a fiabilidade dos dados da K2, outros instrumentos foram usados para repetir a deteção. O satélite canadiano MOST confirmou o trânsito observado pelo Kepler, enquanto o espectrógrafo HARPS-N (Telescopio Nazionale Galileo, Ilhas Canárias), com o método das velocidades radiais, confirmou a natureza planetária do HIP 116454 b, revelando ainda que a sua massa é quase 12 vezes superior à da Terra, o que o coloca na categoria das “super-terras”.

“Este é um importante resultado pois mostra que o satélite Kepler, através da missão K2, continua a poder fazer ciência do mais alto nível. É também mais um planeta rochoso a juntar-se à lista, mas bem maior e mais massivo que a Terra”, considera Pedro Figueira, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço e Universidade do Porto.

A missão principal do Kepler exigia a medição muito precisa das variações do brilho das estrelas observadas. Para alcançar este tipo de precisão, o satélite tinha de se manter perfeitamente apontado para as estrelas a observar. No entanto, essa precisão deixou de ser possível em maio do ano passado, quando a segunda das quatro "reaction wheels" avariou.

A missão estendida K2 só foi possível graças à criatividade da equipa. Esta implica que o satélite seja apontado ao longo da linha da eclíptica (a projecção do plano do Sistema Solar no nosso céu), usando a pressão de radiação da nossa estrela para compensar uma das "reaction wheels". Apesar de a precisão ser menor do que antes, é ainda possível caracterizar estrelas brilhantes próximas, e detectar planetas na gama das “Super-Terras”, que não existem no nosso Sistema Solar. 

A estrela HIP 116454 encontra-se a 180 anos-luz de distância, na direcção da constelação Peixes. Com 0,77 vezes o diâmetro do Sol e cerca de 5.400º C à superfície, esta estrela anã laranja é ligeiramente mais pequena e menos quente que o nosso Sol.

O planeta demora apenas 9,1 dias a orbitar a sua estrela, a uma distância de menos de 14 milhões de quilómetros, ou seja, 4,25 vezes mais perto que Mercúrio está do Sol.

Ricardo Cardoso Reis (IA)
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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

"Íris Científica 2", um livro de António Piedade sobre a ciência, o tempo, o espaço e o Universo

António Piedade 
Foi recentemente publicado o livro "Íris Científica 2". Trata-se de um novo livro de divulgação de ciência, da autoria do bioquímico António Piedade.

O autor baseou-se nas crónicas de ciência que tem escrito para a imprensa e editou-as de modo a se adaptarem ao formato de livro. Parece redundante dizer isto mas o autor começa pelo princípio, isto é, pelo início da formação do Universo e pelo vazio, para logo de seguida falar da matéria e do tempo.

De seguida, dedica uns capítulos à saúde humana, permitindo-nos revisitar temas científicos actuais e que tanto interesse suscitam, disponibilizando interessantes explicações sobre cromossomas, diabetes, bactérias, vírus, reprodução e a estrutura do cérebro.

Outro tema caro ao autor, e que tem destaque neste livro, é a astronomia, assunto que também merece a atenção ao longo de vários capítulos. Aqui, podemos ler sobre a pesquisa de exoplanetas, área de pesquisa em que equipas portuguesas têm dado cartas, investigação espacial e fenómenos astronómicos como as chuvas de estrelas.

Do espaço, o autor retorna à Terra para voltar a falar de biologia e de temas relacionados com estratégias de sobrevivência e de adaptação à natureza: formigas que estreitam relações com acácias, rãs que sobrevivem a temperaturas negativas e o percurso evolutivo dos coelhos europeus.

O livro termina com um final emotivo, com texto de homenagem a Marie Curie e dois textos inspirados em poemas de António Gedeão, pseudónimo do professor Rómulo de Carvalho que foi um homem do conhecimento ligado à divulgação de ciência – no dia do seu aniversário, celebra-se o Dia Nacional da Cultura Científica.

Este é mais do que um livro sobre ciência, é uma obra que é um serviço público, pois António Piedade foi basear-se em artigos científicos, aos quais geralmente apenas os académicos têm acesso, e transformou esse conhecimento em textos compreensíveis para o cidadão comum.

Muitos desses artigos reflectem a pesquisa de ponta que se faz em Portugal e, por isso, está também a divulgar o melhor da investigação nacional. Neste sentido, e apenas a título de exemplo, saliento a pesquisa realizada por Miguel Carneiro do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), e restante equipa, sobre o processo de domesticação do coelho-bravo e cujos resultados foram publicados em prestigiadas revistas internacionais como a Molecular Biology and Evolution.

Através deste livro, o autor pretende dar continuidade a um projecto que iniciou em 2005, com o primeiro volume de "Íris Científica" e que terá continuidade no futuro, como revela na introdução. Com este, já são quatro os livros de divulgação publicados por António Piedade. Pois, que venham mais.

João Lourenço Monteiro (biólogo e comunicador de Ciência)
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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

ESO vai construir maior telescópio do mundo no deserto de Atacama, no Chile

Foto: ESO

O Observatório Europeu Austral (ESO, na sigla em inglês) deu luz verde no início do mês de Dezembro para iniciar a construção, no Chile, do chamado Telescópio Europeu Extremamente Grande (E-ELT, na sigla em inglês), o maior aparelho do tipo no mundo.

O E-ELT será "o maior olho do mundo para observar o céu", informou em comunicado o ESO, uma organização que conta com o apoio de 15 países europeus, incluindo Portugal (desde 2000, embora fosse país colaborador desde 1990), além do Brasil.

"A decisão adoptada pelo Conselho significa que podemos começar a construção do telescópio e que dispomos dos recursos necessários para realizar as principais obras de edificação industrial do E-ELT", disse o director-geral do ESO, Tim de Zeeuw, em comunicado.

