O ministro da Economia luxemburguês, Etienne Schneider Foto: JLC |
O ministro da Economia do Luxemburgo, Etienne Schneider, espera fazer aprovar no Parlamento a “Lei do Espaço” até final do ano, criar em 2018 uma agência espacial nacional e um Fundo Espacial, para impulsionar este novo setor económico, que o Governo fixou como aposta em 2016.
“Fazer dinheiro!”, tal foi a resposta pragmática e direta do ministro da Economia, Etienne Schneider, quando um anónimo lhe perguntou: “Qual o objetivo final do Luxemburgo ao criar uma agência espacial e apostar na exploração de asteróides?”.
A pergunta foi feita durante o ’Space Forum’ (Fórum do Espaço) do ICT Spring, o Encontro das Novas Tecnologias e do Espaço (este assunto apenas figura no evento desde 2016), que decorreu a 9 e 10 de maio em Kirchberg, pelo oitavo ano consecutivo.
Um bilhete para Marte
“Até ao fim deste ano deverá estar criado o quadro legal para que empresas sedeadas no Luxemburgo possam explorar os recursos naturais do espaço, o ’space act’ (Lei do Espaço), como alguns lhe chamam. Eu gostaria de ver criada a Agência Espacial Luxemburguesa antes de outubro de 2018 [altura das próximas legislativas], porque a oposição já me comprou um bilhete só de ida para Marte”, brincou Schneider, deixando indiretamente o recado que se os cristãos-sociais (CSV) vierem a governar podem não ver este projeto como prioridade.
“Vamos criar também um Fundo Nacional do Espaço para financiar a agência espacial. A agência espacial luxemburguesa não será uma entidade estatal, mas uma empresa, uma parceria público-privada entre companhias do ramo espacial e institutos públicos luxemburgueses de investigação e tecnologia, e que terá fins principalmente comerciais.
Ou seja, as missões serão decididas consoante o interesse económico que suscitarem”, revelou o ministro, desmistificando assim o sonho de muitos de verem nascer no país algo como uma NASA luxemburguesa.
Schneider foi poético ao citar “Space Oddity” e “Life on Mars” de David Bowie. “Ele inspirou-me a mim e o espaço inspirava-o a ele”. Mas logo voltou à Terra: “Não temos as infraestruturas nem a capacidade para termos baseados os elementos normais de uma indústria espacial pesada no Luxemburgo”, explicou. O ministro disse que a iniciativa SpaceResources.lu, que o seu ministério lançou em 2016 com o intuito de explorar os recursos naturais do espaço é algo “natural”, que se inscreve na “tradição de precursor do Luxemburgo na indústria espacial”.
E recordou que em 1985 o Governo luxemburguês criou a SES-Société Européenne de Satélites, que é hoje a maior operadora de satélites de telecomunicações do mundo, projeto que começou por ter muita resistência da sociedade e até do parlamento luxemburguês. Schneider revelou ainda que o Governo procura atualmente outros executivos que apoiem o Grão-Ducado para conseguir levar a debate na ONU a alteração do Tratado do Espaço de 1967, que é omisso na questão da exploração dos recursos naturais do espaço.
A Universidade e o LIST, Instituto de Ciência e Tecnologia do Luxemburgo, estão já a trabalhar nesta área, disse o ministro, elogiando o espectrómetro que o LIST conseguiu miniaturizar e que permite determinar os materiais existentes em asteróides.
O titular da pasta da Economia recordou que este novo setor de atividade, a desenvolver em paralelo com o da logística, visa diversificar a economia nacional e, a termo, diminuir a dependência que o país tem do setor financeiro.
Produzir robôs em massa... no Luxemburgo
Jim Keravala, diretor da OffWorld, anunciou que a empresa vai instalar-se no Grão-Ducado e vai começar a produzir robôs em grande escala a partir de 2019. Os robots que Keravala tenciona produzir no Grão-Ducado têm o tamanho de formigas e visam fornecer o setor espacial luxemburguês, bem como outras empresas no estrangeiro.
A notícia foi dada no mesmo debate em que participou o ministro da Economia, que elogiou a iniciativa.
Baseada em Los Angeles, a OffWorld pretende instalar uma filial no Luxemburgo em 2018 e abrir uma unidade de produção no ano seguinte.
“Os nossos minirobôs são aparelhos inteligentes do tamanho de formigas, pequenos mas robustos, altamente adaptáveis a qualquer tarefa ou missão, seja num asteróide, planeta, satélite ou sonda, são modulares, reconfiguráveis, podem autoreparar-se e autoreplicar-se, e têm uma enorme capacidade de ’deep learning’ (aprendizagem autónoma)”, explicou o patrão da empresa americana.
O primeiro trilionário “O setor espacial, que tem globalmente um volume de negócios que já se eleva hoje a milhares de milhões de dólares, pode rapidamente tornar-se um negócio trilionário”, disse Chris Lewicki, presidente da americana Planetary Resources, que trabalha há um ano com a SpaceResources.lu.
Lewicki retomou assim uma ideia lançada em 2015 pelo astrofísico Neil deGrasse Tyson, diretor do Observatório de Nova Iorque, que disse que o primeiro trilionário do mundo seria aquele que investisse na exploração de minérios do espaço, como o ouro e a platina.
“Quando há potencialidades económicas há sempre investidores privados que aparecem”, disse, por seu lado, Jean-Jacques Dordain, ex-diretor da Agência Espacial Europeia (ESA) e atual conselheiro do ministro Schneider em assuntos do espaço.
O Governo luxemburguês deve agora pensar em abrir “avenidas” para facilitar as colaborações entre o setor privado e o setor público neste ramo, disse Lewicki, como um recado ao ministro.
Evocando empresas como a Space X, a Blue Origin (lançadores de foguetões e satélites) ou a Bigelow (habitação orbital e lunar), Lewicki considera que “a revolução industrial espacial” terá as mesmas caraterísticas da revolução industrial do séc. XIX, e que vai mexer com todos os setores, desde o comércio aos transportes, passando pela habitação, a saúde, etc.
O americano aproveitou para anunciar que a sua empresa, que tem uma filial no Luxemburgo desde 2016, está a recrutar talentos, desde engenheiros a grafistas. “Vamos trabalhar cada vez mais no espaço e a Terra será a nossa nova zona residencial, que deve ser protegida a todo o custo, até porque não podemos esgotar os recursos naturais do nosso planeta quando existem recursos inesgotáveis no espaço”, disse Dordain numa nota mais ambientalista.
O ICT Spring atraiu durante dois dias cerca de cinco mil visitantes, e contou com a participação de mais de 500 empresas e uma centena de conferencistas de 72 países do ramo das novas tecnologias, robótica, inovação, indústria digital, cibersegurança, fintech e ciências do espaço.
José Luís Correia,
in Contacto, 17/05/2017
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