terça-feira, 30 de setembro de 2014

Enxame Messier 54 não pertence à Via Láctea

O enxame estelar globular Messier 54 Foto: ESA

Esta nova imagem obtida pelo VLT Survey Telescope, no Observatório do Paranal do ESO no norte do Chile, mostra uma vasta coleção de estrelas, o enxame globular Messier 54. Este enxame parece muito semelhante a muitos outros, no entanto tem um segredo.

O Messier 54 não pertence à Via Láctea, mas sim a uma pequena galáxia satélite, a galáxia anã do Sagitário. Este facto permitiu aos astrónomos usarem o Very Large Telescope (VLT) para testarem se, tal como na Via Láctea, existem inesperados níveis baixos do elemento lítio em estrelas fora da nossa Galáxia.

Encontram-se em órbita da Via Láctea mais de 150 enxames estelares globulares, esferas de centenas de milhares de estrelas velhas, que datam da formação da galáxia. Um destes objectos, assim como vários outros na constelação do Sagitário, foi descoberto no final do século XVIII pelo caçador de cometas francês Charles Messier, que lhe deu a designação de Messier 54.

Durante mais de 200 anos depois da sua descoberta, pensou-se que o Messier 54 seria semelhante a outros enxames globulares da Via Láctea. No entanto, em 1994 descobriu-se que este objecto se encontrava efectivamente associado a uma galáxia distinta - a galáxia anã do Sagitário. Descobriu-se que o enxame se encontrava a uma distância de cerca de 90 mil anos-luz, ou seja, mais do que três vezes a distância da Terra ao centro galáctico.

Níveis de lítio em Messier 54 são os mesmos dos da Via Láctea 

Os astrónomos observaram agora o Messier 54 com o VLT no intuito de tentar solucionar um dos mistérios da astronomia moderna - o problema do lítio. A maior parte do elemento químico lítio que se encontra actualmente no Universo foi produzido durante o Big Bang, assim como o hidrogénio e o hélio, se bem que em quantidades muito menores. Os astrónomos conseguem calcular de modo muito preciso quanto lítio é que se espera encontrar no Universo primordial e a partir desse valor podem calcular quanto lítio é que deve estar nas estrelas velhas.

No entanto, os números não coincidem - há cerca de três vezes menos lítio nas estrelas do que o esperado. Este é um mistério que tem perdurado, apesar de várias décadas de trabalho.

Até recentemente apenas tinha sido possível medir a quantidade de lítio existente em estrelas da Via Láctea. Mas agora, uma equipa de astrónomos liderados por Alessio Mucciarelli (Universidade de Bolonha, Itália) usaram o VLT para calcular a quantidade de lítio existente numa selecção de estrelas do Messier 54. A equipa descobriu que os níveis de lítio encontrados são próximos dos que se observam em estrelas da Via Láctea.

Por isso, qualquer que seja o fenómeno responsável pela perda de lítio, não é algo que aconteça apenas na Via Láctea. Esta nova imagem do enxame foi criada a partir de dados do VLT Survey Telescope (VST), instalado no Observatório do Paranal. Para além de mostrar o enxame propriamente dito, a imagem revela também a extraordinária “floresta densa” de estrelas pertencentes à Via Láctea que se encontram em primeiro plano.

domingo, 28 de setembro de 2014

Equipa liderada por David Vaz estuda geologia de Marte

David Vaz, do Centro de Geofísica 
da Universidade de Coimbra (UC)

Pela primeira vez, métodos de datação morfológica de falhas utilizados na Terra foram aplicados em Marte para estimar as taxas de erosão do planeta vermelho.

O estudo, desenvolvido por uma equipa internacional coordenada pelo investigador David Vaz, do Centro de Geofísica da Universidade de Coimbra (UC), foi publicado este ano numa das mais importantes revistas das ciências planetárias - "Earth and Planetary Science Letters" (http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0012821X14003240).

A aplicação das mesmas técnicas utilizadas na Terra permitiu verificar que os movimentos das falhas tectónicas são muito maiores do que se pensava até agora, o que implica que a crosta marciana teve um grau de mobilidade muito maior do que era anteriormente assumido pela comunidade científica.

Os resultados indicam também que, pelo menos nos últimos 3 mil milhões de anos, as condições atmosféricas na superfície de Marte terão sido hiperáridas (com taxas de erosão mil vezes menores do que as existentes na Terra).