A construção do E-ELT no deserto chileno do Atacama custará cerca de mil milhões e as primeiras observações são esperadas para 2024.

O telescópio, com 39 metros de diâmetro, ficará na cúpula do Monte Armazones, a 20 km do Monte Paranal, onde já está instalado o Telescópio Muito Grande (VLT), da ESO.

O novo aparelho "permitirá a caracterização inicial de exoplanetas com massa similar à da Terra, o estudo de populações estelares em galáxias próximas e observações ultra-sensíveis do universo profundo", indicou a ESO, que tem sede em Garching, perto de Munique (Alemanha).

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Einstein tinha razão: O tempo passa mais devagar num relógio em movimento

Em 1905, Einstein publicou a sua Teoria da Relatividade Restrita. Quase cem anos depois, resultados experimentais continuam a comprovar as suas previsões e a mostrar que Einstein tinha razão.

Físicos alemães verificaram experimentalmente, e com uma precisão sem precedentes, uma das mais espantosas previsões da Teoria da Relatividade Restrita: a da dilatação do tempo, que diz, em termos muito simples, que o tempo avança mais devagar num relógio em movimento em relação ao que acontece num relógio em repouso.

Esta propriedade do tempo foi muito popularizada através do paradoxo dos gémeos, exemplo sugerido pelo próprio Einstein: se um dos gémeos fosse enviado numa nave espacial a uma velocidade próxima da velocidade da luz, quando regressasse à Terra encontraria o seu irmão muito mais velho do que ele. Seria como se o tempo não passasse mais lentamente para quem viaja a velocidades muito grandes.

A experiência que agora confirma esta previsão de Einstein está descrita num artigo publicado recentemente na revista Physical Review Letters (http://journals.aps.org/prl/abstract/10.1103/PhysRevLett.113.120405), e é o resultado de 15 anos de investigação de um grupo internacional de cientistas que inclui o Prémio Nobel Theodor Hänsch, director do Instituto Max Planck de Optica Quântica, em Garching, na Alemanha.

Para verificar o efeito da dilatação do tempo, os físicos precisaram de comparar como o tempo avança em dois relógios: um parado e outro em movimento. Para este efeito, os investigadores usaram um acelerador de partículas no Centro Helmholtz GSI, em Darmstadt, Alemanha, onde se estudam iões pesados.

Na experiência, os físicos usaram iões de lítio acelerados a um terço da velocidade da luz como relógio em movimento. Tecnologia de última geração, extremamente precisa, permitiu aos investigadores medir as transições de electrões entre diferentes níveis de energia dentro dos iões de lítio em movimento. Essas transições funcionaram como o tic-tac de um relógio em movimento.

Para o relógio em repouso, os cientistas fizeram as mesmas medições mas em iões lítio parados, o que permitiu comparar a velocidade nas transições electrónicas em cada um dos casos. Resultado: as transições electrónicas ocorriam mais lentamente nos iões em movimento.

Estas experiências sobre o efeito da dilatação do tempo não servem só para confirmar as previsões da melhor teoria de que dispomos para descrever a gravidade e o tempo no Universo.

Compreender a dilatação do tempo também tem implicações práticas no nosso dia-a-dia. É que o Sistema de Posicionamento Global, vulgo GPS, funciona com o recurso a medições efectuadas por satélites em órbita da Terra, e o software que calcula em diminutas fracções de segundo, por exemplo, o posicionamento de um carro em movimento na Terra tem de ter em conta o efeito da dilatação do tempo. Se não o fizesse, o resultado que nos seria apresentado pelo nosso equipamento de GPS estaria errado em centenas de metros, o que o tornaria inútil. Este é um exemplo da aplicação da Teoria da Relatividade de Einstein no nosso dia-a-dia.

sábado, 13 de dezembro de 2014

Carlos Martins ajuda a testar uma das constantes fundamentais do Universo

Esquema da medição do espectro do Quasar HS 1549+1919
Foto: Ciència Viva na Imprensa Regional 

Recorrendo a alguns dos espectrógrafos mais precisos do mundo – UVES (telescópios VLT, do ESO), HIRES (telescópios Keck) e HDS (telescópio Subaru) – uma equipa internacional procurou variações de velocidade relativa no espectro de absorção do Quasar HS 1549+1919.

Essas variações permitem medir a constante de estrutura fina (α ou Alfa), uma das constantes fundamentais do Universo, cujo valor caracteriza o comportamento de uma das forças fundamentais do Natureza – a força electromagnética.

A luz deste Quasar, situado a 11,5 mil milhões de anos-luz, atravessou três galáxias diferentes, respetivamente há 10, 9 e 8 mil milhões de anos atrás. Cada uma delas absorveu parte do espectro do Quasar, deixando nessa absorção pistas de como a força electromagnética se comportava em cada uma dessas épocas.

Tyler Evans (CAS, U. Swinburne), o primeiro autor deste artigo, explica que “nós dividimos a luz, de forma muito precisa, nas suas cores constituintes, produzindo um arco-íris com uma espécie de “código de barras” de cores em falta. Este padrão permite-nos medir o comportamento do electromagnetismo”.

A necessidade de usar os três grandes telescópios surge dos erros nas medições. É que, a existirem variações de Alfa, como alguns estudos anteriores sugeriam, estas serão muito pequenas.

Comparando as três medições é possível minimizar os erros de medição. Carlos Martins (Instituto de Astronomia e Ciências do Espaço/Centro de Astrofísica, Universidade do Porto), um dos co-autores do artigo, comenta que “para realizar estes testes, é necessário levar os atuais espectrógrafos até ao limite, e melhora-los é fundamental para a cosmologia moderna.”

