quinta-feira, 19 de março de 2015

Alexei Leonov foi o primeiro homem a flutuar no espaço há 50 anos

Alexei Leonov fez a primeira saída no espaço em 18 de Março de 1965 Foto: CCCP
O russo Alexei Leonov foi o primeiro homem a flutuar no espaço em 18 de Março de 1965, uma sensação que o cosmonauta descreveria como "nadar no espaço como um marinheiro no oceano".

Alexei Leonov deve ao seu talento para a pintura ter sido o primeiro homem a sair no espaço, e 50 anos depois, o cosmonauta descreve com a mesma precisão o momento em que flutuou "no escuro profundo", com estrelas "em todas as partes" e "um Sol ofuscante".

Hoje, aos 80 anos de idade, continua dinâmico, sorridente e recebe convidados no seu escritório em Moscovo, pronto para percorrer as imagens da primeira saída espacial, que lhe valeu o título de "primeiro peão do espaço", termo impróprio, uma vez que se flutua mais do que se anda no espaço.

Alexei Leonov tem a sua versão, mais lírica. Tratava-se, de acordo com o objectivo estabelecido por Sergei Korolev, o lendário pai do programa espacial soviético, de "nadar no espaço como um marinheiro no oceano".

O treino de Leonov começou em 1962, um ano após o primeiro voo espacial de Yuri Gagarine, em 12 de Abril de 1961. Nessa época, a União Soviética e os Estados Unidos competiam para a conquista do espaço, e os soviéticos tinham conquistado uma importante vantagem com Gagarine e esperavam mantê-la.

"Korolev escolheu-me porque eu tinha pilotado várias aeronaves, tinha boas notas e pintava quadros, o que era raro entre os cosmonautas", diz a sorrir aquele que ainda não tinha nem 30 anos quando flutuou no espaço.

Depois de 18 meses de treino intensivo, o cosmonauta estava pronto, mas a nave Voskhod-2, pilotada por Pavel Belyayev, ainda precisava de muitos acertos.

"O foguetão não tinha sistema de ejecção", conta, acrescentando que quando recebeu a notícia não entrou em pânico. "Ou esperávamos nove meses para o seu redesenvolvimento, ou utilizávamos o sistema tal como estava. Escolhemos a segunda opção", recorda. O programa espacial soviético corria o risco de ser ultrapassado pela Nasa. "Não se tratava de coragem. Nós só sabíamos que tinha que ser feito", diz ele.

Hoje, Alexei Leonov tem 80 anos Foto: AFP
Em 18 de Março de 1965, dez semanas antes dos astronautas americanos, a tripulação de Belyayev e Leonov (Almaz-1 e Almaz-2) entrava em órbita a 498 km de altitude, cerca de 180 km mais elevado do que o esperado.

Uma hora e meia após o lançamento em órbita, Leonov entrava na câmara do Voskhod, enquanto Belyayev fechava a escotilha interna atrás de si.

Depois da despressurização, Leonov conta que abriu a escotilha exterior e descobriu o espaço, "um escuro profundo, com estrelas em todas as partes e um Sol que brilhava de forma ofuscante".

"Sai delicadamente e, por fim, desliguei-me da nave", conta o astronauta. "Eu filmei a Terra, perfeitamente redonda, o Cáucaso, a Crimeia, o Volga. Era bonito, como pinturas de Rockwell Kent", o pintor americano conhecido pelas suas linhas limpas e cores suaves. Mais tarde, Leonov desenhou esboços no diário de bordo da nave.

"Tinha sempre em mente as palavras de Lenin: o universo não tem limites, nem tempo ou espaço", admite o astronauta. Os minutos passam. No capacete, Leonov recorda que ouviu o comandante fazer seu relatório para a Terra "Aqui Almaz-1.: O homem saiu para o espaço".

Em seguida, ouviu a voz de Yuri Levitan, famoso apresentador de programa de rádio soviético, que pronunciava a mesma frase. O regresso à nave foi complicado. O fato espacial alargou e ele não conseguia entrar na nave. Sem esperar pela luz verde do centro de controlo, decidiu diminuir a pressão no fato e conseguiu entrar, começando pela cabeça. Durante a sua saída, o cosmonauta perdeu 6 kg.

Para o regresso, a tripulação constatou que o sistema de aterragem automática não estava a funcionar e tiveram que regressar à Terra em modo manual. Acabariam por aterrar nos Urais, a 2.000 km do local previsto no Cazaquistão.

"Esperámos três dias na floresta antes de sermos repatriados, e a rádio soviética garantia que estávamos de férias após o voo", ri agora Leonov. As equipas de resgate reuniram neve num enorme caldeirão e foi aí que tomaram o primeiro banho quente. Depois, tiveram que esquiar durante 9km até ao ponto onde estava um helicóptero.

Em 1968, o director britânico Stanley Kubrick incluiu a gravação do seu batimento cardíaco no espaço para o seu filme "2001, Uma Odisseia no Espaço".

Em 1975, Leonov foi o comandante da tripulação da Soyuz 19 e participou no nascimento da cooperação espacial entre os Estados Unidos e a União Soviética, antes do fim da Guerra Fria.

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