Os resultados do estudo, segundo David Vaz, «são relevantes para compreender a história geológica de Marte e avaliar o grau de mobilidade da crosta deste enigmático planeta. Estes resultados permitem também verificar que Marte é cada vez mais um planeta deserto e inóspito».

As técnicas foram aplicadas em duas regiões com diferentes idades, mas os investigadores pretendem estender o estudo a todo o planeta, o que permitirá datar e compreender as mudanças climáticas que ocorreram ao longo da história geológica de Marte.´

Cristina Pinto (Universidade de Coimbra) 
© 2014 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Primeira sonda indiana chega a Marte

Foto: ISRO

A Índia conseguiu nesta quarta-feira, 24 de Setembro, fazer chegar uma sonda à órbita de Marte, um sucesso para esta primeira missão do país asiático ao planeta vermelho, anunciou o primeiro-ministro Narendra Modi, o que fez a nação ingressar na história espacial.

"A Índia conseguiu chegar a Marte. Felicitações a todos vocês, ao país inteiro. A história foi escrita hoje", disse o primeiro-ministro na sede da missão, pilotada pela Agência Espacial Indiana (ISRO), em Bangalore, no sul do país.

A sonda Mars Orbiter Mission (MOM) - também chamada de Mangalyaan pelos indianos -, lançada a 5 de Novembro de 2013, foi concebida e desenvolvida em tempo recorde e com um orçamento mínimo, menos do que um filme de Bollywood.

Desta maneira, a Índia conquistou o seu objectivo de ser o primeiro país da Ásia a chegar a Marte.

Até agora, apenas Estados Unidos, Rússia e Europa tinham conseguido alcançar tal feito.

Com um orçamento de 74 milhões de dólares, a missão indiana custou uma fracção do custo da sonda MAVEN da Nasa americana, colocada na órbita marciana com êxito, no último domingo.

"Conseguimos logo à primeira tentativa. A ISRO desenvolveu esta sonda espacial em tempo recorde de três anos, todos os indianos estão orgulhosos de vocês", disse Modi, diante dos membros da agência espacial.

O líder indiano rsalientou que o orçamento desta missão foi inferior ao custo do filme de ficção científica "Gravidade", produzido em Hollywood, e que foi estimado em 100 milhões de dólares.

A sonda indiana está equipada com sensores destinados a medir a presença de gás metano na atmosfera de Marte, o que reforçaria a hipótese da existência de uma forma de vida primitiva neste planeta.

A sonda vai dar voltas na órbita de Marte durante seis meses, a uma distância de 500 km da superfície do planeta. No entanto, o robot Curiosity, da Nasa, que chegou a Marte em 2012, não detectou a presença de metano, gás que frequentemente é sinal de actividade biológica, segundo um estudo publicado em Setembro de 2013.

Este sucesso científico da Índia vem fortalecer a reputação tecnológica e industrial do país, que produz, entre outros, o carro mais barato do mundo, e que se impõe assim como líder da inovação a baixo custo.

A missão espacial indiana foi concebida de acordo com o princípio do "Jugaad", algo tipicamente indiano, que poderia se aproximar ao "sistema D" (francês), e que consiste em encontrar a solução mais engenhosa e menos onerosa possível ao mesmo tempo. Inclusive o foguetão que propulsou a sonda Mars Orbiter, de cor dourada e do tamanho de um pequeno automóvel e que era considerado pouco potente para esta missão.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Sonda norte-americana Maven entra na órbita de Marte


A sonda espacial norte-americano Maven, encarregada de desvendar os mistérios do desaparecimento de grande parte da atmosfera de Marte num passado longínquo, realizou com sucesso, esta segunda-feira, a entrada na órbita do planeta vermelho, informou a NASA.

A sonda espacial norte-americano Maven, encarregada de desvendar os mistérios do desaparecimento de grande parte da atmosfera de Marte num passado longínquo, realizou com sucesso, esta semana, a entrada na órbita do planeta vermelho, informou a NASA.

A Maven (sigla inglesa para Evolução Volátil e Atmosférica de Marte) entrou na órbita marciana ao fim de dez meses de viagem e depois de ter percorrido 711 milhões de quilómetros.

A nave, que vale cerca de 500 milhões de euros, deverá começar a funcionar em Novembro deste ano, alimentada com energia solar, debruçando-se, pela primeira vez na história das missões a Marte, sobre na atmosfera do planeta.