Depois de corrigidos os erros, os dados dos três telescópios dão a mesma resposta: se nos últimos 10 mil milhões de anos houve alguma uma variação de Alfa, e por consequência, da força electromagnética, terá sido uma variação inferior a algumas partes por milhão.

Segundo Michael Murphy (CAS, U. Swinburne), outros dos co-autores do estudo “penso que esta terá sido a medição mais precisa do género, até à data”.

Além das possíveis variações de Alfa, este estudo serviu também para tentar desvendar um dos maiores enigmas da cosmologia moderna – a verdadeira natureza da Energia Escura. O estudo da energia escura é um dos objectivos do projecto FCT do CAUP: O Lado Escuro do Universo. Carlos Martins, o investigador principal deste projecto, diz que “estas novas técnicas são importantes para a preparação de testes semelhantes, a serem realizados pelo ESPRESSO, e pelo European Extremely Large Telescope (E-ELT, do ESO), dois projetos nos quais o CAUP está bastante envolvido”.

A física por detrás destas constantes fundamentais do Universo, como a constante de estrutura fina, é ainda um mistério para a cosmologia moderna. Estas aparecem no modelo padrão da física de partículas como parâmetros que não podem ser calculados, tendo de ser medidos em laboratório, com os respectivos valores inseridos à mão no modelo.

A existir, uma Grande Teoria Unificada terá de prever a existência e os valores destas constantes, além de explicar qual a sua dependência de outros parâmetros.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Português David Sobral ajuda a desvendar papel da rede cósmica

Uma grande simulação cósmica onde se salienta a rede cósmica, e todos os fenómenos complexos a acontecerem nos seus nodos. Com os novos resultados, passa a ser possível estudar a rede cósmica do Universo real e comparar os resultados com simulações.(Crédito: Vogelsberger et al., MIT/Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics)

Uma equipa internacional de astrónomos, da qual faz parte David Sobral, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), estudou pela primeira vez o papel da estrutura em larga escala do Universo distante, identificando a rede cósmica e os seus filamentos como tendo um papel fundamental na evolução de galáxias como a nossa.

O Universo, à sua maior escala, é composto por uma enorme rede cósmica. Ligados por enormes filamentos encontramos enxames, constituídos por centenas a milhares de galáxias, verdadeiras “cidades”.

Por outro lado, longe de enxames e filamentos encontram-se zonas de muita baixa densidade, quase vazias. Como se formam e evoluem galáxias como a nossa Via Láctea? De uma forma simples, pensa-se que a estrutura a larga escala, dominada por matéria escura, se tenha começado a formar muito cedo, a partir de pequenas flutuações iniciais no Universo primordial.

Este "esqueleto" do Universo deverá ter tido um papel importante na formação e evolução de galáxias, algo que era até agora muito difícil de estudar e observar.

A grande maioria da matéria do nosso Universo parece não interagir de forma alguma para além da atracção gravítica. Não a conseguimos ver directamente, mas sabemos que está lá pela forte atracção gravítica da mesma.

Designada por matéria escura, é de grande importância no estabelecimento da estrutura do Universo a larga escala. Sem ela, estrelas e galáxias nunca se teriam formado, e não estaríamos aqui.

David Sobral (IA e Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa) comenta: "Já se sabia que as galáxias que vivem no "campo" (em ambientes muito pouco densos) têm uma maior probabilidade de estarem a formar estrelas, enquanto as que vivem na “cidade” (enxames de galáxias) estão sobretudo "mortas".

No entanto, o papel da rede cósmica, e em particular dos filamentos gigantes que se pensa poderem ligar grandes enxames de galáxias, estava, até há pouco tempo, por compreender. Os nossos resultados mostram que os filamentos têm um papel fundamental na formação e evolução de galáxias.”

Estes resultados só foram possíveis fazendo uso de dados provenientes dos melhores telescópios do mundo (Os dados usados neste estudo são provenientes do Very Large Telescope, United Kingdom Infrared Telescope, Subaru Telescope e Hubble Space Telescope), em conjunto com um novo método de identificar e quantificar estruturas desenvolvido pela equipa.

Esta combinação única permitiu estudar uma mega-estrutura, identificada por David Sobral, e finalmente quantificar o papel da misteriosa rede cósmica. Descobriu-se que as galáxias que habitam os grandes filamentos da rede cósmica têm uma maior probabilidade de formar estrelas, evoluindo mais rapidamente.

Este facto poderá ser a explicação para as galáxias nos enxames serem tão pouco activas: se a maioria das galáxias for pré-processada em filamentos, poderão acabar como galáxias “mortas” quando chegarem até ao centro dos enxames.

"O grande objectivo agora é estender os nossos resultados a várias etapas da evolução do Universo, para sabermos como é que a rede cósmica influenciou a formação e evolução de galáxias ao longo dos vários milhares de milhões de anos desde o Big Bang. Será mais uma importantíssima peça do puzzle na nossa busca pela compreensão de como é que galáxias se formam e evoluem", conclui David Sobral.

A equipa responsável por este estudo, publicado recentemente no conceituado Astrophysical Journal (ApJ), é formada por Behnam Darvish (Universidade da Califórnia), David Sobral (IA, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e Observatório de Leiden), e outros investigadores do Caltech e das Universidades de Califórnia, Edimburgo e Durham.

Gabinete de Comunicação de Ciência - Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço
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quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Astronautas já podem beber cafés 'espresso' no espaço

Foto: Lavazza
Os astronautas da Estação Espacial Internacional (ISS) já podem degustar um bom café graças a uma máquina de café expresso concebida para superar as restrições impostas pela falta de gravidade no espaço.

