(Vídeo: ESA)
Luxemburgo, 21 de Março - A Agência Espacial Europeia (ESA) revelou hoje a imagem da primeira
luz do Universo, um fóssil cosmológico de algo que surgiu há mais de 13
mil milhões de anos, pouco depois do Big Bang.
Recolhida pelo
telescópio Planck, a imagem é a mais precisa jamais captada do Universo
na sua primeira infância e poderá ajudar a explicar a criação e expansão
do Universo.
"É um passo gigante na compreensão das origens do
Universo", disse o diretor da ESA, Jean-Jacques Dordain, numa
conferência de imprensa em Paris.
Com 50 milhões de 'pixels', a
imagem acrescenta alguma precisão a algumas teorias cosmológicas e
define mais precisamente a composição do Universo, assim como a sua
idade - é 80 milhões de anos mais velho do que se previa.
"Esta
imagem é a mais próxima do Big Bang jamais realizada. Estamos a olhar
para 13,8 mil milhões de anos atrás", acrescentou Dordain, explicando
que a compreensão que a ciência tem da formação do Universo ficou hoje
20 vezes melhor do que antes.
O mapa é composto de informação
reunida pelo satélite Planck, lançado em 2009 para estudar a Radiação
Cósmica de Fundo em Microondas - os resíduos da radiação emitida quando o
Universo começou a arrefecer após o Big Bang.
"O que estamos a
ver é uma imagem do Universo como ele era 380.000 anos após o Big Bang",
quando a sua temperatura era de 3.000 graus centígrados, disse aos
jornalistas George Efstathiou, diretor do instituto Kavli para a
Cosmologia na Universidade de Cambridge.
Antes disso, o Universo
era tão quente que nenhuma luz podia sair dele. O telescópio Planck
capturou por isso, na integralidade do céu, os vestígios fósseis dos
primeiros fotões (grãos de luz) que surgiram no cosmos.
Hoje, esta
radiação fóssil está a uma temperatura ultra fria, apenas 3°C acima do
"zero absoluto" (-273°C) e é invisível aos olhos humanos, sendo apenas
detetada através de ondas rádio.
Salvo algumas anomalias que vão
dar trabalho aos teóricos nos próximos anos, os dados agora revelados
"corroboram de forma espetacular a hipótese de um modelo do Universo
relativamente simples", plano e em expansão, adianta a ESA.
George
Efstathiou, que hoje comentava a descoberta na sede da ESA, disse que a
imagem se "parece um pouco com uma bola de rugby feia ou a uma obra de
arte moderna", mas ironizou que alguns cientistas "teriam trocado os
seus próprios filhos por esta imagem".
A Radiação Cósmica de Fundo
em Microondas apresenta ínfimas flutuações de temperatura que
correspondem a regiões de densidade ligeiramente diferentes e contêm em
si o germe de todas as estrelas e galáxias que conhecemos hoje.
Mas,
para conseguir medir estas ínfimas flutuações em todo o céu, com uma
resolução e sensibilidade maiores do que nunca, e eliminar todos os
sinais parasitas emitidos pela Via Láctea e as outras galáxias, o
instrumento de alta precisão do Planck teve de ser arrefecido a uma
décima de grau acima do zero absoluto.
Uma proeza tecnológica "sem
equivalente" e que "nenhum engenho espacial poderá ultrapassar durante
muito tempo", disse Jean-Jacques Dordain.
 |
A anterior imagem da primeira luz do universo havia sido feita pelo satélite WMAP, da NASA, em 2004 |