Esta notícia foi também publicada no site do jornal CONTACTO

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Da génese violenta das galáxias em disco

Distribuição do gás molecular em 30 galáxias em fusão Fonte: ESA

Durante décadas os cientistas acreditaram que da fusão de galáxias resultavam geralmente galáxias elípticas. Agora, e pela primeira vez, os investigadores, com o auxílio do ALMA e um conjunto de outros rádio telescópios, descobriram provas directas de que as galáxias em fusão podem também dar origem a galáxias de disco e que este fenómeno é até bastante comum.

Este resultado surpreendente pode explicar porque é que existem tantas galáxias em espiral como a Via Láctea no Universo. 

Uma equipa de investigação internacional liderada por Junko Ueda, pós-doutorando da Sociedade Japonesa para a Divulgação da Ciência, fez observações surpreendentes que mostram que a maioria das colisões galácticas no Universo próximo - entre 40 e 600 milhões de anos-luz de distância da Terra - dão origem às chamadas galáxias de disco.

As galáxias de disco - que incluem as galáxias em espiral como a Via Láctea e as galáxias lenticulares - definem-se como possuindo regiões de gás e poeira em forma de panqueca e são bastante diferentes da categoria das galáxias elípticas.

É largamente aceite, desde há algum tempo, que as galáxias de disco em fusão dão eventualmente origem a uma galáxia de forma elíptica. Durante estas interacções violentas as galáxias não ganham apenas massa quando fusionam ou se canibalizam uma à outra, mas também modificam a sua forma ao longo do tempo cósmico e por isso mudam de tipo.

Simulações de computador dos anos 1970 prediziam que a fusão entre duas galáxias de disco comparáveis entre si resultaria numa galáxia elíptica. As simulações apontam assim para que actualmente a maioria das galáxias sejam elípticas, o que contradiz as observações que mostram que mais de 70 % das galáxias são de facto galáxias de disco.

No entanto, algumas simulações mais recentes sugeriram que as colisões poderiam também dar origem a galáxias de disco. De modo a identificar de maneira observacional as formas finais das galáxias depois da fusão, o grupo de cientistas estudou a distribuição de gás em 37 galáxias que se encontram nos estádios finais de fusão.

Foi utilizado o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) e vários outros rádio telescópios para observar a emissão do monóxido de carbono (CO), um indicador de gás molecular. 

O trabalho da equipa é o maior estudo do gás molecular em galáxias feito até à data e proporciona uma perspectiva única de como a Via Láctea se pode ter formado. O estudo revelou que quase todas as fusões mostram regiões de gás molecular em forma de panqueca e são por isso galáxias de disco em formação.

Ueda explica: “Pela primeira vez temos evidências observacionais de que a fusão de galáxias resulta em galáxias de disco e não em galáxias elípticas. Este é um grande e inesperado passo em frente na compreensão do mistério do nascimento de galáxias de disco.” Há, no entanto, ainda muito por descobrir.

Daisuke Iono, do NAOJ e da Graduate University for Advanced Studies, co-autor do artigo científico que descreve este trabalho, acrescenta: “No seguimento deste trabalho temos agora que nos focar na formação de estrelas nestas galáxias de disco, necessitando também de olhar para o Universo mais distante. Sabemos que a maioria das galáxias no Universo mais longínquo possui discos.

No entanto, não sabemos se as fusões de galáxias são também responsáveis por isso, ou se estes objetos se formaram de gás frio que vai gradualmente caindo na galáxia. Talvez tenhamos descoberto um mecanismo geral que se aplica ao longo de toda a história do Universo.”

domingo, 21 de setembro de 2014

Primeiros resultados da sonda Rosetta excluem presença de gelo no cometa "Churi"


As primeiras imagens enviadas pela sonda espacial europeia Rosetta permitiram apurar a inexistência de gelo no cometa Churyumov-Gerasimenko (67P/C-G), segundo os primeiros resultados.

Segundo um dos cientistas da Missão Rosetta, Fabrizio Capaccioni, a temperatura detectada pelas primeiras imagens enviadas pela sonda, no início de Agosto, revelam que o cometa é "demasiado quente para ter a presença de gelo", ao contrário do que se previa, uma vez que se encontra a cerca de 555 milhões de quilómetros de distância do Sol, três vezes mais do que a Terra.

Capaccioni, da VIRTIS - Visible and Infrared Thermal Imaging Spectrometer (espectómetro que mede a temperatura) admitiu que não é possível ainda determinar a temperatura certa de cada fragmento do cometa, mas no geral deverá rondar 70º Celsius negativos.