A ISSpresso pesa 20 kg e chegou à ISS no final de Novembro, ao mesmo tempo que uma astronauta italiana da Agência Espacial Europeia (ESA), Samantha Cristoforetti.

Esta máquina com cápsulas "extraterrestres" é o fruto de uma colaboração entre a Argotec, uma empresa de engenharia italiana especializada na concepção de sistemas aeronáuticos e na preparação de alimentos consumíveis no espaço, e a Lavazza, uma marca italiana de café.

Cristoforetti, de 37 anos, é a primeira astronauta italiana, e chegou à ISS a bordo de uma nave russa Soyuz lançada de Baikonur, no Cazaquistão. A bordo seguiam ainda o americano Terry Virts e o russo Anton Chkaplerov.

A bordo da ISS estão actualmente seis astronautas: Cristoforetti, Virts e Chkaplerov juntaram-se ao americano Barry Wilmore e aos russos Alexander Samokutiaiev e Elena Serova.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Sonda New Horizons prepara-se para explorar Plutão e Charon


Depois de nove anos de viagem, a sonda americana New Horizons chegou finalmente perto de Plutão e saiu no sábado da sua hibernação para se preparar a lançar a a primeira exploração ao planeta-anão e da sua lua Charon. A nova fase da missão deverá começar a 15 de Janeiro de 2015.

A sonda vai estar ao mais perto de Plutão em meados de Julho de 2015.

A New Horizons tem como missão recolher dados sobre a geologia de Plutão e de Charon, de modo a estabelecer uma topografia.

Plutão tem 2.300 km de diâmetro, é mais pequeno que a Lua e a sua massa é 500 vezes mais fraca que a da Terra. O planeta tem cinco luas e a sua órbita em torno do Sol demora 247,7 anos.



"A New Horizons está a funcionar bem, a mais de quatro mil milhões de quilómetros da Terra, mas este é o momento de acordar e de começar a trabalhar", disse no sábado Alice Bowman, responsável
da missão no Laboratório de Física Aplicada da Universidade John Hopkins.

Desde o seu lançamento em Janeiro de 2006, a New Horizons esteve 1.873 dias em hibernação, ou seja, dois terços da sua viagem de nove anos. Esta paragem permitiu preservar as componentes electrónicas, os circuitos eléctricos bem como os sistemas de bordo. Permitiu também à Nasa reduzir custos de funcionamento da missão.

A sonda hibernou 18 vezes desde que foi lançada, o maior período durou 202 dias, e a última durou 99 dias. Um computador de bordo faz semanalmente uma análise sobre o estado de funcionamento da nave e envia uma mensagem para a Terra, que demora mais de 4 horas a chegar.

A nave transporta a bordo sete instrumentos, entre os quais se encontram espectómetros que vão fazer imagens em infra-vermelho e ultra-violeta, além de duas câmaras, das quais uma é telescópica e de alta resolução, dois potentes espectómetros de partículas e um detector de poeiras espaciais.

A atmosfera que rodeia Plutão, descoberta em 1988, torna impossível a colocação em órbita de uma nave em volta do planeta-anão, o que obriga a New Horizons a fazer uma observação a uma certa distância.



Última fase da missão: Observar três corpos celestes na Cintura de Kuiper

Depois de terminar a sua missão, a New Horizons vai continuar a sua viagem para tentar aproximar-se de alguns corpos celestes da Cintura de Kuiper, um vasto anel que se estende entre 30 a 55 UA do Sol e que se pensa ter-se formado aquando da criação do Sistema Solar, há cerca de 4,6 mil milhões de anos.


Graças ao telescópio espacial Hubble, a equipa que lançou a New Horizons identificou três corpos celestes interessantes na Cintura de Kuiper que merecem ser melhor observados, o que deverá acontecer em 2019.

Quantos planetas e planetóides tem o Sistema Solar?

A exploração a estes três objectos vai permitir melhor responder a esta pergunta.

Com um diâmetro de 25 a 55 km, os objectos transneptunianos situam-se a 1,5 mil milhões de kms de Plutão. Os objectos "1110113Y" e  "0720090f" são os mais prometedores.

Estes três corpos podem tornar-se os 18º 19º e 20º mundos a girar em torno do sol. Actualmente, 17 "mundos" fazem parte do Sistema Solar:  Mercúrio, Vénus, Terra, Marte, Ceres, Júpiter, Saturno, Urano, Neptuno, Plutão, Haumea (2003 EL61), Makemake (2005 FY9), Eris (Xena), 2007OR, Quoar, Sedna e Orcus, sem contar com as luas de alguns deles,

Há oito planetas, um planeta-anão, e outros são chamados planetóides, objectos transneptunianos e são candidatos ao título de planeta-anão.

Em Março de 2014, os cientistas descobriram o corpo celeste 2012 VP113 que supõem ser um planeta-anão,com um periélio (ponto da órbita mais próximo do Sol) a 80 UA do Sol. Até esta descoberta, Sedna era o planetóide com o mais longíquo periélio do Sistema Solar.

Depois desta última missão, a sonda vai ainda continuar a sua exploração até aos confins da Cintura de Kuiper, a cerca de 60 UA do Sol.

sábado, 6 de dezembro de 2014

Primeiro voo-teste da nave Orion foi um sucesso e Nasa já pensa em Marte

A cápsula Orion foi recuperada no Pacífico pelo USS Anchorage Foto: NASA
O primeiro voo-teste da cápsula espacial norte-americana 'Orion' correu muito bem, considerou na sexta-feira a Nasa, após as 4 horas e meia de voo da nova nave da agência espacial americana, sucessora do Space Shuttle.

