terça-feira, 24 de junho de 2014

Cientistas dizem que elevador espacial é possível e deve substituir foguetões


A ideia não é nova, mas é cada vez mais levada a sério pelos cientistas. Para a Academia Internacional de Astronáutica, a construção de um elevador espacial é não só possível como vai fazer parecer os foguetões lançadores como coisas do passado.

É a conclusão de um impressionante e detalhado relatório de 300 páginas publicado em Fevereiro de 2014 por aquele organismo, que se propôs analisar as possibilidades técnicas, tecnológicas, orçamentais e até a viabilidade comercial de um tal projecto.

À primeira vista, um elevador espacial parece ser coisa de um romance de ficção científica, mas os cientistas afirmam que não, e que é algo perfeitamente possível e até uma melhor solução do que através de foguetões.

Foguetões são demasiado caros e obrigaram "nações espaciais" a cortar nas despesas

Lançar foguetões para o espaço é não só muito dispendioso (os lançamentos do Space Shuttle custavam cerca de 500 milhões de dólares) como a maior parte do lançador - 80% - é dedicado aos depósitos para o combustível, 14% para o resto da estrutura, e apenas 6% para a carga útil, incluindo a tripulação.

Além disso, os foguetões poluem, gastam muito em combustível e destinam-se a ser largados para ser destruídos na atmosfera, rico em desperdício e gastos.

A vantagem do elevador espacial é que um veiculo (eléctrico, robótico e/ou em piloto automático) poderá correr um cabo desde a base ao topo de uma torre situada no espaço, sem restrições de tamanho ou peso para a carga útil, com gastos de energia e um orçamento muito mais baixos.

Outra das vantagens deste tipo de transporte é que vai ser possível enviar uma tripulação muito maior do que nos foguetões convencionais até à órbita da Terra.

Esta invenção vai poder até relançar a corrida ao espaço, que tem sofrido dos cortes orçamentais em muitas das "nações espaciais", pode ler-se no relatório.

África sem fios graças a um elevador espacial-central de energia solar

O elevador espacial poderia funcionar à base de energia solar, captada no topo da torre, com uma exposição priviligiada e prolongada aos raios solares. E poderia até fornecer energia solar para a Terra.

No relatório, os cientistas aventam até a hipótese de o elevador fornecer África, ou as zonas rurais de países como a Índia ou a China, em electricidade à base de energia solar, poupando essas regiões de queimar combustíveis fósseis e poluentes e evitando-lhes o emaranhado de fios e postos eléctricos que desfiguraram os países ditos civilizados no século XX.

O relatório sugere até que a evacuação de lixo nuclear para a órbita solar se possa fazer através desse tipo de elevadores (no plural).

O elevador deverá ser construído no equador da Terra e elevar-se até a uma altura de 35 km (órbita geoestacionária) ou 99 km. No topo deverá ser construído um contra-peso geoestacionário (uma torre) que fará com que o cabo fique estabilizado sempre no mesmo ponto acima do Equador enquanto o planeta gira.

A ideia: De Tsiolkovsky a Arthur C. Clarke


O primeiro a ter a ideia foi o cientistas russo Konstantin Tsiolkovsky em 1895, inspirado pela edificação recente da Torre Eiffel, na Exposição Universal de Paris.

Tsiolkovsky considerou que uma torre similar poderia ser construída até à órbita geoestacionária da Terra, a 35 km de altura. Em 1959, um outro russo, Yuri N. Artsutanov voltou a pegar na ideia e sugeriu um cabo em vez de uma torre. A ideia viria a ser ridicularizada na revista americana New Scientist, em 1964. Mas menos de dois anos depois, foi a vez de quatro engenheiros americanos - Isaacs, Vine, Bradner e Bachus -, reinventarem o conceito, a que deram o nome de "Sky-Hook," projecto divulgado na revista "Science". Em 1975, Jerome Pearson sugeriu que o cabo deveria estender-se até à altitude de 144 km (a meio caminho da Lua) por forma a que o veículo que subisse e descesse o cabo deixasse de sofrer da força de atracção terrestre.

Mas quem realmente popularizou a ideia junto do grande público foi o romancista Arthur C. Clarke no seu romance "The Fountains of Paradise", em 1979. Uma ideia que, na altura, ninguém levou a sério. Quase 25 anos depois, em 2003, Clarke [que morreu em 2008] terá declarado: "Quando pararem de rir da ideia, levará apenas dez anos até construirem o elevador espacial... e já pararam de rir"

Nasa pensa no projecto desde o ano 2000

O primeiro relatório da Nasa sobre a possibilidade de construir um elevador espacial saiu em Agosto de 2000 e avançava que os progressos tecnológicos feitos na área da nanotecnologia eram promissores e poderiam ser utilizados nesta estrutura.

Na última década e meia, tanto a Nasa como a ESA tèm lançado vários concursos para apurar os melhores projectos de elevadores espaciais.

O relatório 2014 da Academia Internacional de Astronáutica preconiza que o elevador seja construído com nano-tubos em carbono, boron ou mesmo em nitrito por forma a que o material de construção seja super-resistente, ultra-leve e muito flexível, por forma a poder aguentar um cabo de 99 km de comprimento em contacto com uma estrutura em posição geoestacionária.

O relatório salienta que um material nano-tecnológico conveniente à construção do elevador espacial pode estar pronto no fim desta década.

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