A Orion, lançada como previsto às 13h05 (GMT+1) de sexta-feira, desde a base aérea do Cabo Canaveral, pousou no oceano Pacífico, a cerca de mil quilómetros das costas mexicanas da península da Baja California, graças à ajuda de três enormes paraquedas. 

Esta é a primeira nave norte-americana desde a Apolo capaz de transportar astronautas além da órbita terrestre e eventualmente até Marte.

Com 8,6 toneladas e forma semelhante à da cápsula Apolo, que partiu à conquista da Lua em 1969, a 'Orion' efectuou duas órbitas à Terra, a segunda das quais a 5.800 quilómetros de altitude, ou seja, a quase 14 vezes a distância a que a Estação Espacial Internacional se encontra do solo (420 quilómetros).

A cápsula entrou na atmosfera terrestre a mais de 32 mil km/hora e 10 minutos depois pousou no oceano.

A nave foi depois recuperada pelo navio de transporte anfíbio USS Anchorage, que a transportou até ao porto de San Diego, na Califórnia.

Este voo visava analisar os sistemas da cápsula e, em particular, o escudo térmico que a protege e que deve resistir a temperaturas de 2.200 graus celsius.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

NASA: Lançamento bem sucedido para primeiro voo-teste da cápsula Orion, sucessora do Space Shuttle


A cápsula Orion, que a agência espacial americana Nasa pretende que seja a sucessora do Space Shuttle, foi hoje lançada de Cabo Canaveral, na Florida, a bordo do foguetão Delta IV, eram 13h05 (hora do Luxemburgo).

Este primeiro voo-teste significa um investimento de biliões de dólares e tem o objectivo de preparar o regresso dos Estados Unidos às viagens espaciais tripuladas e sobretudo fora da órbita terrestre.

A cápsula vai dar duas voltas à Terra e alcançará 5.800 km de altitude, isto é, 15 vezes mais distante que o ponto onde a ISS (Estação Espacial Internacional) orbita o nosso planeta.

O voo deverá durar 4h24 e regressar ainda hoje à Terra, mergulhando no oceano Pacífico.






Orion vai permitir viajar mais longe que a órbita terrestre

Inicialmente, a cápsula Orion foi concebida para levar astronautas americanos de volta à Lua, como parte do programa Constellation da Nasa, mas este começou por ser cancelado devido a razões orçamentais pelo presidente Barack Obama, em 2010.

A Nasa resgatou então o design da cápsula, na qual investiu 4,7 mil milhões de dólares entre 2005 a 2009, e desenvolveu o conceito para enviar humanos até um asteroide ou até Marte nas próximas décadas.

Se este voo-teste e outros que estão previstos forem bem sucedidos, será uma excelente notícia para a Nasa, que ficou sem recursos para enviar os seus próprios astronautas até à ISS desde que encerrou, em 2011, sua frota de Space Shuttles, agora peças de museu.

Actualmente, os astronautas americanos dependem das naves russas Soyuz para ir e voltar da ISS.

Se os testes com a cápsula Orion forem conclusivos, isso acalmará um pouco os nervos dos especialistas espaciais, depois de dois voos comerciais ter acabado em desastre: o foguetão Antares, da empresa Orbital Sciences, explodiu em Outubro, quando viajava para a ISS e, apenas dois dias depois, um piloto morreu e outro ficou bastante ferido na explosão da nave da Virgin SpaceShipTwo.

Este voo-teste da Orion "é absolutamente o mais importante que a agência espacial terá feito este ano", disse William Hill, encarregado de desenvolvimento dos sistemas de exploração da Nasa.

A Orion pode vir a ser a primeira nave americana a viajar longe no espaço sideral, desde as missões Apolo, enviadas até à Lua nos anos 1960 e 1970.

O voo-teste visa avaliar o rendimento da cápsula diante de desafios-chave como a separação por estágios do foguetão, a elevada radiação e calor abrasador aquando da reentrada (c. 2.200°C), bem como a chegada em pára-quedas nas águas do Pacífico, a sudoeste de San Diego, na Califórnia.

Críticas ao projecto Orion

Os críticos do projecto Orion, que também incluiu a construção dos foguetões mais poderosos do mundo (Space Launch System, SLS), condenam o seu custo e a falta de atenção da administração americana, já a braços com problemas financeiros, que estes consideram mais importantes quea exploração espacial.

A última estimativa da Nasa indica que o desenvolvimento da SLS/Orion vai custar entre 19 e 22 mil milhões de dólares até 2021, muito acima dos 18 mil milhões estimados em 2011.

O primeiro voo-teste do Orion com tripulantes a bordo está previsto para 2021.

Depois disto, é um mistério qual será o destino exacto da nave. As missões futuras poderiam incluir uma viagem a um asteroide ou uma visita a Marte em 2030, embora a Nasa não tenha estabelecido nem planos, nem orçamento precisos.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Japão lança sonda Hayabusa-2, com missão semelhante à sonda Rosetta

Foto: Jaxa
O lançador japonês H-IIA lançou esta quarta-feira (3 de Dezembro) a sonda Hayabusa-2, que deverá "acometar" em Maio-Junho de 2018 no asteróide 1999JU3 (do tipo C, ou seja, principalmente composto por carbono, como 75% dos asteróides descobertos), um corpo com menos de 1km de diâmetro.

O lançamento estava inicialmente previsto para 30 de Novembro, mas teve de ser adiado devido ao mau tempo. Finalmente, o atraso demorou apenas quatro dias e o H-IIA descolou esta quarta-feira às 13h22 locais (5h22 no Luxemburgo), desde a base de Tanegashima, no sul do Japão.

Um dos objectivos de Hayabusa-2 é recolher poeiras do subsolo do asteróide, contem carbono e água, bem como materiais orgânicos virgens (não afectados por uma exposição milenar ao vento solar e à radiação), semelhantes aos que se pensa existiam no sistema solar primitivo e contribuiram à formação dos planetas, explicaram os cientistas da agência espacial nipónica, Jaxa.

A missão deverá desenrolar-se em várias fases.

Primeiro, em 2015, a sonda deverá completar uma órbita em torno da Terra, de modo a ganhar velocidade, sendo depois projectada em direcção do asteróide.

Hayabusa-2 deverá chegar perto do asteróide em 2018. Durante seis meses, a sonda vai observar o corpo celeste. Depois, está programada para enviar três rovers à superfície do corpo, semelhantes ao Philae, da missão Rosetta, mas mais pequenos, pesando cerca de 1,5kg cada um, equipados com câmaras e termómetros.

H2 vai também enviar o robot Mascot, desenvolvido pelas agências espaciais francesa e alemã, que se movimenta por pequenos saltos e que vai efectuar experiências científicas durante 12 horas.

Finalmente, a Jaxa prevê lançar um aparelho de 2 kg que deverá explodir na superfície do asteróide, de modo a formar um cratera. Nesse momento, Hayabusa-2 deverá colocar-se atrás do asteróide, para se proteger da explosão. Depois disso, a sonda está programada para aterrar três vezes no asteróide e recolher os materiais e poeiras do subsolo do corpo celeste.

A Hayabusa-2 é semelhante à sua predecessora Hayabusa-1, lançada em 2003 em direcção do asteróide Itokawa (ao qual chegou em 2010), mas conta com uma tecnologia mais avançada, graças às lições aprendidas com as avarias técnicas da primeira sonda.

A missão Hayabusa-2 deverá durar seis anos, estando previsto que a sonda regresse à Terra em 2020, com as amostras dos materiais recolhidos.

Fonte: Jaxa
O lançamento da sonda nipónica, acontece poucas semanas depois da histórica primeira "acometagem" do robot Philae da sonda europeia Rosetta no cometa "Chury", a mais de 500 milhões de quilómetros da Terra.

Um vídeo sobre a missão Hayabusa-2

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Missão Rosetta: Osiris revela verdadeira cor do cometa Chury

Foto: ESA

As fotografias até agora divulgadas do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko ("Chury"), onde o robot Philae da sonda Rosetta pousou no dia 12 de Novembro, eram todas a preto e branco, devido às limitações técnicas dos equipamentos em 2004, ano em que a sonda foi lançada para o espaço.

Mas, entretanto, a câmara da sonda Rosetta, a OSIRIS (Optical, Spectroscopic, and Infrared Remote Imaging System) Narrow Angle tratou todos os espectros das imagens do cometa, revelando a cor real do corpo.

A pesquisa, conduzida pela ESA em colaboração com o Centro Aeroespacial alemão, resultou numa imagem borrada devido às fotos que foram utilizadas para a leitura das frequências das cores.


terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Portugal passa a integrar programa da Estação Espacial Internacional

Foto: NASA
Portugal vai integrar dois novos programas científicos de exploração espacial, incluindo o da Estação Espacial Internacional (ISS), disse hoje à Lusa o ministro da Educação e Ciência, que participou numa reunião da Agência Espacial Europeia, no Luxemburgo.

“Há muito boas novidades para Portugal, que mantém a sua colaboração na Agência Espacial Europeia (ESA) nos programas nos quais já participava e que adere agora a dois novos: o Programa da Estação Espacial Internacional e o Programa de Exploração Lunar”, associado ao primeiro, explicou à agência Lusa Nuno Crato, depois de participar hoje na reunião da ESA.

O ministro da Educação e Ciência sublinhou o país “lucra com a sua participação na ESA a vários níveis”, quer pelo envolvimento de cientistas portugueses no trabalho da agência espacial, “que lhes permite utilizar a tecnologia mais sofisticada”, quer pela possibilidade de desenvolvimento da tecnologia e das empresas portuguesas.

“Estarmos na Estação Espacial Internacional é muito importante para nós e é a primeira vez que estamos. O Programa de Exploração Lunar é um programa novo, em que vamos estar desde o princípio. E, portanto, as nossas empresas de ‘software’, de construção relacionadas com o espaço vão participar neste esforço e vão poder ter encomendas destes programas”, declarou Nuno Crato.

O ministro sublinhou ainda que o Programa de Exploração Lunar “é muito importante para a Europa, porque há uma grande competição nesse domínio”. Apesar de a participação em programas específicos implicar o pagamento de quotas adicionais, para além daquela que já é paga para pertencer à ESA, Nuno Crato garantiu que estas novas participações não aumentam o valor das contribuições pagas anualmente pelo país, uma vez que os valores pagos pela participação em programas mais antigos vão diminuindo à medida que vão sendo executados.

“A nossa colaboração global é sensivelmente a mesma”, disse, ressalvando ainda que é preciso ter em conta o retorno do investimento feito.

O ministro da Educação e Ciência referiu que, por cada milhão de euros investido por Portugal nestes programas, é esperado um retorno pelo menos de igual valor, “mas isso não está garantido”.

As empresas portuguesas competem para atingirem um valor de encomendas pelo menos igual àquele que foi investido, mas, “ao não conseguirem apresentar propostas que atinjam os níveis de exigência tecnológica necessária, não conseguem esses contratos”.

“Isso significa um desafio que é importante para toda a indústria portuguesa, porque não se trata de encomendas rotineiras, mas sim de alto valor de incorporação tecnológica, ou seja, desafios para a indústria portuguesa e que a obrigam a desenvolver-se”, disse. Ainda assim, Nuno Crato afirmou que tem sido possível atingir nos últimos anos “um retorno de 100%” e até mesmo ultrapassá-lo.

Luxemburgo: ESA dá luz verde para construir Ariane 6


Decorreu esta terça-feira, 2 de Dezembro, no Luxemburgo, uma reunião do Conselho Ministerial (C/M14) da Agência Espacial Europeia (ESA), onde foi dado "luz verde" à construção do foguetão Ariane 6, que deverá suceder ao actual Ariane 5, a partir de 2020.

Na reunião de hoje foram discutidas três resoluções:

1) a resolução sobre o acesso da Europa ao espaço, que reconhece para a Europa os valores estratégico e socioeconómico na manutenção do acesso independente, confiável e acessível ao espaço para clientes institucionais e comerciais e realça os novos princípios de governança relacionados com a exploração do próximo lançador europeu Ariane 6 e da evolução do Vega, Vega-C;

2) a resolução sobre a estratégia de exploração espacial da Europa, abordando os três objectivos da ESA (órbita baixa da Terra (LEO), Lua e Marte) e, em particular para o destino LEO, o programa da Estação Espacial Internacional (ISS);

3) e, por fim, a resolução sobre a evolução da ESA.

Ariane 5, um foguetão fiável com mais de 60 lançamentos bem sucedidos 

As actividades espaciais requerem acesso independente ao espaço. Por isso, a decisão sobre a próxima geração de lançadores da Europa tem uma importância fundamental.

O Ariane 5, que teve origem na Reunião Ministerial de 1985, é um caso notável de sucesso europeu: conta já com mais de 60 lançamentos bem sucedidos, assegurou mais de 50% do mercado de serviços de lançamento e gerou benefícios económicos diretos para a Europa superiores a 50 mil milhões de euros.

No entanto, o mercado mundial de serviços de lançamento está a mudar rapidamente, tanto na oferta e como na procura. Do lado da oferta, há agora novos prestadores não-europeus de serviços de lançamento com preços altamente competitivos, criando desafios ao modelo de negócio do Ariane 5. Do lado da procura, os satélites também estão a mudar.

O mercado comercial, que consiste principalmente em satélites de telecomunicações, favorece a introdução da propulsão elétrica, o que poderá acabar com a tendência das últimas décadas de aumento progressivo do volume dos satélites e vai exigir novas estratégias na colocação de satélites em órbita. Ao mesmo tempo, o lançamento de satélites institucionais europeus tem aumentado, em particular com a criação das constelações Galileu e Copérnico, o que gera um mercado bastante estável para lançamentos regulares de satélites de média dimensão.

Ariane 6, a partir de 2020

Em resposta a estas rápidas mudanças, o Executivo da ESA e a indústria de lançadores europeus definiram um lançador Ariane 6 modular com duas configurações para servir os segmentos de lançamento médio e pesado a partir de 2020, e um sistema de lançamento Vega atualizado (o Vega C) para servir o segmento do pequeno lançamento.

O Ariane 6 vai beneficiar da reutilização optimizada dos resultados intercalares (Midterm Evolution) do Ariane 5, de investimentos e da utilização de um motor de foguetão com propulsor sólido (P120C) comum à primeira fase do Vega C e ao propulsor do Ariane 6.

No Luxemburgo, foi pedido aos ministros que decidissem sobre o desenvolvimento do Ariane 6 e do Vega C os quais, por causa das suas características modulares e de flexibilidade, poderão satisfazer as exigências do mercado institucional europeu e competir no mercado mundial.

Estas decisões estão associadas a uma nova governança para o sector europeu de lançadores, criando responsabilidades acrescidas para a indústria e para os Estados participantes, que decidiram sobre a continuação do Ariane 6 em 2016 em função de um conjunto de critérios técnicos e financeiros, incluindo os compromissos respectivos na fase de exploração comercial.

O orçamento necessário dos Estados-Membros para a conclusão do Ariane 6 e do programa de desenvolvimento Vega C é de 3,8 mil milhões de euros.

Exploração espacial e a ISS 

Para o sucesso dos três objectivos de exploração da ESA (LEO, Lua, Marte), a Estação Espacial Internacional (ISS) é um elemento fundamental.

Além das actividades de investigação de valor inestimável que são realizadas a bordo da ISS, a Estação proporciona experiências muito ricas para a ESA e os para os seus parceiros internacionais que serão essenciais para planear as próximas etapas da exploração espacial.

As decisões dos ministros destinam-se a apoiar as actividades de exploração da ISS pela ESA para os próximos três anos (até 2017), com o custo de 820 milhões de euros, e a apoiar as actividades de investigação (Programa ELIPS), com financiamento adicional.

Para contribuir para os custos de operação comum da ISS e aproveitando a experiência adquirida com o ATV, a ESA está a desenvolver o novo veículo de tripulação multifunções (Multi-Purpose Crew Vehicle Service Module, MPCV-ESM) da NASA.

O financiamento para o desenvolvimento do MPCV-ESM está incluído nos 820 milhões de euros a serem financiados pelo C/M14.

Destino Lua

Em relação ao "destino Lua", a ESA propõe uma discussão preparatória sobre as contribuições para as missões da Rússia Luna-Resource Lander (lançamento previsto para 2019) e Lunar Polar Sample Return (com lançamento previsto no início dos anos 2020).

Programa ExoMars 

A decisão definitiva sobre estas contribuições será tomada na Reunião Ministerial de 2016. Em relação ao "destino Marte", o ambicioso programa ExoMars da ESA, envolvendo missões a Marte em 2016 e 2018, também está em cima da mesa para ser assinado, de modo a garantir a execução do programa ExoMars.

Além disso, o programa de preparação de exploração robótica de Marte (Mars Exploration Robotic Preparation Programme, MREP-2) é proposto para novas subscrições, para permitir a preparação adequada das futuras atividades de exploração, conduzindo a uma ampla participação na missão Mars Sample Return em que a Europa deve estar envolvida como um parceiro de pleno direito.

O futuro da ESA 

O terceiro tema na agenda dos ministros no Luxemburgo, a evolução da ESA, centrou-se no objectivo de criar condições para que a ESA mantenha o seu papel de líder mundial entre as instituições dedicadas ao espaço, e abordou as relações-chave da ESA com os seus parceiros e respectiva eficiência.

Os principais parceiros da ESA são: os seus Estados-Membros, a comunidade científica, a indústria, a União Europeia, outros Estados europeus não-membros e Estados não europeus.

Estas relações estão intrinsecamente interligadas e são impulsionadas pelo objectivo comum de criar um sector espacial europeu competitivo e assegurar o máximo retorno sobre o investimento público no espaço.

O Conselho Ministerial anterior, em 2012, decidiu criar um Fórum de Alto Nível que envolvesse a indústria, os Estados.Membros e o executivo da ESA. O Fórum reuniu-se duas vezes e fez uma série de recomendações ao diretor geral da ESA.

A mais importante foi a de pedir que seja dada maior responsabilidade à indústria nos programas de I&D da ESA, com maior partilha de riscos e de retornos. O Fórum também propôs que a ESA aumentasse a sua presença no desenvolvimento de serviços espaciais e se preparasse para ser um agente económico no sector espacial de envio de dados.

Desde 2012, foram tomadas medidas para fortalecer os relacionamentos da ESA com os seus Estados-Membros, procurando melhorar a coordenação e a cooperação nos programas espaciais na Europa, através da partilha de informações sobre os programas espaciais nacionais.

A relação da ESA com a UE, tanto na definição dos programas como no contexto em que o sector espacial europeu actua é de importância vital para a Europa. O C/M12 mandatou o director geral da ESA a elaborar e avaliar cenários conjuntos com a Comissão Europeia para responder a uma série de objectivos de desenvolvimento desse relacionamento.

Depois de intensas discussões entre as delegações dos Estados-Membros, os ministros foram convidados a confirmar a preferência dos Estados-Membros pela relação entre a ESA e a UE que mantém a ESA como uma organização do espaço intergovernamental independente de classe mundial e faz da ESA o parceiro de longo prazo escolhido pela UE para a definição e implementação da Política Espacial Europeia, juntamente com os respectivos Estados-Membros.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O céu de Dezembro

Marte e a Lua ao anoitecer do dia 25 de Dezembro 2014. (Imagem: Ricardo Cardoso Reis/Stellarium)

O planeta Marte continua a acompanhar-nos ao início da noite. Durante todo o mês de Dezembro, estará visível a cerca de 20 graus acima do horizonte, logo ao pôr-do-Sol, virado a sudoeste.

No dia 6, o nosso satélite chega à fase de Lua Cheia, e no dia 14, atinge o quarto minguante. Nesse dia ocorre o pico da chuva de estrelas da Geminíadas, cujo radiante (o ponto no céu de onde parecem vir os meteoros) se encontra na direção da constelação de Gémeos.

Juntamente com as Quadrântidas no início de Janeiro, estas duas chuvas de meteoros são as maiores do ano. Apesar do pico das Geminíadas deste ano estar previsto para o meio-dia, esta chuva mantém uma taxa próxima do máximo, de 120 meteoros por hora (em céus escuros), durante quase um dia.

Por isso, a madrugada e o anoitecer de dia 14 de Dezembro serão as alturas mais propícias para tentar ver Geminíadas.

No dia 19 a Lua passa a apenas 1 grau de Saturno, mas esta passagem “a rasar” ocorre quando estão os dois abaixo do horizonte. Na altura em que estarão ambos visíveis, por volta das 6 da manhã, já a Lua se afastou e estará a quase 6 graus do planeta.

Às 23h03 do dia 21 ocorre o solstício de Inverno (no hemisfério Norte), assinalando-se assim o fim do Outono. Este é o dia mais pequeno do ano, e aquele em que o Sol, ao meio-dia, atinge a altura mínima de todo o ano.

Nesse dia, o Norte de Portugal irá ver o Sol nascer às 7h56 e pôr-se às 17h09, totalizando apenas 9h13m de luz o dia.

No Algarve nasce às 7h41 e põe-se às 17h18 (9h47m de duração do dia), enquanto no Funchal, nascimento e ocaso ocorrem pelas 8h06 e 18h06 (10h de luz), respectivamente.

Em Ponta Delgada, já que os Açores têm menos uma hora que o Continente, o Sol irá nascer às 8h54 e pôr-se às 18h27 (somando 9h33m de dia).

Dia 22 a Lua atinge a fase de Lua Nova, e 3 dias depois, em pleno dia de Natal, o nosso satélite, em fino crescente, passará a menos de 5 graus de Marte. Mas ao anoitecer, quando ambos ficam visíveis, já estarão a cerca de 8 graus um do outro.

Dia 28 a Lua chega ao quarto crescente.

Ao anoitecer de 31 de Dezembro, e se tiverem visão completamente desimpedida para o horizonte virado a Sudoeste (um pouco à esquerda do pôr-do-Sol), pode ser que consigam reparar no regresso do planeta Vénus como “estrela da tarde”. Mas isto será só para os mais atentos, pois o planeta estará a menos de 10 graus acima do horizonte, e em menos de uma hora desaparecerá abaixo do horizonte.

No dia seguinte começa um novo ano, mas este não é apenas mais um, pois 2015 é o Ano Internacional da Luz.

Ricardo Cardoso Reis (IA/UPorto)
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